Conversas com ecologias e educação infantil: um convite para emaranhar com bebês e crianças num mundo em ruínas | Bárbara de Mello e Natasha Pitanguy de Abrantes
Bárbara de Mello[1]
Natasha Pitanguy de Abrantes[2]
Mais que dois corpos…
Fomos, durante muito tempo, embalados com a história de que somos a humanidade. Enquanto isso – enquanto seu lobo não vem -, fomos nos alienando desse organismo de que somos parte, a Terra, e passamos a pensar que ele é uma coisa e nós, outra: a Terra e a humanidade (Krenak, 2020, p. 16).
Este é um texto escrito com, em uma primeira mirada, dois corpos. Antes das primeiras palavras tecladas, que somadas às outras deram forma a este ensaio; conversas, partilhas de um doutoramento e causos de sopa de ervilha, provocaram o desejo por uma escrita em enlace. Nesse ensaio, pendulamos entre as flexões plural e singular, entre uma e entre nós, ao tecermos escritas com nossas vidas díspares e confluentes, que ora se bifurcam, ora se emaranham, em meio ao desejo de estar com as questões, talvez, não mais de uma ou de outra, mas, nossas.
Certo dia, antes da aula em que começamos a pensar numa escrita partilhada, marcamos um almoço próximo à Universidade, e, enquanto uma esperava na entrada do local marcado, a pensar nos grãos que deixou de molho, para a sopa que faria na noite daquele dia frio, a outra chegou um tanto esbaforida, pela roupa suja de sopa, que havia derrubado acidentalmente em si mesma. Rimos da situação, que para além de amigas de curso e na vida, tínhamos em comum o desejo da escrita e a sopa de ervilha.
Durante nosso almoço, entre ervilhas e risadas, entre o prato pedido e rascunhos das aulas, ensaiamos conversas com “ecologias”, “mais-que-humanos”, “antropoceno”, parte da temática discutida na disciplina que cursávamos juntas durante o semestre. Neste ensaio, apesar da polissemia que compõe os questionamentos dessas tematizações, escolhemos o exercício de fuga das conceituações, mirando nos deslocamentos de pensamentos e na invenção de problemas. Nesse prisma, é uma perspectiva que este ensaio costure cuidadosos exercícios de atentividade (Dooren, Kirksey, Münster, 2016) pelas vias do texto, da escrita, envolvendo prestar atenção aos outros, deixando-se capturar pelos muitos modos de existir e viver.
(Leia o ensaio completo em PDF)
Recebido em: 15/09/2024
Aceito em: 15/11/2024
[1] Professora da Educação Infantil do Colégio Pedro II; Especialista em Docência na Educação Infantil pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Mestre em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e doutoranda também pelo Programa de Pós-Graduação em Educação na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Email: barbarademello84@gmail.com
[2] Professora de Educação Infantil no Município do Rio de Janeiro. Especialista em Docência na Educação Infantil pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Mestre em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e doutoranda também pelo Programa de Pós-Graduação em Educação na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Email: naty_abrantes@hotmail.com
Conversas com ecologias e educação infantil: um convite para emaranhar com bebês e crianças num mundo em ruínas
RESUMO: Este ensaio se materializa como parte de deslocamentos de pensamentos compartilhados com ecologias, a partir das discussões nas aulas de doutoramento e de uma escrita partilhada por duas amigas e professoras da educação infantil, na tensão de um mundo em ruínas como descreve Anna Tsing (2019). Com essas conversas, junto a autores e autoras, partilharemos questões para pensar com as brincadeiras infantis, com as materialidades, com devires e com as existências e modos de vida que não somente humanos. Nesse enlace, que nos vemos parte, emaranhadas, suponhamos tentativas de fugas, brechas e ranhuras, compondo com uma primeira questão: como tensionar modos de vida em articulações que se entendam como parte da natureza e não fora dela? Nas conversas, partilhas e causos de sopa de ervilha, entre rascunhos e almoços, convidamos as demais e os demais que se acheguem e fiquem conosco com o que Donna Haraway (2019) chama de trouble, ou seja, fiquemos com o problema e com a encrenca desta escrita tecida entre questões, incertezas, muitos corpos e mãos.
PALAVRAS-CHAVE: Educação Infantil. Ecologias. Ruínas. Materialidades. Devir.
Conversations with ecologies and early childhood education: an invitation to entangle with babies and children in a world in ruins
ABSTRACT: This essay materializes as part of displacements of thoughts shared with ecologies, from discussions in doctoral classes and a writing shared by two friends and early childhood education teachers, in the tension of a world in ruins as described by Anna Tsing (2019). With these conversations, together with authors and authors, we will share questions to think with children’s play, with materialities, with becomings and with existences and ways of life that are not only human. In this link, which we see ourselves as part of, entangled, let us suppose attempts at escapes, gaps and grooves, composing with a first question: how to tension ways of life in articulations that understand themselves as part of nature and not outside of it? In conversations, sharings and pea soup causes, between drafts and lunches, we invite others to come closer and stay with us with what Donna Haraway (2019) calls trouble, that is, let us stay with the problem and the mess of this writing woven between questions, uncertainties, many bodies and hands.
KEYWORDS: Early Childhood Education. Ecologies. Ruins. Materialities. Becoming.
MELLO, Bárbara de; ABRANTES, Natasha Pitanguy de. Conversas com ecologias e educação infantil: um convite para emaranhar com bebês e crianças num mundo em ruínas. ClimaCom – Desvios do “ambiental” [online], Campinas, ano 11, nº. 27. jun. 2024. Available from: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/conversas-com-ecologias/