Pesquisas com a Amazônia se esforçam para garantir dados e análises vitais para a sociedade | Gláucia Pérez

Diferentes pesquisas com dados e análises da Amazônia foram apresentadas durante o evento online da Fapesp com o tema Amazônia – Tecnologia, desenvolvimento e sustentabilidade no dia 05 de abril.

Por Gláucia Pérez

Editora Susana Dias

 

Gilberto Câmara Neto apresentou uma ação de prevenção estabelecida pelo Inpe, conhecida como sistema de detecção de desmatamento em tempo real – Deter, que alerta diariamente o desmatamento de novas áreas no país. Apenas em março de 2021 esse sistema registrou 367 km² de floresta derrubados, e desde 2015 esse é o maior registro realizado pelo sistema. Gilberto, atualmente diretor do secretariado do grupo de observação da terra das Nações Unidas e ex-diretor geral do Inpe, falou sobre a necessidade de uso dos satélites de sensoriamento remoto para levantar os dados em relação ao desmatamento devido a vasta extensão territorial do país. Ele explica que ao utilizar esses satélites os cientistas fazem as seguintes perguntas: Quanto? Onde? Quando? Como acontece o desmatamento? Como estamos usando a floresta? Os dados obtidos e as avaliações dos cientistas são disponibilizados para a sociedade.

Segundo ele, essa “Transparência garante credibilidade e governança”, e garante informação à sociedade do que está acontecendo com a Amazônia. “Se a sociedade brasileira não tivesse acesso as informações que tem com o nível de detalhe fornecido pelos cientistas do Inpe, dificilmente a sociedade brasileira se daria conta da magnitude das ações que estão acontecendo com a Amazônia. E obviamente, quanto melhor a qualidade da informação mais existe possibilidade do gestor público agir”.

Satélite do Inpe – Fonte  Inpe

 

Adalberto Luis Val, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – Inpa, e coordenador sobre adaptações da biota aquática na Amazônia no INCT, falou no evento do compromisso permanente que devemos ter com a Amazônia, e que a medida que ocorrem os desmatamentos e a degradação ambiental na floresta, a biodiversidade da região é destruída causando risco de novas doenças. “Há um conjunto imenso de microrganismos escondidos na floresta que podem, por conta do distúrbio ambiental, saltar para as populações humanas e causar novas epidemias e pandemias”.

O cientista Carlos Nobre, pesquisador sênior do Instituto de Estudos Avançados da USP, professor do programa de pós-graduação do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – Inpe, iniciou sua palestra dizendo que não temos no momento a ciência necessária para salvar a Amazônia, e ressaltou a urgência de se pensar e implementar uma nova bioeconomia que preserve a floresta, sem isso, há o risco de 60 a 70%, do centro, leste e sul da Amazônia se transformar em uma savana tropical degradada e com uma enorme perda de carbono. Esse processo é chamado de savanização da Amazônia ou de “tipping point”, ponto de não retorno. Segundo ele, um modelo de desenvolvimento sem desmatamento, com uma política de conservação dos territórios indígenas e das unidades de conservação, com grande quantidade de restauração florestal, é um novo paradigma de desenvolvimento com a “floresta em pé”, de implementação urgente.

Cenários especulativos – grupo multiTÃO – Fonte: ClimaCom

 

O pesquisador Paulo Artaxo, atualmente professor titular do departamento de física aplicada da USP, membro da coordenação do programa das mudanças climáticas da Fapesp, e coordenador da subcomponente Impactos nos ecossistemas brasileiros frente às mudanças do uso da terra e à biodiversidade do INCT de mudanças climáticas, também questionou “se o modelo atual de desenvolvimento que estamos seguindo tem futuro para o país como um todo”. Discutiu no evento a importância do papel da Amazônia nas mudanças climáticas globais, considerando que a floresta pode ser parte da solução. A Amazônia e o nordeste brasileiro serão regiões bem mais secas se o desmatamento continuar, e até o final desse século poderá ocorrer um acréscimo na temperatura de 4 a 5ºC em todo o território brasileiro, ressaltou Artaxo. Relacionado a Amazônia também é importante destacar o transporte de vapor d’água para toda a América do Sul; vapor esse produzido no oceano atlântico tropical e processado pela vegetação da floresta. A região central e o sudeste brasileiro, região do agronegócio, precisa da chuva que vem da Amazônia, e por esse motivo qualquer alteração nesses processos que controlam o transporte e processamento do vapor d’água tem impacto muito forte sobre a produtividade agrícola do Brasil. As pesquisas desenvolvidas por Artaxo mostram que a região sudeste da Amazônia está cada vez mais seca, com uma extensão da duração da estação seca maior, e com a quantidade de chuva nessa estação diminuindo. A estação quente favorece as queimadas e secas, e causa ainda impacto sobre o ciclo do carbono. Com o aumento da temperatura global o estoque de carbono nas florestas tropicais tenderá a diminuir. Não podemos esquecer que “a Amazônia é chave para a sustentabilidade do Brasil e do planeta”, acrescentou ele. (Link com a notícia completa em pdf)

 

Evento online da Fapesp com o tema Amazônia – Tecnologia, desenvolvimento e sustentabilidade

https://m.youtube.com/watch?v=jaP9Am8AjLw

 

 

Gláucia Pérez é bolsista TT Fapesp no projeto INCT-Mudanças Climáticas Fase 2 financiado pelo CNPq pro- jeto 465501/2014-1, FAPESP projeto 2014/50848-9 e CAPES projeto 16/2014, sob orientação de Susana Dias e Antonio Carlos Amorim.

Coletivo e grupo de Pesquisa | multiTÃO: prolifer-artes sub-vertendo ciências, educações e comunicações (CNPq)

Projetos | Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas (INCT-MC) – (Chamada MCTI/CNPq/Capes/FAPs nº 16/2014/Processo Fapesp: 2014/50848-9); Revista ClimaCom: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/ e Revista ClimaCom.