A proposta desse dossiê é explorar os (in)finitos no contexto das mudanças climáticas, por entre artes, ciências e filosofias.
A finitude se impõe como um problema para pensar, sentir e expressar as mudanças climáticas no enfrentamento do desafio de lidar com a falta d’água e energia, com o desperdício, com o esgotamento dos denominados “recursos naturais” do planeta, e com inundações e restos impossíveis de serem eliminados. Neste cenário, a aceleração tecnológica e suas inovações emergem como uma espécie de redenção, apresentando-se, por vezes, como possível solução para suprir, de maneira ilimitada, não só a finitude de tudo aquilo que sustenta e envolve a vida, mas também de um modo de vida que enfrenta seu próprio fim.
Os diagnósticos da crise da economia global ampliam ainda mais as discussões em torno do infinito ao abordá-lo numa relação com o endividamento. O sistema financeiro, hoje, apresenta-se como centralidade, produzindo uma escalada das dívidas públicas, dos planos de insolvência, envolvendo países, empresas, famílias, indivíduos e o planeta, que se apresentam permanentemente endividados: a dívida infinita e a mercantilização da vida marcam o mundo contemporâneo. Neste funcionamento, configuram-se mercados de crédito de carbono, e a consideração dos serviços ambientais prestados pelos ecossistemas buscam instituir mecanismos de medição e valoração das florestas e das ações humanas no mundo, a partir de critérios financeiros e de uma dinâmica de créditos e cobranças, cujos cálculos transformam as existências em partes finitas de arranjos variáveis para um mercado que se apresenta tão infinito quanto o endividamento.
O que resta, então, de infinito em um mundo finito? Como seguir diante da finitude?
Tais questões atravessam e redimensionam os campos da matemática, da física, da biologia, da química, bem como aqueles da geografia e da história, da política e da antropologia, e estão, também, implicadas no desenvolvimento de novos materiais, novas tecnologias de informação digital, abarcando todas as relações entre humanos e entre estes e os não humanos. Tudo parece mensurável num mundo cada vez mais imponderável.
Diante desse panorama, lidamos não apenas com a finitude das coisas/seres do mundo, mas com a finitude relacionada aos limites que se colocam para os modos como estamos habituados a nos relacionar com eles. Problema este que expõe as forças que nos compõem como humanos, de imaginar, conhecer, desejar, bem como a necessária abertura a outros modos de existência, de pensamento e criação.
Valeria perguntar, então, de quais modos as ciências e tecnologias mobilizam o infinito que há nos materiais, nos corpos, no espaço, no tempo? E por fim, de quais maneiras as ciências, as artes e a filosofia podem potencializar os modos de pensar o finito e o ilimitado, e os desafios colocados pelas alterações climáticas?
Uma abertura ao infinito, capaz de dar ao conjunto finito de coisas/seres uma infinidade de possibilidades de relações, combinações, alianças. Uma abertura do pensar e criar capaz de acolher a catástrofe como força de proliferação e variação dos finitos, que desorganiza os conjuntos, formas e problemas já dados.
As normas para publicação estão disponíveis em: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/?page_id=1336