Do visível ao sensível: reflexões sobre narrativas, imaginários e leituras de vida em fotografias da pandemia | Anette M. R. S. Bento Oliveira e Amanda M. P. Leite
Anette M. R. S. Bento Oliveira[1]
Amanda M. P. Leite[2]
O que as fotografias jornalísticas de pandemia nos fazem pensar? Esta pergunta, à primeira lida, pode parecer banal; “faz-nos pensar que existe uma pandemia! Que existem pessoas morrendo, nos traz informações sobre este momento…”. Mas a provocação que abre este artigo é de fato instigante e não deve ser limitada ou reduzida. Buscaremos pensá-la a partir de novas articulações, suscitando outros caminhos para o diálogo entre a fotografia e a Comunicação.
As reflexões e apontamentos apresentados neste artigo fazem parte de uma pesquisa de mestrado em andamento realizada no Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Sociedade na Universidade Federal do Tocantins (UFT) em parceria com o Coletivo 50 Graus- Grupo de Pesquisa e Prática Fotográfica. O corpus de investigação é uma série de doze fotografias intitulada “Morte a Domicílio: A explosão de mortes nas casas manauaras no ápice da epidemia de Covid-19 no Amazonas” [3], do fotojornalista Yan Boechat, vencedor do Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos de 2020. Embora a série se configure como o recorte principal de análise, cabe frisar que apenas algumas imagens serão apresentadas neste artigo. Ao mesmo tempo em que essas imagens aparecem, é possível fazer o exercício de trazer à mente outras fotografias que foram amplamente divulgadas pela imprensa e ajudaram a construir o imaginário sobre este cenário pandêmico.
A imagem nos (re)apresenta as coisas que estão postas no mundo e é a forma pela qual buscamos dar conta de compreender os fenômenos que cercam a finitude humana. Primeiramente, pensar a imagem a partir da história é interessante, pois conseguimos observar a função dela nas relações humanas e revelar as narrativas construídas ao longo dos processos e acontecimentos. Para Regis Debray (1993, p. 33):
A imagem – primeiramente esculpida; em seguida, pintada – é, na origem e por função, mediadora entre os vivos e os mortos, os seres humanos e os deuses; entre uma comunidade e uma cosmologia; entre uma sociedade de sujeitos visíveis e a sociedade das forças invisíveis que os subjugam. Essa imagem não é um fim em si, mas um meio de adivinhação, defesa, enfeitiçamento, cura, iniciação.
É imprescindível que observemos a imagem fotográfica em sua forma visível, as imagens visuais, aquelas que existem justamente pela nossa capacidade biológica, física e química de enxergar através do globo ocular; a partir desta percepção é possível tecer outras perspectivas de ver a imagem, constituídas de elementos simbólicos e imagéticos, dando vida às narrativas e aos imaginários. Para Roland Barthes (1984, p.21), “tecnicamente a fotografia está no entrecruzamento de dois processos inteiramente distintos: um de ordem química, trata-se da ação da luz sobre certas substâncias; outro é de ordem física: trata-se da formação da imagem através de um dispositivo óptico”.
(Leia o artigo completo em PDF)
Recebido em: 20/11/2021
Aceito em: 10/12/2021
[1] Jornalista formada pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB) e mestranda no Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Sociedade na Universidade Federal do Tocantins (PPGCom-UFT). E-mail: bentoanette@gmail.com
[2] Pós-doutora em Educação pela Unicamp. Doutora e Mestre em Educação pela UFSC. Professora e pesquisadora no Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Sociedade e no curso de Pedagogia da UFT. E-mail: amandaleite@uft.edu.br – Instagram: @amandampleite – www.amandaleite.com.br.
[3] A série fotográfica está disponível no site premiovladimirherzog.org/durante-crise-da-covid-19-mais-de-30-dos-obitos-ocorrem-em-casa-em-manaus/
Do visível ao sensível: reflexões sobre narrativas, imaginários e leituras de vida em fotografias da pandemia
RESUMO: O que as fotografias jornalísticas produzidas na pandemia nos fazem pensar? O que elas dão a ver sobre este tempo? Como essas imagens testemunham as existências do tempo presente? Este artigo é um desdobramento da pesquisa de mestrado em andamento e tem como objetivo realizar uma reflexão sobre imagens produzidas sobre a pandemia do novo coronavírus, entendendo suas potências comunicativas através das narrativas e dos imaginários presentes nestas imagens. Utiliza-se como metodologia a Pesquisa Baseada em Arte (PBA) e busca-se suscitar o diálogo e o compartilhamento de ideias que fecundam um campo aberto na Comunicação. Aqui a imagem fotográfica além de lugar investigativo é também lugar de acontecimento, de experiência, testemunha, de narrativa, poesia e de fabulação.
PALAVRAS-CHAVE: Fotografia. Pandemia. Narrativas.
From the visible to the sensitive: reflections on narratives, imaginaries and life readings in pandemic photographs
ABSTRACT: What do journalistic photographs produced in the pandemic make us think? What do they suggest about this time? How do these images testify to time-present time existences? This article is an unfolding of the master’s research in progress and aims to reflect on images produced about the new coronavirus pandemic, understanding its communicative powers through the narratives and imagery present in these images. Art-Based Research (PBA) is used as a methodology and seeks to encourage dialogue and the sharing of ideas that fertilize an open field in Communication. Here, the photographic image, in addition to being an investigative place, is also a place of event, experience, witness, narrative, poetry and fabulation.
KEYWORDS: Photography. Pandemic. Narratives.
OLIVEIRA, Anette M. R. S. Bento; LEITE, Amanda M. P. Do visível ao sensível: reflexões sobre narrativas, imaginários e leituras de vida em fotografias da pandemia. ClimaCom – Diante dos Negacionismos [Online], Campinas, ano 8, n. 21, abril. 2021. Available from: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/do-visivel-ao-sensivel/