Livros
Kaá Wásu
Claudia Baré, Kellen Natalice Vilharva e Maria Alice Paulino Karapãna (textos)
João Victor de Oliveira Murer, Larissa de Souza Bellini, Leo R. Arantes Lazzerini, Natan Rafael Neves da Silva, Susana Oliveira Dias e Thayany Mendes Amazonense (Org.)


SOBRE O LIVRO
Káa Wasú, floresta na língua nheengatu, é um livro que nasce do chamado a darmos atenção aos modos de existir das plantas entrelaçadas à vida dos povos indígenas. Cada uma das indígenas convidadas para compor este livro – Ana Claudia Martins (Baré), Maria Alice Paulino (Karapãna) e Kellen Natalice Vilharva (Guarani Kaiowá) – escolheu uma planta significativa para seus povos e teceu relatos de suas histórias de vida. Claudia escolheu a copaíba, Maria Alice o tucumã e Kellen o cedro-rosa. Essas plantas foram ativadoras de conversas que realizamos online, durante a residência artística “Perceber-fazer floresta I”, e que foram transcritas para serem apresentadas aqui. A primeira versão do livro aconteceu como um objeto escultórico, um livro-objeto, em que o corpo de cada planta foi feito de uma dobradura de papel, que saía do chão até o teto, e era composto por diferentes trançados que mesclavam fotografias e grafismos desses povos. Nesta versão digital do livro, apresentamos imagens desse livro-objeto, intercaladas com as falas transcritas e as fotografias e grafismos escolhidos por Claudia, Maria Alice e Kellen.
No capítulo de Claudia Baré, de Manaus – AM, ela nos conta sua história de vida e como ocorreu seu processo de reafirmação e reidentificação como mulher indígena. Claudia traz a importância da educação e moradia para os povos indígenas e a forma como trilhou sua trajetória na pedagogia e alfabetização bilíngue (em português e nheengatu), que deu início em 2015 na sua comunidade. Um trabalho com crianças e jovens de mais de trinta etnias num espaço cultural educacional que ela construiu, chamado “Espaço Cultural Indígena Uka Mbuesara Wakenai Anumarehit”, onde acontecem atividades culturais coletivas que enfatizam a importância do respeito no processo de aprendizado multilinguístico. No entrelaçamento com as árvores e seu povo, Claudia narra, ainda, sobre a importância medicinal da copaíba e sua preocupante exploração atual pela indústria farmacêutica.
Já o capítulo de Maria Alice Paulino apresenta um texto transcrito de uma conversa entre Kellen e Maria Alice. Num relato muito enriquecedor, Maria Alice nos convida a conhecermos melhor sua trajetória, um pouco da história do seu povo e dos seus pais. Uma história de resistência, perseverança, marcada por desafios de ser e de se identificar como indígena. Além disso, a conversa continua com uma instigante história sobre todo o processo de revitalização e fortalecimento da cultura indígena de sua etnia por meio do trabalho pedagógico realizado com o Museu. Maria conta, também, sobre a palmeira que escolheu para este livro: o tucumã. Ela relata os diversos usos sustentáveis do tucumã e sua imensa importância para a sobrevivência de seu povo. Por fim, ela nos apresenta os desafios encontrados durante sua vivência acadêmica no curso de teatro pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam).
Em outro capítulo conhecemos Kellen Natalice Vilharva, mulher indígena da etnia Guarani Kaiowá e, atualmente, doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Clínica Médica da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Kellen atua na linha de pesquisa sobre plantas medicinais, pesquisando o cedro-rosa, e articula em suas investigações a ciência acadêmica e os saberes tradicionais. A conversa aqui é mais do que um relato individual, é um chamado para o universo cosmológico, espiritual e cultural dos Guarani Kaiowá, reconhecendo a profundidade de sua relação com a natureza, com a coletividade e com a espiritualidade. Ao compartilhar experiências sobre o “perceber-fazer floresta”, Kellen apresenta reflexões sobre o tekoha (território), as divindades, os rituais, os alimentos, os remédios tradicionais e o modo de ser indígena. Um ponto marcante de sua fala parte da conexão com a noção de “perceber-fazer floresta”: não se trata apenas de “preservar” a natureza, mas de reconhecê-la como um espaço vivo, habitado por donos, forças e espíritos. Isso nos inspira a repensar a relação com o meio ambiente não em termos de exploração ou uso, mas em termos de respeito, reciprocidade e equilíbrio. Kellen fala, também, sobre a capitalização de saberes indígenas, presença dos conhecimentos ancestrais no espaço acadêmico em suas falas, reforçando que as ciências indígenas não podem ser fragmentadas nem reduzidas a dados laboratoriais: elas são vivências, histórias e práticas enraizadas no tempo, no território e no coletivo. Assim, esta conversa é uma oportunidade de escuta e aprendizado, um registro que celebra a força das tradições Guarani Kaiowá e o protagonismo de Kellen Natalice na construção de pontes entre mundos.
Por fim, no último capítulo, o livro traz desenhos de artistas convidados que se inspiraram nas fotografias, grafismos e dobraduras apresentados no livro, dos povos Baré, Karapãna e Guarani Kaiowá, para criar com as plantas copaíba, tucumã e cedro-rosa.
do prefácio de João Victor de Oliveira Murer, Larissa de Souza Bellini, Leo R. Arantes Lazzerini, Natan Rafael Neves da Silva, Susana Oliveira Dias e Thayany Mendes Amazonense
Organização | João Victor de Oliveira Murer, Larissa de Souza Bellini, Leo R. Arantes Lazzerini, Natan Rafael Neves da Silva, Susana Oliveira Dias e Thayany Mendes Amazonense
Autores de textos | Claudia Baré, Kellen Natalice Vilharva e Maria Alice Paulino Karapãna
Desenhos | Emanuely Miranda, Gabriel D. Gruber, Glauco Roberto Silva, Larissa de Souza Bellini, Muriel Scarnichia, Natan Rafael Neves da Silva, Rayane Barbosa Kaingang, Susana Oliveira Dias, Thayany Mendes Amazonense, Valéria Scornaienchi e ZayMPereira
Projetos | A revista ClimaCom e o exercício coletivo de criar alianças entre diferentes práticas e perspectivas (BAS – SAE-Unicamp – 2025-2027); Mesas de trabalho como modos de habitar a comunicação diante das catástrofes (BAEF – SAE – Unicamp-2025-2027))
