Mauro Tanaka | Instrumentos musicais alternativos: provocando outras ecologias
Título: Mauro Tanaka | Instrumentos musicais alternativos: provocando outras ecologias
Esta proposta parte da seguinte questão: Pode a construção de instrumentos musicais provocar outras ecologias? Tal indagação busca em Felix Guattari (2001) o conceito de ecologia relacional para provocar, a partir dos objetos do cotidiano, a produção de novas subjetividades que possam dar vazão a processos criativos com objetos sonoros. Tal processo caracteriza-se por sua multidimensionalidade. Uma primeira característica deste processo é a de quebrar um paradigma político-social do consumo no qual se privilegia a ideia de que só é possível produzir música a partir de instrumentos já prontos, e de que quanto mais caro, mais musical, desfocando a música vinda do ser humano e transferindo-a a objetos de pouco acesso. Outra esfera de discussão relaciona-se às questões educativo-ambientais, tanto pela proposta de reuso de materiais, quanto pela retomada do fazer musical e a produção de objetos a partir do que encontramos na “natureza”. Os instrumentos musicais historicamente foram descobertos a partir do que o homem encontrava ao seu redor, como galhos, ossos, peles de animais, cascos, pedras, etc. através da exploração sonora desses objetos. Com a evolução das tecnologias, chegamos aos instrumentos musicais já consagrados. Na atualidade, os recursos naturais estão cada vez mais escassos e a produção de lixo é cada vez maior, mas as pessoas se deparam, nos centros urbanos, com outros materiais na “natureza”. Torna-se necessário despertar a curiosidade a respeito da exploração das possibilidades sonoras desses novos objetos com os quais tropeçamos nas ruas diariamente. Que sons podem ser extraídos das garrafas PET, dos tubos de PVC, das sacolas plásticas, etc.? Um importante conceito colocado no livro de Andrés Ribeiro (2004) com o título: Uakti: Um Estudo Sobre a Construção de Novos Instrumentos Musicais Acústicos, resume bem os caminhos que guiam este trabalho: Os instrumentos já consagrados e estabelecidos dão voz à música que já existe, são ótimos para reproduzirmos a música dos também já consagrados compositores. Porém, se quisermos dar asas à criação de uma música nova, precisamos inicialmente repensar os instrumentos musicais que darão vazão a essa nova música. Reunindo as contribuições da construção dos instrumentos musicais a partir dos objetos do cotidiano citadas anteriormente com a frequente “desculpa” dada pelas instituições públicas de ensino básico de que não há recursos para a aquisição de instrumentos musicais deixando de explorar questões importantíssimas no desenvolvimento global do indivíduo, como a escuta sensível, a curiosidade, a exploração do ambiente, as questões estético-artísticas tanto musicais quanto plásticas, este trabalho considera de suma importância uma aproximação maior da cultura musical com a “cultura escolar” pela possibilidade de exploração sonora dos objetos, o que pode ser compartilhado com outras disciplinas além das artes.
FICHA TÉCNICA
Concepção da oficina | Mauro Tanaka, compositor, mestrando do Instituto de Artes da Unesp São Paulo e coordenador do Núcleo de Estudos sobre Novas Metodologias de Pesquisa em Artes.
Participantes | Gláucia Perez, Carolina Avilez, Rafael Ghiraldeli, Luciana de Souza, Jaqueline Medeiros, Marília Costa, Mariana Vilela e Gabriela Rodrigues, Susana Dias, Alice Dalmaso, Sara Melo, Rodrigo reis Rodrigues, Maria Cortez Salviani.
Fotos e vídeos | Alice Dalmaso, Carolina Avilez, Luciana de Souza, Maria Cortez Salviani, Rafael Ghiraldeli e Susana Dias.
Lugar | Praça da Paz Unicamp
Data | 21 de agosto de 2019
Esta atividade fez parte da proposta da disciplina “Arte, ciência e tecnologia” – MDCC-Labjor-IEL-Unicamp segundo semestre de 2019 no Encontro 1 – “Devir criança-animal-elemental-traidor”, dentro da série de encontros “Ecologias de Devires: do chamado a fazer-perceber floresta” organizado pelo Grupo multiTÃO: prolifer-artes sub-vertendo ciências, educações e comunicações.
Disciplina: JC012 Arte, ciência e tecnologia
Professora – Dra. Susana Dias
Esta série de encontros está sendo proposta no âmbito da disciplina “Arte, ciência e tecnologia” onde o problema que nos interessa pensar é o de entrar em comunicação com um mundo todo vivo, com uma matéria viva, ativa e criativa (DELEUZE & GUATTARI, 1997; STENGERS, 2017; EZCURDIA, 2016; DADA & FREITAS, 2018). Seguiremos neste semestre com a ideia de pensar o que pode ser comunicar em parceria com a floresta, propondo encontros com diversos lugares, materiais e práticas para que possamos aprender com diferentes ofícios a como ganhar intimidade com as florestas. Uma das questões que a floresta suscita de interessante para pensar é o fato de reunir uma diversidade de seres-coisas-forças-mundos e propiciar condições para encontros, com a possibilidade de gerar co-evoluções, co-criações. Nessas co-evoluções-criações estão sempre envolvidas ecologias de devires (negro, índio, animal, vegetal, criança, fungo, máquina, pedra, animal, linha, luz, elemental, cósmico…), a chance de que sejamos afetados e afetemos, de que nos engajemos em movimentos de alegre imbricação recíproca com as minorias, com os não-humanos, com tudo o que pode potencializar o pensamento e a relação com a Terra. Nesse sentido os encontros foram pensados em blocos de devires e neste primeiro encontro teremos o “Devir-criança-animal-elemental-traidor”. Os encontros, e os exercícios de composição sensível entre heterogêneos que serão feitos depois, buscam dar vigor ao chamado de pensar a comunicação como um perceber-fazer-floresta. Uma fé na “instauração” (SOURIAU, 2017; LAPOUJADE, 2017) de toda uma sensibilidade de outra natureza, que permita criar um campo problemático potente para lidar com as dualidades sujeito-objeto, realidade-ficção, humanos-não-humano, matéria-espírito. Uma atenção ao gestos que mobilizam uma “lucidez alegre” (STENGERS, 2017) e que não nos relegam à impotência, afirmando uma vitalidade e confiança no presente e futuro diante destes tempos desafiadores (DANOWSKI & VIVEIROS DE CASTRO, 2014; STENGERS, 2015; LATOUR, 2019).
Bibliografia
DADA, Faseyi Awogbemi; FREITAS, Glória. Dialogando com a semente de obi ou a floresta: um convite para conhecer um pouco da nossa tradição religiosa e cultura Yoruba. ClimaCom – Diálogos do Antropoceno [online], Campinas, ano. 5, n. 12. Ago. 2018 . Available from: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/?p=9478
DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia, vol. 4. Trad. de Suely Rolnik. São Paulo: Ed. 34, 1997, pp. 11-113. (Coleção TRANS).
EZCURDIA, José. Cuerpo, intuición y diferencia em el pensamento de Gilles Deleuze. Ciudad de México: Editorial Ítaca, 2016.
DANOWSKI, Débora; CASTRO, Eduardo Viveiros de. Há mundo por vir? Ensaio sobre os medos e os fins. Desterro [Florianópolis]: Cultura e Barbárie: Instituto Socioambiental, 2014.
LAPOUJADE, David. As existências mínimas. São Paulo: n-1, pp. 43-59, 2017.
LATOUR, Bruno. Bruno Latour: “O sentimento de perder o mundo, agora, é coletivo”. [Entrevista concedida a] Marcs Basset. El País, 31 de março de 2019. Disponível em: https://brasil.elpais.com/…/internac…/1553888812_652680.html Acesso em: mar. 2019.
SOURIAU, Étienne. Los diferentes modos de existencia/ Étienne Souriau: prefácio de Bruno Latour; Isabelle Stengers. Trad. Sebastian Puente. 1a. ed.. volumen combinado. Ciudad Autónoma de Buenos Aires: Cactus, 2017.
STENGERS, Isabelle. No tempo das catástrofes: resistir à barbárie que se aproxima. Trad. Eloisa Araújo Ribeiro. São Paulo: Cosac Naif, 2015, pp. 91-99.
STENGERS, Isabelle. Reativar o animismo. Trad. Jamile Pinheiro Dias. Belo Horizonte: Chão de Feira. (Caderno de Leituras No. 62). 2017. Disponível em: https://chaodafeira.com/…/2017/05/caderno-62-reativar-ok.pdf Acesso em ago. de 2019.
Projetos:
– Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas (INCT-MC) – (Chamada MCTI/CNPq/Capes/FAPs nº 16/2014/Processo Fapesp: 2014/50848-9)
– “Por uma nova ecologia das emissões e disseminações: como a comunicação pode modular a mais intensa potência de existir do humano diante das mudanças climáticas?” (CNPq).
– Revista ClimaCom: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/
TANAKA, Mauro. Instrumentos musicais alternativos: provocando outras ecologias – A Linguagem da Contingência [online], Campinas, ano. 6, n. 15. Ago. 2019 . Available from: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/instrumentos-m…tras-ecologias
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SEÇÃO ARTE | A LINGUAGEM DA CONTINGÊNCIA | Ano 6, n. 15, 2019
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