Por Gláucia Pérez
Editora Susana Dias
Gilberto Câmara Neto apresentou uma ação de prevenção estabelecida pelo Inpe, conhecida como sistema de detecção de desmatamento em tempo real – Deter, que alerta diariamente o desmatamento de novas áreas no país. Apenas em março de 2021 esse sistema registrou 367 km² de floresta derrubados, e desde 2015 esse é o maior registro realizado pelo sistema. Gilberto, atualmente diretor do secretariado do grupo de observação da terra das Nações Unidas e ex-diretor geral do Inpe, falou sobre a necessidade de uso dos satélites de sensoriamento remoto para levantar os dados em relação ao desmatamento devido a vasta extensão territorial do país. Ele explica que ao utilizar esses satélites os cientistas fazem as seguintes perguntas: Quanto? Onde? Quando? Como acontece o desmatamento? Como estamos usando a floresta? Os dados obtidos e as avaliações dos cientistas são disponibilizados para a sociedade.
Segundo ele, essa “Transparência garante credibilidade e governança”, e garante informação à sociedade do que está acontecendo com a Amazônia. “Se a sociedade brasileira não tivesse acesso as informações que tem com o nível de detalhe fornecido pelos cientistas do Inpe, dificilmente a sociedade brasileira se daria conta da magnitude das ações que estão acontecendo com a Amazônia. E obviamente, quanto melhor a qualidade da informação mais existe possibilidade do gestor público agir”.
Satélite do Inpe – Fonte Inpe
Adalberto Luis Val, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – Inpa, e coordenador sobre adaptações da biota aquática na Amazônia no INCT, falou no evento do compromisso permanente que devemos ter com a Amazônia, e que a medida que ocorrem os desmatamentos e a degradação ambiental na floresta, a biodiversidade da região é destruída causando risco de novas doenças. “Há um conjunto imenso de microrganismos escondidos na floresta que podem, por conta do distúrbio ambiental, saltar para as populações humanas e causar novas epidemias e pandemias”.
O cientista Carlos Nobre, pesquisador sênior do Instituto de Estudos Avançados da USP, professor do programa de pós-graduação do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – Inpe, iniciou sua palestra dizendo que não temos no momento a ciência necessária para salvar a Amazônia, e ressaltou a urgência de se pensar e implementar uma nova bioeconomia que preserve a floresta, sem isso, há o risco de 60 a 70%, do centro, leste e sul da Amazônia se transformar em uma savana tropical degradada e com uma enorme perda de carbono. Esse processo é chamado de savanização da Amazônia ou de “tipping point”, ponto de não retorno. Segundo ele, um modelo de desenvolvimento sem desmatamento, com uma política de conservação dos territórios indígenas e das unidades de conservação, com grande quantidade de restauração florestal, é um novo paradigma de desenvolvimento com a “floresta em pé”, de implementação urgente.
Cenários especulativos – grupo multiTÃO – Fonte: ClimaCom
O pesquisador Paulo Artaxo, atualmente professor titular do departamento de física aplicada da USP, membro da coordenação do programa das mudanças climáticas da Fapesp, e coordenador da subcomponente Impactos nos ecossistemas brasileiros frente às mudanças do uso da terra e à biodiversidade do INCT de mudanças climáticas, também questionou “se o modelo atual de desenvolvimento que estamos seguindo tem futuro para o país como um todo”. Discutiu no evento a importância do papel da Amazônia nas mudanças climáticas globais, considerando que a floresta pode ser parte da solução. A Amazônia e o nordeste brasileiro serão regiões bem mais secas se o desmatamento continuar, e até o final desse século poderá ocorrer um acréscimo na temperatura de 4 a 5ºC em todo o território brasileiro, ressaltou Artaxo. Relacionado a Amazônia também é importante destacar o transporte de vapor d’água para toda a América do Sul; vapor esse produzido no oceano atlântico tropical e processado pela vegetação da floresta. A região central e o sudeste brasileiro, região do agronegócio, precisa da chuva que vem da Amazônia, e por esse motivo qualquer alteração nesses processos que controlam o transporte e processamento do vapor d’água tem impacto muito forte sobre a produtividade agrícola do Brasil. As pesquisas desenvolvidas por Artaxo mostram que a região sudeste da Amazônia está cada vez mais seca, com uma extensão da duração da estação seca maior, e com a quantidade de chuva nessa estação diminuindo. A estação quente favorece as queimadas e secas, e causa ainda impacto sobre o ciclo do carbono. Com o aumento da temperatura global o estoque de carbono nas florestas tropicais tenderá a diminuir. Não podemos esquecer que “a Amazônia é chave para a sustentabilidade do Brasil e do planeta”, acrescentou ele. (Link com a notícia completa em pdf)
Evento online da Fapesp com o tema Amazônia – Tecnologia, desenvolvimento e sustentabilidade
https://m.youtube.com/watch?v=jaP9Am8AjLw
Gláucia Pérez é bolsista TT Fapesp no projeto INCT-Mudanças Climáticas Fase 2 financiado pelo CNPq pro- jeto 465501/2014-1, FAPESP projeto 2014/50848-9 e CAPES projeto 16/2014, sob orientação de Susana Dias e Antonio Carlos Amorim.
Coletivo e grupo de Pesquisa | multiTÃO: prolifer-artes sub-vertendo ciências, educações e comunicações (CNPq)
Projetos | Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas (INCT-MC) – (Chamada MCTI/CNPq/Capes/FAPs nº 16/2014/Processo Fapesp: 2014/50848-9); Revista ClimaCom: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/ e Revista ClimaCom.