Legado dos povos indígenas na Amazônia: até doze mil anos da produção eficaz de biodiversidade cultural e agrobiológica | Maria da Glória Feitosa Freitas

É preciso reconhecer as ricas heranças deixadas pelos povos indígenas da Amazônia para a vida dos não-indígenas. E isso passa por um processo de descolonização epistêmica, pela criação de novas histórias com respaldo nas pesquisas atuais e pelo combate às narrativas racistas que foram disseminadas sobre esses povos. 

Por Maria da Glória Feitosa Freitas [1]

 

Os povos antigos da Amazônia e ancestrais de muitos brasileiros foram capazes de manejar habilmente a terra da Amazônia. Em decorrência dessa ação relevante foi se produzindo uma terra preta e muito fértil, com os lixos orgânicos de diversos povos indígenas, sejam os restos alimentares, e até pedaços de carvões e restos de cerâmica. Essa foi a ação intensa destes povos, que moravam na Amazônia e produziram a fertilidade visível até hoje (Camargo, 2015). 

Não foi pouco trabalho! E isso demole a ideia que se aprende cedo, que se escuta repetidas vezes no cotidiano brasileiro, e sem nenhuma reflexão antirracista: a de que os indígenas seriam preguiçosos por terem já caça, pesca e vegetais ao alcance das mãos. Além dessa ideia, também se repetem asneiras irreais de canibalismo inexistente. Assim se passou uma impressão errônea de que os povos indígenas seriam acomodados pescadores, caçadores e coletores de frutas. Falas racistas!

Quando a Amazônia arde em chamas, o que se vê é uma estranha chuva de cinzas. Isso deve chegar como conhecimento e como reflexão aos não-indígenas. O legado ancestral ao futuro dos descendentes deles (lá na Amazônia antiga e pré-colonial) foi capaz de deixar este legado que é esta fértil terra preta (alguns chamam de terra preta de índio), e que foi encontrada, por alguns pesquisadores e pesquisas ao longo de diversos rios amazônicos com os rios Tapajós (nasce no Mato Grosso, passa pelo estado do Pará e vai desaguar no rio Amazonas, em Santarém/PA), Negro (maior afluente na margem esquerda do rio Amazonas, sendo o 7.º maior rio do mundo em volume de água), Madeira (rio afluente da bacia do rio Amazonas, entre os estados de Rondônia e do Amazonas, com extensão aproximada de 3315 km) e Amazonas (maior em vazão de água do mundo, com 6992 Km, sendo o segundo maior em extensão, perdendo para o Rio Nilo), datando a presença antiga de etnias em toda a região. 

 

(Leia a coluna assinada completa em pdf)

 

[1] Pesquisadora Colaboradora no Labjor-Unicamp, Doutora em Educação Brasileira pela Universidade Federal do Ceará (UFC), membro da Casa dos Atoris de Obàtálá e Yemòó. Email: gloriafreitas@alumni.usp.br