Infiltração | Guilherme de Azeredo

Título | Infiltração

Uma infiltração surge na sua parede. Se alastra pelo cômodo.
Começa no seu quarto e num piscar de olhos toma conta de seu banheiro.
Você fuma. Fuma mais um pouco. Olha a parede.
Nela, vê um fio serpenteante de água escorrendo verticalmente.
Fudeu!

O mundo invade sua casa. Você não o quer ali.
Afinal, quem gostaria de uma parede manchada?
Seu armário mofa.
Os esporos pretos dos fungos se alastram por suas camisas brancas.
Tudo culpa da maldita água.

A água bate no concreto.
Perfura. Penetra. Introduz o líquido por entre os interstícios. Avança sobre as rachaduras.
A água infiltra e deixa mais poroso o concreto. Maiores são as cavidades.
A tinta amolece. Faz brotar o mundo no mais íntimo dos símbolos da cultura.
O mundo ocupa o vazio de uma casa.

Com lentes macro, esta série fotográfica é parte de um estudo teórico, estético e material (em andamento) sobre ambientes em ruínas. Inspirado no mural Infiltração (2020) do artista Henrique César, na série de fotografias The Totemic Sequence (1974) de Minor White e na estética das imagens microscópicas de materiais, aplicadas no campo da química inorgânica, busco algumas projeções do mundo em uma parede. Se por vezes estranhas, monstruosas e indesejadas, argumento que a implicação dessas existências na vida íntima convoca outros modos de relação com a matéria em transformação.

O mundo invade. Infiltra.
Quer você queira.
Quer não.


| FICHA TÉCNICA |

AUTOR | Guilherme de Azeredo

TÉCNICA/MATERIA | Fotografia digital com lente macro

ANO DE PRODUÇÃO | 2025

PAÍS | Brasil


AZEREDO, Guilherme de. Infiltração. ClimaCom – Manifesto das águas. [online], Campinas, ano 12, n. 28 jun. 2025. Available from: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/infiltracao/

SEÇÃO ARTE | MANIFESTO DAS ÁGUAS | Ano 12, n. 28, 2025

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