Derivar

Título: Derivar


Resumo: Uma placa de rede – jangada em um clima atravessado por incertezas, fios, traços de conexão, de constituição de superfícies. Vela de palavras ao vento que dão lugar a dúvidas, questões, sopram para um outro tempo aquelas certezas da modernidade, do peso da fatalidade. O incerto em traços, em rastros capturados cotidianamente nas comunicações, agora fragmentos para derivar outros rumos.

Equipe: Eliane de Barros, Marta Kanashiro, Ricarda Canozo, Tatiana Plens, Vivian Pontin.

 


Este vídeo é resultado da oficina de animação ministrada por Ricarda Canozo no dia 20/10/2016 no Labjor-Unicamp como parte das ações do projeto “Arquivo Nuvens” – Grupo multiTÃO-Labjor-Unicamp e Ateliê Orssarara.

Arquivo Nuvens

Nesta nova série de mesas de trabalho da ClimaCom – pensadas na relação com o Dossiê “Incerteza” e iniciativa do grupo multiTÃO e Orssarara Ateliê – propomos encontros com as nuvens por senti-las e pensá-las como intercessores fundamentais diante das mudanças climáticas. O medo que se instaura frequentemente diante de sua aparição tempestuosa (inundações) ou de seu sumiço aterrador (secas), nos colocam diante da questão política urgente de estarmos preparados para o que vem. E se a resposta surge rapidamente – “É preciso juntar forças para resistir ao que vem” – talvez seja preciso enfrentar a desaceleração gerada por perguntas que retornam em ondulações insistentes: “como?”, “o que pode vir a ser juntar forças?”, “o que vem?”. Nesta proposta concebemos as nuvens como forças que, como o sol, uma montanha, os musgos, os caranguejos e os corais, não podem ser excluídas de nossas buscas por inventar novos modos de “juntar forças”, de “resistir” e de estar aberto ao “que vem”. Criar alianças do que vem de outros reinos, de um reino diverso, e investir em campos de atração entre ciências, artes e filosofias, que abrem um entre-reinos. Não sabemos o que pode uma nuvem e, nesse sentido, é que nos lançamos na criação de uma coleção de existências particulares delas. “Arquivo Nuvens” é  feito de taxonomias flutuantes e amostragens leves, recolhidas em nossos movimentos de segui-las, tanto nos céus, quanto nos livros, de acompanhar seus processos de des-aparição nas notícias, nos laboratórios, nos congressos científicos, nos filmes, exposições etc. Um arquivo generativo em morfogênese constante, cuja gravidez dá lugar a novas linhas de força gravitacional, e nos coloca a pergunta: O que é gravitar sem centro? Talvez seja isso o que as nuvens possam nos ensinar com sua gravidez pluri-vital e pluri-dimensional. Uma nuvem pode estar composta por sensações como nas instalações “Lágrimas de São Pedro” de Vinicius S.A. <https://www.flickr.com/photos/viniciussa/> e nos projetos “Cloud Cities” e “Cloud Cities/Flying Garden” de Tomás Saraceno <http://tomassaraceno.com/projects/cloud-cities-flying-garden/>. Uma nuvem pode ser a invenção de uma nova percepção, uma flutuante, gasosa e leve que desconhece coordenadas ou ancoragens, como no filme “La region centrale” de Michael Snow. Uma nuvem também pode estar composta por dados e modelos matemáticos e nos colocar a pergunta pela mineração, pelo cálculo e controle. Ou até mesmo estar composta por entidades infinitamente minúsculas e sutis e nos lançar ao desafio de fazer delas uma força de um futuro incalculável, que pode ganhar uma expressão precisa tanto estatisticamente, como num poema ou ensaio filosófico. Uma nuvem pode se formar e participar de ciclos e sistemas a partir de complexas teorias de povos indígenas e dos cientistas que se dedicam a sua microfísica. Queremos gerar intercessões entre essas nuvens e investir num arquivo vivo, que sai da caixa, da gaveta, e que se lança em performances nas ruas, se transmuta em ensaios fotográficos, se verte em animação, se prolifera e condensa em encontros com convidados das mais diversas áreas. Um arquivo como plano de errâncias e heterogêneses, que se abre furioso como a caixa de Pandora, desatando as forças que fazem do ser-nuvem, uma vibração impessoal, um acontecimento nutrido pelos mais diversos movimentos de concrescência e preensão ou de devir e transição, onde tudo se torna causa eficiente para atingir uma potencialidade real.


Concepção, organização e coordenação “Arquivo Nuvens”

Susana Dias e Sebastian Wiedemann

Grupo multiTÃO e Orssarara Ateliê

 

 

Contemporaneidade

Coleciono contos pela metade,
amigos a quilômetros de distância,
memórias-vivas
da minha transformação cotidiana.

Arquivo amigos em partes,
encontros desmarcados, culpa materna,
lembranças-insistentes
da centralidade do trabalho.

Computo senhas, dívidas não pagas, fragmentos,
formação continuada, lutas efêmeras,
atividades-infindáveis-aceleradas
na minha presença no mundo

Consumo beleza inalcançável, saúde infinita
vida estendida sem limites: imortalidade;
amigos por toda parte, amores nunca vistos
informações-potência capturadas
do eu-código, de identidades fugidias

Identidade? Amores? Amigos?
Conceitos desmanchados.
Fluxos, fluxos, fluxos ….
Dividual eu?
Eu fogo fátuo

 

Marta Kanashiro (2010)