O cancelamento de recursos financeiros para monitoramento ameaça o cerrado brasileiro | Gláucia Pérez

O cerrado é o segundo maior bioma brasileiro em extensão. A sua importância socioeconômica, cultural, hídrica e de biodiversidade se encontra ameaçada por falta de recursos financeiros para o monitoramento da região.

Por | Gláucia Pérez

Editora| Susana Oliveira Dias

 

No início de janeiro deste ano saiu nos principais meios de comunicação do país informação de que após abril de 2022, provavelmente, haverá interrupção no monitoramento do Cerrado brasileiro realizado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE. O motivo é o fim do financiamento pelo Banco Mundial e o Programa de Investimento Florestal – FIP, além do não repasse de verbas do governo federal ao Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação – MCTI, órgão do governo que o INPE está vinculado.

No webinário, do dia 26 de janeiro de 2022, com o tema “O Monitoramento ambiental do Cerrado brasileiro” realizado pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência – SBPC, quatro especialistas da área explicaram a importância do monitoramento do Cerrado brasileiro.

O cerrado é o segundo maior bioma do Brasil e da América do Sul, ocupando cerca de 22% do território nacional, que compreende toda a região central do país, além de Estados das regiões Norte, Nordeste e Sudeste. E ainda concentra as três maiores bacias hidrográficas da América do Sul: Tocantis-Araguaia, São Francisco e Prata.

Cláudio Alencar, coordenador do programa de monitoramento da Amazônia e demais biomas brasileiros do INPE, iniciou dizendo que “o cerrado é quase um quarto da superfície brasileira, e que tem uma importância ecológica por ser a casa de diversas espécies de plantas e animais, e algumas endêmicas, além de ter uma importância fundamental em termos de recursos hídricos”. Explicou ainda que 45% da agricultura, e 35% do rebanho bovino brasileiro está no cerrado, ressaltando a importância socioeconômica da região, e o seu monitoramento.

Alencar explicou que o INPE dispõe de dois grandes sistemas de monitoramento: o Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (PRODES), que faz o “monitoramento anual da supressão de vegetação nativa”; e o de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (DETER) Cerrado que é “um sistema incremental que parte de uma máscara de desmatamento que vem do PRODES”. As informações de ambos os sistemas estão disponibilizados no http://terrabrasilis.dpi.inpe.br, para garantir a “transparência” dos dados informados pelo INPE.

Outro sistema de monitoramento é o MapBiomas, que desde 2015, através de uma “rede colaborativa formada por ONGs, universidades e startups de tecnologia, permite verificar as mudanças de uso da terra no Brasil, e que tem como um dos objetivos entender o que acontece depois das transições, ou seja, quais as mudanças que estão ocorrendo depois do desmatamento, e ao longo do tempo”, disse Tasso Azevedo, coordenador do Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima.

“O bioma como todo perdeu seis milhões de hectares, apenas no Matopiba foi perdido metade disso”, complementou Ane Alencar, diretora de ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia – IPAM. O Matopiba, palavra formada pelas sílabas iniciais de quatro Estados: Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, é uma região que desde meados dos anos 80 é marcada pela expansão agrícola. Essa região teve delimitação e o nome “Matopiba ou Mapitoba” oficializado pelo governo federal em 2015.

Paulo Artaxo, do INCT mudanças climáticas fase 2, subcomponente Impactos nos ecossistemas brasileiros frente às mudanças do uso da terra e à biodiversidade, que foi moderador no webinário, reforçou que o “MapBiomas é uma das iniciativas mais inovadoras do ponto de vista de monitoramento de recursos naturais do mundo inteiro, não apenas do Brasil. É importante reconhecer esse papel do MapBiomas”.

Ao final do webinário, Mercedes Bustamante do INCT mudanças climáticas fase 2, subcomponente Impactos nos ecossistemas brasileiros frente às mudanças do uso da terra e à biodiversidade, coloca que o “cerrado é a savana com a maior diversidade do planeta, e que nos coloca a discussão de como conciliar três grandes desafios globais: o de garantir segurança alimentar, combater a mudança do clima, e ao mesmo tempo de recuperar a perda de biodiversidade”. Acrescentou explicando que a importância do cerrado justifica o monitoramento dessa região de extensão continental: “para entender a dinâmica do uso desse território, e, equilibrar a conservação do bioma, a produção de alimentos, e as demandas de uso de água e energia”. (Link com a notícia completa em pdf)

 

Outras bibliografias consultadas:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Cerrado

https://www.ibflorestas.org.br/bioma/cerrado

https://mapbiomas.org/

https://www.embrapa.br/tema-matopiba/sobre-o-tema

 

 

 

Gláucia Pérez é bolsista TT Fapesp no projeto INCT-Mudanças Climáticas Fase 2 financiado pelo CNPq pro- jeto 465501/2014-1, FAPESP projeto 2014/50848-9 e CAPES projeto 16/2014, sob orientação de Susana Oliveira Dias.

Coletivo e grupo de Pesquisa | multiTÃO: prolifer-artes sub-vertendo ciências, educações e comunicações (CNPq)

Projetos | Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas (INCT-MC) – (Chamada MCTI/CNPq/Capes/FAPs nº 16/2014/Processo Fapesp: 2014/50848-9); Revista ClimaCom: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/ e Revista ClimaCom.