Desdobramentos flúvio-epistêmicos das espiritualidades ancestrais: afluentes na Tanakh a Bíblia, Oxum e povos do grupo Tukano Oriental | Emanuely Miranda e Gabriel D. Gruber


Emanuely Miranda[1]

Gabriel D. Gruber[2]

 

Introdução: decolonização epistêmica

Quais são as preocupações e perspectivas que movem aquilo que nomeamos como ciência? Tatear a resposta para essa pergunta nos leva à percepção de que o fazer científico não escapa de manifestar e reproduzir as desigualdades e a colonização que nos estruturaram e continuam a nos estruturar. Por conta disso, no ensaio Reativar o Animismo, a filósofa Isabelle Stengers (2017) experimenta chamar a ciência de Ciência.

Aparentemente se trata da mesma palavra, mas há uma diferença que aponta para a intenção da filósofa com essa nomeação: a letra maiuscula sinaliza a forja de uma hierarquia de conhecimentos. Stengers (2017) ainda chama a atenção para o fato de que a palavra está no singular. Então, a hierarquia de conhecimentos escalona para um totalitarismo de um só saber: aquele que é considerado científico.

O totalitarismo, por sua vez, opera a partir de noções de desenvolvimento que classificam modos de pensar e existir a partir de critérios racionais e objetivos. “aquilo a que se chama Ciência, ou a ideia de uma racionalidade científica hegemônica, pode ser entendido em si mesmo como produto de um processo de colonização” (Stengers, 2017, p. 4). Nesse sentido, a filósofa comenta sobre um julgamento atribuído a povos cujas existências e epistemes não cabem dentro do estreito confinamento da razão. Esse funcionamento manifesta uma prática exposta por Carneiro (2005) como epistemicídio.

(Leia o ensaio completo em PDF)

 

Recebido em: 15/02/2025

Aceito em: 15/05/2025

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[1] Mestra em Divulgação Científica e Cultural pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), jornalista da ClimaCom, bolsista TT Fapesp no projeto INCT-Mudanças Climáticas Fase 2 financiado pelo CNPq (465501/2014-1), FAPESP (2014/50848-9) e CAPES (16/2014), sob orientação de Susana Dias. Integra o coletivo e grupo de Pesquisa: multiTÃO: prolifer-artes sub vertendo ciências, educações e comunicações (CNPq). Email: emanuelymiranda.em@gmail.com

[2] Professor da rede municipal de ensino de Monte Mor, e professor de hebraico clássico. Mestre em Linguística (ênfase em Línguas Indígenas) pelo IEL/UNICAMP, pós-graduado em Tradução, licenciado em Língua Portuguesa e Inglesa, bacharel em Teologia. Atualmente pesquisa nas áreas de: decolonialidade, antropologia linguística, literatura hebraica clássica, línguas indígenas brasileiras. Integrante do coletivo e grupo de Pesquisa: multiTÃO: prolifer-artes sub-vertendo ciências, educações e comunicações (CNPq).Esposo de Emanuely Miranda. Email: gabriel.dgruber@gmail.com

Desdobramentos flúvio-epistêmicos das espiritualidades ancestrais: afluentes na Tanakh
a Bíblia, Oxum e povos do grupo Tukano Oriental

 

RESUMO: O presente artigo se propõe a questionar parâmetros da Ciência através de um exercício de decolonialização epistêmica ativando saberes e afetos do conhecimento e da expeririência espiritual com os rios. Buscando reativar toda a potência dos rios em suas confluências cósmicas com toda a terra/Terra, do qual somos parte, abrimos afluentes para analisar as tradições da Tanakh e da Bíblia, de Oxum, e dos povos indígenas do grupo Tukano Oriental. Por fim, oferecemos o convite de um flúvio-epistemologia para um serpentear pelos dias, proliferar correntezas, culminar rotas e regar caminhos nestes tempos.

PALAVRAS-CHAVE: Decolonialidade. Espiritualidade. Rios.


Desarrollos fluvio-epistémicos de espiritualidades ancestrales: afluentes en el Tanakh a la Biblia,
Oxum y pueblos del grupo Tukano Oriental.

 

ABSTRACT OU RESUMEN: Este artículo se propone cuestionar los parámetros de la Ciencia a través de un ejercicio de descolonialización epistémica mediante la activación de los saberes y afectos del conocimiento espiritual con los ríos. Buscando reactivar todo el poder de los ríos en su confluencia cósmica con toda la Naturaleza, de la que formamos parte, abrimos afluentes para analizar las tradiciones del Tanaj y la Biblia, de Oxum, y de los pueblos indígenas del grupo Tukano Oriental con los ríos. Finalmente, ofrecemos la invitación de una río-epistemología para serpentear a través de los días, proliferar corrientes, culminar rutas y caminos del agua en estos tiempos.

PALABRAS CLAVE: Decolonialidad. Espiritualidad. Ríos.


MIRANDA, Emanuely; GRUBER, Gabriel D. Desdobramentos flúvio-epistêmicos das espiritualidades ancestrais: afluentes na Tanakh a Bíblia, Oxum e povos do grupo Tukano Oriental. ClimaCom – Manifesto das águas [online], Campinas, ano 12, n. 28., jun. 2025. Available from: http://climacom.mudancasclimaticas.net.br/desdobramentos-fluvio-epistemicos/