Coexistências: conversas tecidas na vida urbana | Aparecida de Fátima Gonçalves Machado Nogarolli

Título | Coexistências: conversas tecidas na vida urbana

Com esta metáfora, de tecer o urbano, trago a dinâmica da Coexistência para a nossa realidade. Quando colocamos uma lente ampliada, pelas urbanidades que compõem e tecem um lugar, é que se tem a sensibilidade de reconhecer no espaço urbano e público as possibilidades de trazer o fluxo da vida na cidade. Este tecido tão colorido que está presente em uma cidade que se compõe, na mistura de cores, formas e nas intersecções que se estabelecem, traz um contexto mais profundo de verdades a serem construídas. A consciência da presença que se transforma em passos na calçada, na escada, na escalada da ruela ou na extensão da avenida larga, dos corredores que são a via da vida urbana, assim como as vias internas de um corpo humano.

 


Autora: Aparecida de Fátima Gonçalves Machado Nogarolli
E-mail: aparecida@actiscomunicacao.com, telefone (41) 99105-8832

Com esta metáfora, de tecer o urbano, trago a dinâmica da Coexistência para a nossa realidade.

Quando colocamos uma lente ampliada, pelas urbanidades que compõem e tecem um lugar, é que se tem a sensibilidade de reconhecer no espaço urbano e público as possibilidades de trazer o fluxo da vida na cidade.

Este tecido tão colorido que está presente em uma cidade que se compõe, na mistura de cores, formas e nas intersecções que se estabelecem, traz um contexto mais profundo de verdades a serem construídas.

A consciência da presença que se transforma em passos na calçada, na escada, na escalada da ruela ou na extensão da avenida larga, dos corredores que são a via da vida urbana, assim como as vias internas de um corpo humano.

Então os organismos se fundem, o externo e o interno, nesta fusão tão profunda quanto tênue, porque transcende a sensatez e beira o estado puro da ideia retida, contida na forma e conteúdo enquanto cidadãos.

E assim surgimos enquanto sujeitos caminhantes, atuantes no jeito de ser, no cotidiano que se constrói com o ato de cada um. Coexistir – enquanto não se compreende que não se separa o que é impossível de separatividade, se resiste em trazer entendimento para esta razão. A razão que vem dos fenômenos comunicativos, nos diálogos que compõem um mundo comum, entre os sujeitos e suas dimensões simbólicas.

A dimensão da coexistência que toma forma neste texto enquanto centralidade, estabelece a possibilidade da pergunta e da busca. O que nos move juntos para uma intersecção de interesses, junto de uma noção de pertencimento que dá sustentação à vida.

A centralidade se expressa como o núcleo da terra ou o momento da fecundação, com o envoltório necessário para que a nidação ocorra e o ser semente, fecunde. Nasça. Quantos “tudos” estão no milagre da vida, na existência e quanto “nos” precisamos neste existir. O que nos falta? A firme decisão do coexistir enquanto sujeitos em sociedade. A unidade plural não se sustenta. Evitamos esta imersão no coletivo se for preciso abrir mão de particularidades, de pequenos “teres” (expressão cunhada entre o prazer e o ter), quanto mais dos grandes.

E assim segue-se na fusão poética das ações particulares, pontos focais, janelas de exposição que possam trazer a ideia de que estamos coexistindo, porém com hora marcada para acabar, as peças teatrais, as temporadas. A consciência para além pressupõe esforço, requer um entendimento de que as particularidades serão convidadas para a festa e precisarão ser compartilhadas no individual e no coletivo, na coexistência.

Neste para além vem o risco da verdade, da tempestade, do vento, do raio, do trovão, da água transbordando esgotos, que deixam de servir a que servem, porque antes foram entupidos, pelos rejeitos distraídos jogados pelos desatentos. Sujeitos estes esquecidos que são, daquela presença no chão, que em não dando para ver, não é preciso recordar, para quê serve.

Serve? Sim, para escoar a água que derramando intensa, caindo do céu, tenha caminho certo, e curto. E não sobre para engolir, nas calçadas, as pessoas, os caminhantes, os que surpreendidos pela fúria das intensidades, das mudanças que a natureza insiste em mostrar, ao dizer que agora, mais do que nunca, ela passa a ser uma participante desta vida do cotidiano. A natureza, então, é a terceira via desta tessitura.

Assim as mudanças chegam, chamadas de climáticas, definindo um limite e um espaço para favorecer a organização da ação. O que se faz com essa intenção que estabelece controle, diante do incontrolável?

O coexistir pressupõe o sujeito, o coletivo, a natureza. Assim o imprevisível é total. Conhecer os indivíduos, um mistério. Conhecer a sociedade, uma ousadia. Prever a natureza e seus impactos, o quase impossível.

O que fazer? É preciso a direção da descoberta necessária: os humanos são docéis voluntariosos diante da natureza caprichosa em seus desejos, que quando quer chegar, chega inteira, ruidosa, levantando-se para os ares, furiosa. Quem sabe a fúria, também de muitos, agora vem, sem pedir nem licença, nem passagem, só vem – para dizer que não tem mais tempo para adiar ou para esquecer, e que as escolhas são ainda mais urgentes.

O tempo chegou, a consciência e a pedagogia da coexistência serão o caminho provável da natureza, integrando a sabedoria dos que ainda se recordam de que somos humanos, num espaço social, na Mãe Terra. Este ainda é o nosso lugar.

NOGAROLLI, Aparecida de Fátima Gonçalves Machado. Coexistências: conversas tecidas na vida urbana. ClimaCom – Coexistências e cocriações [online], Campinas,  ano 8, n. 20. abril 2021. Available from: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/coexistencias-conversas-tecidas/


 

SEÇÃO ARTE |COEXISTÊNCIAS E COCRIAÇÕES  | Ano 8, n. 20, 2021

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