Com licença, Exu e abre-caminhos: por outros modos de conhecer e construir conhecimentos nas encruzilhadas psicossociais | Mariana de Castro Moreira e Giovani Florencio
Mariana de Castro Moreira [1]
Giovani Florencio [2]
Inã Inã mo juba aiyê / Ina mo juba
Exu do fogo, peço licença. Exu do fogo eu apresento meus respeitos (Machado, 2010, p. 10)
Há muito, temos pensado no ponto cantado que versa “Ê mulambê, ê mulambá, sua saia de retalhos tem história para contar”. Cantado nas noites em que Maria Mulambo vem saudar seus filhos e amigos em terra, penso que essa passagem diz a nós, pesquisadores que têm desafiado as cátedras coloniais do norte que, mais que nos determinar modos de produção de conhecimento, forjaram corpos, subjetividades e modos de pensar/estar no mundo, direcionando flechas do sul ao sul.
Mas não! Em tempos de encruzilhadas como as que temos vivido – marcadas pelo avanço da lógica neoliberal, pelo ultra conservadorismo e pela cultura do ódio, legitimadas pelos últimos governantes e expressas nas tentativas de golpe no Brasil, pela precarização das políticas públicas, pela pandemia da COVID19, dentre muitos outros fios que talvez não nos ajudem a caminhar – este artigo é um exercício de resistência tecido pela afirmação de que sim: temos histórias a contar, a partir dos retalhos que nos compõem. Evocamos, assim, Exu como força motriz que ensina a fazer escolhas, firmar os pés no chão e reencantar nossa caminhada!
(Leia o ensaio completo em PDF)
[1] Docente efetiva do Departamento de Psicologia/Universidade Federal Fluminense/Rio das Ostras. Docente permanente do Programa de Pós-graduação em Psicossociologia de Comunidades e Ecologia Social/PPG EICOS/Universidade Federal do Rio de Janeiro. Email: marianacastromoreira@id.uff.br
[2] Mestrando no Programa de Pós-graduação em Psicossociologia de Comunidades e Ecologia Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ. Email: psigiovaniflorencio@gmail.com.
Com licença, Exu e abre-caminhos: por outros modos de conhecer e construir conhecimentos nas encruzilhadas psicossociais
RESUMO: O artigo propõe o diálogo entre a Psicossociologia e as epistemologias de Exu, tomando a encruzilhada como princípio ético, político, ontológico e metodológico. Afirmamos a necessidade de reinventar modos de pesquisar que rompam com o desencanto da ciência ocidental moderna, cultivando práticas enraizadas no corpo, no território e no afeto. Inspirados pelas pedagogias do cruzo e pelas éticas de encantamento, buscamos construir uma metodologia da encruzilhada, ou melhor, um caminho de pesquisa, que, ao invés de impor roteiros rígidos, abre-se às surpresas, às multiplicidades e às confluências. A cartografia, em diálogo com a Psicossociologia e com Exu, aparece como dispositivo privilegiado para acompanhar processos, ativar a atenção sensível e cruzar encruzilhadas. Assim, afirmamos que pesquisar com Exu é apostar em um movimento que é simultaneamente criação, comunicação e transformação. Trata-se de afirmar práticas de produção de conhecimento que sejam situadas, capazes de produzir conhecimentos plurais e de contribuir na invenção de mundos encantados e coletivos, insurgindo contra os silenciamentos coloniais. Em tempos de crise e desencanto, evocamos Exu para abrir caminhos de pesquisa que sustentem a produção de futuridades vivas e possíveis.
PALAVRAS-CHAVE: Exu. Encruzilhada. Psicossociologia. Cartografia. Metodologia
Con permiso, Exu y abre-caminos: por otros modos de conocer y construir conocimientos en las encrucijadas psicosociales
RESUMEN: El artículo propone el diálogo entre la Psicosociología y las epistemologías de Exu, tomando la encrucijada como principio ético, político, ontológico y metodológico. Afirmamos la necesidad de reinventar modos de investigar que rompan con el desencanto de la ciencia occidental moderna, cultivando prácticas enraizadas en el cuerpo, el territorio y el afecto. Inspirados por las pedagogías del cruce y por las éticas del encantamiento, buscamos construir una metodología de la encrucijada, o mejor dicho, un camino de investigación que, en lugar de imponer guiones rígidos, se abra a las sorpresas, a las multiplicidades y a las confluencias. La cartografía, en diálogo con la Psicosociología y con Exu, aparece como un dispositivo privilegiado para acompañar procesos, activar la atención sensible y cruzar encrucijadas. Así, afirmamos que investigar con Exu es apostar por un movimiento que es simultáneamente creación, comunicación y transformación. Se trata de afirmar prácticas de producción de conocimiento situadas, capaces de generar saberes plurales y de contribuir a la invención de mundos encantados y colectivos, insurgiendo contra los silenciamientos coloniales. En tiempos de crisis y desencanto, evocamos a Exu para abrir caminos de pesquisa que sostengan la producción de futuridades vivas y posibles.
PALABRAS CLAVE: Exu. Encrucijada. Psicosociología. Cartografía. Metodología.
MOREIRA, Mariana de Castro; FLORENCIO, Giovani. Com licença, Exu e abre-caminhos: por outros modos de conhecer e construir conhecimentos nas encruzilhadas psicossociais. ClimaCom – Exu: arte, epistemologia e método [online], Campinas, ano 12, n. 29., dez. 2025. Available from: http://climacom.mudancasclimaticas.net.br/com-licenca-exu/
