O estresse térmico na região da floresta amazônica já é uma realidade e tende a aumentar com as mudanças climáticas e desmatamento | Gláucia Pérez

O desmatamento, as queimadas e as mudanças climáticas contribuem para o processo de savanização da floresta amazônica, e consequentemente o aumento da temperatura na região podendo levar a população local ao estresse térmico.

Por | Gláucia Pérez

Editora | Susana Oliveira Dias

 

Em um artigo, de 2021, para a revista científica britânica Nature os pesquisadores Beatriz Oliveira, da Fiocruz Piauí; Marcus Bottino do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe); Paulo Nobre do INCT mudanças climáticas fase 2 – subcomponente modelagem do sistema terrestre e produção de cenários futuros de clima para estudos de vulnerabilidade, impactos, adaptação e resiliência; e Carlos Nobre do Instituto de Estudos Avançados da USP, falam sobre o estudo realizado na região Amazônica que descreve o processo de savanização que já ocorre devido ao desmatamento, queimadas e as mudanças climáticas, aumentando a temperatura na região. A elevação da temperatura deixará um ambiente inabitável para a população, principalmente para os mais vulneráveis, levando ao estresse térmico.

De acordo com o estudo o aumento do desmatamento na Amazônia significa que o que foi estipulado no Acordo de Paris, em 2015, não está sendo mantido. Para se ter uma ideia o desmatamento em 2020 deveria ser de 3.925 km² ao invés disso foi de 11.022 km². E ainda nesse mesmo ano, em setembro, houve recordes de calor, não apenas no país mais em todo o mundo devido as mudanças climáticas, aumentando ainda mais as temperaturas na região.

Em uma entrevista em fevereiro de 2021 para o Valor Econômico o pesquisador e climatologista Carlos Nobre disse que em 1990, em um artigo científico, apontou que em 30 anos a savanização

amazônica poderia acontecer. Na época o desmatamento era pequeno, mas que agora não há como negar que o processo de savanização já ocorre, e algo precisa ser feito imediatamente, que é imprescindível que no máximo cinco anos o desmatamento seja zerado e inicie de imediato o processo de restauração.

No Brasil, o desmatamento e as queimadas junto às mudanças climáticas irão tornar quase impossível a sobrevivência do homem na região norte e centro-oeste, uma vez que essas regiões serão as mais atingidas. As altas temperaturas e umidade que ocorrerão nessas regiões não permitirá o resfriamento do corpo humano, ao contrário, irá gerar uma elevação da temperatura que causa o estresse térmico prejudicando a saúde humana, inclusive a mental, e a capacidade física de realizar as atividades diárias, podendo levar a morte.

Para calcular o estresse térmico causado pelas altas temperaturas foi utilizado nesse estudo o indicador “Temperatura de bulbo úmido” – WBGT (wet-bulb globe temperature), que considera as seguintes condições da atmosfera: temperatura, umidade, radiação solar e velocidade do vento.

Em dois cenários estima-se que o processo de savanização da floresta amazônica e às mudanças climáticas afetariam diretamente a saúde de seis milhões de pessoas, considerando o WBGT > 34ºC, e o RCP4.5 (representative concentration pathways), que representa a quantidade de gás carbônico que entra na atmosfera, e que é um dos índices mais baixos. E afetaria a saúde de onze milhões de pessoas, considerando o WBGT > 34ºC, e o RCP8.5, que é o índice mais alto, onde não seria possível uma pessoa ter atividades ao ar livre mais do que uma hora/dia.

O estudo considera também que as ações humanas como as queimadas, as atividades de mineração e o desmatamento, junto a falta de planejamento urbano e saneamento básico contribuem para o aumento da desigualdade e vulnerabilidade da população. Sem contar que as mudanças climáticas colaboram substancialmente para esse quadro. Sendo assim os serviços sociais de saúde serão de grande ajuda para minimizar o impacto na população.

A pesquisadora Beatriz Oliveira considerou na notícia da Agência Brasil do dia 1º de outubro que “o setor de saúde poderia ser um importante motivador na formulação de políticas integrativas para mitigar o risco de estresse térmico e a redução da vulnerabilidade social”. (Link com a notícia completa em pdf)

 

Gláucia Pérez é bolsista TT Fapesp no projeto INCT-Mudanças Climáticas Fase 2 financiado pelo CNPq pro- jeto 465501/2014-1, FAPESP projeto 2014/50848-9 e CAPES projeto 16/2014, sob orientação de Susana Dias e Antonio Carlos Amorim.

Coletivo e grupo de Pesquisa | multiTÃO: prolifer-artes sub-vertendo ciências, educações e comunicações (CNPq)

 Projetos | Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas (INCT-MC) – (Chamada MCTI/CNPq/Capes/FAPs nº 16/2014/Processo Fapesp: 2014/50848-9); Revista ClimaCom: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/ e Revista ClimaCom.