Livros

 

Rayane Barbosa, Leo Arantes Lazzerini, Natan Rafael Neves da Silva, Larissa de Souza Bellini, Paulinha Luiz Pinto e Susana Oliveira Dias (orgs.)


 

 

 


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SOBRE O LIVRO

Este livro germina e prolifera a partir da exposição “Ancestralidades mais que humanas”, que o Coletivo Arvorecer de Casa em Casa organizou no Centro Cultural Casarão, em Campinas, São Paulo, em junho de 2022. A exposição experimentava pensar que não estamos sós, que há algo de rio, mar, bicho, rocha, cuia, banco, cesto, grafismo, vegetal… em nós. Uma perspectiva que mobiliza inúmeros povos indígenas, para os quais plantas, montanhas, animais, rios, mares, nuvens, coisas… vivem em íntima conexão com os humanos. Reclamam, assim, a percepção de que os não humanos são parentes dos humanos e não meros recursos naturais. Aprendemos, na época da exposição, lendo Ailton Krenak (2019), que o rio Watu, também chamado de Rio Doce, é considerado avô do povo Krenak. Esse líder indígena e filósofo ressalta, em seu livro Ideias para adiar o fim do mundo, a potência desses parentescos com os mais que humanos florescerem “pessoas coletivas”. Um modo de existir comprometido com a defesa e proteção de seus parentes. E, como lembra a filósofa e zoóloga Donna Haraway, fazer parentes é o que nos falta. Isso porque, ao fazer parentes, instauram-se possibilidades de pensarmos e vivermos as relações com os não humanos em bases não antropocêntricas e utilitaristas. Despertando forças compreendidas em um “nós” mais complexo, feito de miríades de emaranhamentos múltiplos entre átomos, palavras e afetos, entre moléculas, histórias e acontecimentos, que dizem respeito não apenas aos humanos. E isso é fundamental se pensarmos que vivemos em um mundo danificado, que habitamos um tempo marcado por destruições de todos tipos, em que não podemos mais negar as mudanças climáticas, e que resulta do esquecimento de que somos uma multidão de enredamentos vivos e vibrantes com muitos, que precisam ser cuidados. Vivemos em um tempo que exige de nós sairmos da percepção de hábito que torna alguns viventes meros objetos à nossa disposição, uma visão que tem gerado a extinção em massa de povos e espécies. Estes tempos impõem a urgência de nos interessarmos efetivamente pelo mundo e nos solidarizarmos para além das oposições entre vivo e não vivo, orgânico e inorgânico, sujeito e objeto, teoria e prática, razão e emoção, matéria e espírito. Trata-se de uma época que reclama aprendermos a nos engajar com a multiplicidade movente dos mundos através da criação e mobilização de novos conjuntos ontoepistemológicos, ou seja, de novos modos de ser e pensar. Nesse sentido, para intensificar o pensamento em torno a esses parentescos e modos de existir enredados, ainda dentro da exposição “Ancestralidades mais que humanas”, iniciamos conversas com pessoas de diferentes povos – Ticuna, Tukano, Terena e Kaingang – que estão estudando na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e que entraram na universidade através do Programa de Cotas para pessoas negras e indígenas. Também conversamos com parentes desses estudantes. As conversas foram gravadas, transcritas e depois editadas junto com essas pessoas. Com essas conversas aprendemos como a história dos Terena está intimamente conectada às emas e as formigas, os Kaingang aos beija-flores e às plantas, os Ticuna aos peixes e grafismos e os Tukano à cobra canoa, ao banco Tukano e às preguiças. Além disso, os convidados nos fizeram pensar nas relações entre esses parentescos e o impacto da colonização sobre a história e cultura dos seus povos, destacando o papel e a importância das diversas línguas, da escola e da educação indígenas para defesa e manutenção das conexões desses povos com os territórios e a Terra. Durante ou após as conversas fizemos uma série de desenhos que se relacionavam às histórias contadas. O livro reúne essas histórias e os desenhos e cria articulações inéditas com obras de artistas do Coletivo Arvorecer, que foram selecionadas por dialogarem com a proposta. A ideia é que, juntos, esses materiais e práticas possam contribuir para fazer floresta, ou seja, para alterar nossos modos de ver, sentir e viver, aumentar nossa confiança em um futuro vivo e ampliar nossa capacidade de agir.

do prefácio de Rayane Barbosa, Leo Arantes Lazzerini, Natan Rafael Neves da Silva,

Larissa de Souza Bellini, Paulinha Luiz Pinto e Susana Oliveira Dias


Organização | Rayane Barbosa, Leo Arantes Lazzerini, Natan Rafael neves da Silva, Larissa de Souza Bellini, Paulinha Luiz Pinto e Susana Oliveira Dias

Autores de textos | Dayana Silvério Machado, Lucas Ticuna, Rosimeire Barbosa, Rayane Barbosa e Vera Tukano

Desenhos | Rayane Barbosa, Dayana Silvério Machado, Larissa de Souza Bellini, Lucas Tikuna, Vera Tukano, Paulinha Luiz Pinto e Susana Dias

Artistas convidados | Isilda Oliveira, Mariana Vilela, Mário Martins, Silvana Sarti e Valéria Scornaienchi

Projetos | Novas sensibilidades diante das catástrofes socioambientais: criação de materiais de divulgação científica e cultural (SAE-Unicamp – 2021-2023); Revista ClimaCom – artes, ciências e comunicações diante do Antropoceno (SAE-Unicamp-2023-2025); Perceber-fazer floresta: alianças entre artes, ciências e comunicações diante do Antropoceno (Fapesp 2022/05981-9)



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