Por Janaína Quitério
Quando o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) visitou o estande da Rede Clima na 67ª Reunião Anual da SBPC, em São Carlos, estava para completar cinco anos desde que ele, então deputado federal pelo PCdoB, redigira a carta “Trapaça ambiental”, em resposta às críticas do coordenador do Instituto Socioambiental à aprovação do novo Código Florestal brasileiro, do qual Aldo Rebelo foi relator. Na carta, publicada em 15 de julho de 2010, ele chegou a dizer que a teoria do aquecimento global seria uma “doutrina de fé”, incompatível com o conhecimento científico. “De verdade, não há comprovação científica das projeções do aquecimento global, e muito menos de que ele estaria ocorrendo por ação do homem e não por causa de fenômenos da natureza”, escreveu.
No estande, que o ministro visitava como parte do protocolo governamental, a Rede Clima expunha os trabalhos das 15 sub-redes de pesquisa que, justamente, investigam as evidências científicas e os impactos causados pelas mudanças climáticas no País. A exposição integrava o Laboratório de Futuro da Comunicação das Mudanças Climáticas como um convite para os visitantes produzirem conteúdo sobre as mudanças climáticas a partir de recortes de jornais. Um convite à sensibilização para a temática num momento em que clichês e ceticismos tendem a ocupar o espaço do pensamento e da criação de alternativas.
Convidado a participar da atividade do estande escrevendo uma “manchata” – manchetes e títulos jornalísticos para pensar sobre as mudanças climáticas e o modo como o assunto tem sido divulgado –, Aldo Rebelo sorriu, olhou para os assessores e arriscou: “Pintou um clima”. Talvez não tenha gostado da frase de improviso, então tentou de novo: “O clima esquentou”. Alguns riram, outros permaneceram esperando uma reação mais séria de um ministro que dirige as políticas de Ciência, mas o prefeito de São Carlos, como que tentando reverter o “climão” instaurado, comentou: “nossa, é mesmo, aqui na cidade a temperatura média aumentou 2 graus nos últimos 20 anos”.
“Cuidemos do clima” foi, por fim, a manchata grafada pelo ministro. Não sabemos se, passados cinco anos da carta que lhe deu o status de negacionista climático, ele de fato reavaliou seu posicionamento e, mais do que isso, se está afinado com as políticas públicas do próprio MCTI, que, desde 2009, dá aporte à Rede Clima para fomentar – e divulgar – as pesquisas científicas sobre mudanças climáticas no País.