Construindo ruínas: relações entre imagem, dados e ecologia mediante as crises ambientais | Claudio de Melo Filho e Fernanda de Souza Oliveira


 

Claudio de Melo Filho[1]

Fernanda de Souza Oliveira[2]

 

 

Em uma vasta planície no coração da África do Sul, onde o solo é rico e o clima ameno, situa-se o Estado Livre, região com um dos maiores complexos de mineração a céu aberto de pedras preciosas do mundo. Kimberly, Koffiefontein e Jagersfontein são algumas das minas de extração de ouro e diamante que tiveram os maiores níveis de produtividade já registrados (Philip, 2016). Especialmente em Jagersfontein, os diamantes foram encontrados pela primeira vez em 1870, mas demorou até 1878 para reconhecer que essa ocorrência era de fato produtiva e válida para o exercício da extração (ibidem). Posteriormente, Jagersfontein tornou-se o centro da “corrida do diamante” do século XX, responsável por reunir um grande número de pessoas e por produzir diamantes de altíssima qualidade, entre eles o Excelsior e o Jubileu:

Em junho de 1893, um dos maiores diamantes do mundo, o “Excelsior”, foi descoberto em Jagersfontein. Pesava 9713⁄4 quilates (sem cortes) e até a descoberta do Diamante Cullinan em 1905 permaneceu como o maior diamante do mundo descoberto. (…) Dois anos depois, em 1895, outro grande diamante pesando 634 quilates (não lapidado) foi descoberto e inicialmente chamado de “Reitz” em homenagem ao então presidente do Estado Livre, FW Reitz. Contudo, mais tarde foi renomeado como “Jubileu”, em homenagem ao aniversário de 60 anos da Rainha Vitória (Philip, 2016 p.92-93).

 

A mineração subterrânea em Jagersfontein só começou em 1910, funcionando quase continuamente até 1971, exceto por dois curtos períodos de tempo durante a depressão dos anos 1930 e a Segunda Guerra Mundial (Ibidem). Seu fechamento foi devido à diminuição do teor de diamantes e ao aumento dos custos de mineração em maiores profundidades. Ao longo de sua história de exploração, Jagersfontein deixou um rastro de destruição social e ambiental representativo para toda a região. Contudo, os impactos ambientais foram frequentemente ignorados por políticas que incentivaram a atividade devido ao alto valor comercial das pedras preciosas. Diretamente interessado nas transformações da paisagem pelas atividades extrativistas, Dillon Marsh, fotógrafo da Cidade do Cabo, se interessa pela dinâmica entre as quantidades de materiais extraídos e os impactos ambientais visíveis pela atividade. Na série From what ‘s it’s worth (2014-2016) o fotógrafo, através da manipulação gráfica, insere virtualmente na paisagem devastada o equivalente à quantidade condensada de material extraído. A manipulação da imagem, que reúne novamente à paisagem seu minério, expõe de maneira clara os destroços deixados pelas atividades humanas na superfície da Terra. A série de Marsh denuncia de forma ativa e direta o que por anos vem sendo demonstrado por parte de cientistas que se dedicam ao estudo dos impactos ambientais de atividades contemporâneas deste tipo. Em comum, é observado uma pequena quantidade de material em relação à elevada degradação do ambiente [figs. 01 e 02].

 

(Leia o ensaio completo em PDF)

 

Recebido em: 25/04/2023

Aceito em: 15/05/2023

[1] Doutorando, Instituto de Artes, Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Email: claumelof@gmail.com

[2] Artista-pesquisadora. Email: fefe_so@gmail.com

 

Construindo ruínas: relações entre imagem, dados e ecologia mediante as crises ambientais

 

RESUMO: No século XXI tornou-se extremamente difícil abordar assuntos relacionados à mudança social, política, cultural, tecnológica e econômica sem tecer referência sobre as mudanças ou crises ambientais. Se anteriormente a mentalidade da sociedade não estava atenta à penetração do discurso ambiental dentro dos sistemas que fazem o mundo, atualmente as mudanças climáticas, junto aos sistemas tecnológicos, tornam-se um vetor de mudança planetária colocada diretamente na própria essência dos sistemas complexos. Esta proposta de comunicação busca investigar as relações entre imagem, dados e ecologia no pensamento e na produção prática do coletivo Kōdos (formado pelos autores), cujas ações pautam-se nas possibilidades que emergem das ruínas mediante os cenários das mudanças climáticas. Nosso objetivo é especular importantes disparadores que colocam em movimento outras possibilidades de se pensar ciência e tecnologia na prática artística.

PALAVRAS-CHAVE: Crise Ambiental. Arte. Dados. Tecnologia.

 


Constructing Ruins: relationships between image, data, and ecology through environmental crises

 

ABSTRACT: In the 21st century, it has become difficult to address any issues related to social, political, cultural, technological, and economic areas without referencing environmental changes or crises. If, previously, society’s mentality was not attentive to the penetration of environmental discourse within the global systems, climate change, and technological systems have become a vector of planetary change directly in the very essence of the complex systems that involve the world. This proposal seeks to investigate the relationships between image, data, and ecology in the theoretical and practical production of the collective Kodos (Claudio Filho e Fernanda Oliveira), whose focus is discussing the ruins. We aim to speculate on important triggers that set in motion other possibilities for thinking about science and technology in artistic practice.

KEYWORDS: Climate Crisis. Art. Data. Technology

 


FILHO, Claudio de Melo; OLIVEIRA, Fernanda de Souza. Construindo ruínas: relações entre imagem, dados e ecologia mediante as crises ambientais. ClimaCom – Desastres [online], Campinas, ano 10, n. 25., nov . 2023. Available from: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/construindo-ruinas