Dilúvio vivo: nicho, bicho e lixo em um rio de coexistências | Humberto Mohr e Tuane Maitê Eggers
Humberto Mohr[1]
Tuane Maitê Eggers[2]
Sentidos abertos
A ideia do projeto Dilúvio Vivo [3] começa com um ato que parece um tanto quanto ingênuo, mas que traz consigo uma potência subversiva em sua simplicidade: a observação atenta do ambiente em que estamos inseridos. A existência de uma ciclovia até há pouco funcional ao longo do Arroio Dilúvio, em Porto Alegre/RS, permitiu libertar nossos corpos das gaiolas-metálicas-de-ambiente- controlado que são os automóveis e, no processo, possibilitou uma fricção dos sentidos com o ambiente que nos cerca de maneira mais direta. Uma forma de cultivar as artes da atenção, termo utilizado pela antropóloga estadunidense Anna Tsing para se referir a uma forma de perceber a complexidade e a interconexão das relações, como base para criar melhores possibilidades de vida compartilhada. “Teorias e conceitos emergem melhor da atenção para o mundo. Além disso, não é preciso se afastar de casa: a vida nas ruínas está em toda parte à nossa volta.” (Tsing, 2019, p. 20). Cheiros começaram a ocupar um espaço na consciência e isso fez com que os nossos olhos fossem direcionados para o “esgoto da Av. Ipiranga” para entender a história que estava sendo contada. E quem conta essa história são os biguás, as garças, cágados, martins-pescadores, umbus, corticeiras, timbaúvas, tilápias, cascudos, morcegos-pescadores, capivaras, bromélias, lontras, socós, butiás, figueiras e tapicurus. Há um emaranhado de vida interespécies acontecendo nesse lugar que é considerado, por muitas pessoas, apenas um esgoto — inclusive, pelo poder público.
(Leia o ensaio completo em PDF)
Recebido em: 15/05/2025
Aceito em: 15/05/2025
[1] Doutorando em Ecologia no PPG-Ecologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), mestre em Ecologia (Biologia) pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA (2014) e biólogo pela UNISC (2011). Integra o Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF) da UFRGS. E-mail: humberto.mohr@gmail.com
[2] Doutoranda em Poéticas Visuais no PPGAV da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), mestra em Poéticas Visuais pela mesma instituição (2021) e jornalista pela Univates (2015). Participa do projeto de pesquisa “As extensões da memória: a experiência artística e outros espaços” (IA/PPGAV/UFRGS). E-mail: tueggers@gmail.com
Dilúvio vivo: nicho, bicho e lixo em um rio de coexistências
RESUMO: Este artigo contextualiza a existência de um corpo d’água conhecido como Arroio Dilúvio (Jacarey em guarani), localizado entre as cidades de Viamão/RS e Porto Alegre/RS, e aborda as motivações e indagações que levaram à criação do projeto que une arte e ecologia chamado Dilúvio Vivo. Trata-se de um convite para emprestar os sentidos para uma paisagem na qual a vida flui e resiste em meio às ruínas da cidade.
PALAVRAS-CHAVE: Arte e Ecologia. Coexistência. Ecologia urbana. Rios urbanos.
Dilúvio Vivo: Niche, beast and waste in a river of coexistence
ABSTRACT: This article contextualizes the existence of a water body known as Arroio Dilúvio (called Jacarey in Guarani), located between the cities of Viamão/RS and Porto Alegre/RS, Brazil. It explores the motivations and inquiries behind the creation of Dilúvio Vivo, a project merging art and ecology. The work serves as an invitation to attune our senses to a landscape where life persists and flows amid urban ruins.
KEYWORDS: Art and Ecology. Coexistence. Urban Ecology. Urban Rivers.
MOHR, Humberto Mohr; EGGERS, Tuane Maitê. Dilúvio vivo: nicho, bicho e lixo em um rio de coexistências [online], Campinas, ano 12, n. 28., jun. 2025. Available from: http://climacom.mudancasclimaticas.net.br/diluvio-vivo/