Hidrocartografia – modos de cartografar com as águas[1] | Cristina T. Ribas e Paul Schweizer (kollektiv orangotango)
Cristina T. Ribas[2]
Paul Schweizer (kollektiv orangotango)[3]
“Nada no mundo
é tão macio, tão frágil, como a água;
nada mais pode desgastar
o duro, o forte,
e permanecer inalterado.
O suave supera o rígido,
O fraco supera o forte.
Todo mundo sabe,
mas ninguém faz uso.”
(Lao Tzu, 1998, p. 78)[4]
Desde 2020, em conversas públicas e oficinas de cartografia crítica (Schweizer & Barbosa, 2022) que realizamos em algumas escolas de arte, arquitetura e design, viemos discutindo e partilhando práticas de produção cartográfica aguçando a percepção do que aprendemos com a autora Astrida Neimanis (2012) como “corpos de água”[5]. Incitados a entender nossa prática como cartógrafos críticos e experimentais – entre as artes visuais e a geografia -, começamos a conceber o que seria um “mapeamento com as águas”. Isto acontece acompanhado pelo diálogo em múltiplas escalas e, naquele momento, com as relações de interdependência intensificadas pela realidade pandêmica em diferentes formas e tensionamentos. Foi exatamente nesse contexto do estado de urgência compartilhado globalmente que sentimos uma particular proeminência nas palavras de Neimanis:
A água não só nos conecta, nos gesta, nos sustenta — mais do que isso, a
água perturba as próprias categorias que fundamentam os domínios do
pensamento social, político, filosófico e ambiental, bem como os da teoria e
prática feministas.” (Neimanis, 2012, p. 111) [6]
(Leia o ensaio completo em PDF)
[1] Este artigo é uma versão aumentada do artigo “Hydrocartography: mapping with waters” publicado em C Magazine (Ribas & Schweizer, 2022). O artigo foi adaptado para o formato acadêmico e aqui ampliado com estudos de caso que não foram publicados na primeira versão.
[2] Docente de Artes Visuais, UFSM. Email: cristina.ribas@ufsm.br
[3] Doutorando na Martin-Luther-University Halle-Wittenberg, em co-tutela com a UFRGS. Email: Paul.Schweizer@geo.uni-halle.de
[4] Tradução nossa da versão em inglês “Nothing in the world is as soft, as weak, as water; nothing else can wear away the hard, the strong, and remain unaltered. Soft overcomes hard, weak overcomes strong. Everybody knows it, nobody uses the knowledge.”
[5] A proposta de conhecer o conceito de “hidrofeminismo” veio da colega Laura Pregger do Instituto de Desenho Experimental e Culturas Midiáticas (IXDM), HGK Basel, e resultou na nossa contribuição “Hydrokartographie – Wasserkörper Kartieren” (Schweizer und Ribas 2021) publicado na publicação Nothing happens in isolation.
[6] Tradução nossa.
Hidrocartografia – modos de cartografar com as águas
RESUMO: A percepção das águas a partir da crítica feminista nos leva a pensar recursos de produção cartográfica na experiência interdisciplinar entre artes visuais e geografia. Com a pandemia de Covid-19, uma nova percepção sobre a circulação ressurge: em como as águas fluem e nos conectam à revelia do confinamento, ou sobre o quê podemos controlar. Neste artigo, apresentamos uma reflexão sobre coletividades humanas e mais-que-humanas e a produção da cartografia crítica tendo como momento inicial a realidade global da pandemia de COVID-19 e, em seguida, abordando percepções de anos posteriores. Partilhamos a invenção de uma metodologia ou de um modo de pensar a cartografia que chamamos de “hidrocartografia” a partir de uma ética das águas bem como da percepção de nossos corpos como “corpos de água” (Neimanis, 2013).
PALAVRAS-CHAVE: Hidrocartografia. Águas. Metodologia. Artes visuais. Corpos de água.
On the Disappearance of the Sete Quedas: Situated Stories and Art
ABSTRACT: the perception of waters from a feminist perspective conducted us to think about resources for cartographic production in the interdisciplinary experience between visual arts and geography. With the pandemic, a new perception of circulation has reemerged, in how waters flow and connect us regardless of confinement or what we can control. In this article, we present a reflection on human and more-then-human relations and the production from a critical cartography, taking off from the reality of the COVID-19 pandemic and following up sharing upcoming perceptions. We share the invention of a methodology or a way of thinking about cartography that we call “hydrocartography,” based on an ethics of waters and on the perception of our bodies as “bodies of water” (Neimanis, 2013).
KEYWORDS: Hydrocartography. Waters. Methodology. Visual arts. Bodies of water.
RIBAS, Cristina T. SCHWEIZER (kollektiv orangotango), Paul. Hidrocartografia – modos de cartografar com as águas [online], Campinas, ano 12, n. 28., jun. 2025. Available from: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/hidrocartografia/