Exu Caveira: na encruza da Universidade | Hannyn Barbara Alves Garcia, Natalia Francisca Pereira Franco e Caroline Barroncas de Oliveira

Encontramos a Universidade em uma encruzilhada, propondo uma lavagem da palavra. Então, em conjunto com Exu Caveira, reunimos imagens que conversam e desestabilizam a vaidade da Universidade. A palavra, que já foi caminho, lugar de circulação e legitimidades, em sua potência cósmica, sente os acontecimentos nos poros do osso.

Hannyn Barbara Alves Garcia[1]

Natalia Francisca Pereira Franco[2]

Caroline Barroncas de Oliveira[3]

 

Lavando a palavra

Lavar a palavra universidade é abrir os poros da dita ciência, deixar que a pele rígida da instituição seja atravessada pela água ao ponto de se tornar outra (pele engelhada, aberta a contaminações, superfície que ao contato com outro se transmuta). Na tradição afrodiaspórica, dos povos de terreiro, a lavagem não é apenas purificação, mas rito de deslocamento: a água expõe o que está submerso, traz para a superfície o que estava incrustado/cristalizado. Ao evocar Exu Caveira, aquele que se apresenta em ossos expostos, sem a máscara da carne, lavamos também a vaidade da Universidade e sua pretensão de separar o que é supostamente Ciência do que não é. O termo universidade, antes de ser uma instituição formalizada, foi horizonte de comunhão. A palavra universitas, que aparece no latim medieval, significava originalmente “totalidade”, “conjunto”, “comunidade”, designando corporações de mestres e estudantes (universitas magistrorum et scholarium) que se reuniam em cidades como Bolonha, Paris e Oxford, a partir do século XII (Jaeger, 2001). Se a universidade europeia medieval nasceu como universitas magistrorum et scholarium, uma comunidade legalmente reconhecida de mestres e estudantes, é preciso lembrar que ela se constituiu também como lugar de legitimidade: quem está dentro produz ciência; quem está fora é relegado ao não-saber ou saberes outros, tidos como senso comum, religioso, filosófico. Essa pele rígida da universidade cartesiana assentou-se na representação e no disciplinamento do pensamento pelos modos estanques do entendimento dito científico (Foucault, 2006).

Mas a palavra universidade tem evocações outras. Pois, os sentidos da palavra remetem a tradições muito mais antigas que a medieval europeia.

 

(Leia o ensaio completo em PDF)

 

Recebido em:  15/09/2025

Aceito em:  15/10/2025

 

[1] Universidade do Estado do Amazonas. Email: hbag.mca24@uea.edu.br

[2] Universidade do Estado do Amazonas. Email: nfpd.mca24@uea.edu.br

[3] Universidade do Estado do Amazonas. Email: cboliveira@uea.edu.br