Cartas ao mar para um possível: o que esperamos de nós?
Helane Súzia Silva dos Santos [1]
Carlos Augusto Silva e Silva [2]
Maria dos Remédios de Brito [3]
O vento sopra forte… Vu-uu-uu! Vu-uu-uu! Vu-uu-uu!…..
As águas da Baía do Guajará estão agitadas… Swishh! Swishh! Swishh!…
Três garrafas com cartas são lançadas ao mar…
Conversas suspensas para destinatários incertos…
Carta α
Belém, 12 de agosto de 2015.
Possíveis leitores,
Tenho a sensação de que movimento melhor meus pensamentos quando minha pele é aquecida pelo vapor desta atmosfera equatorial. Escrevo-lhes, numa tarde de céu calcinado e de um silêncio ensurdecedor, para compartilhar com vocês minhas caminhadas por essa cidade, colocando-me à espreita de suas ondulações.
Percorrendo suas ruas, parques, praças, portos, feiras… Senti o quanto são vitais os encontros com outros possíveis que a atravessam, talvez eu estivesse ainda ruminando o trecho que li no livro Diálogos (1998), nele Deleuze, ao ser entrevistado por Parnet, diz que os poderes estabelecidos têm interesse de nos comunicar afetos tristes, num mundo do qual nos “desapossaram” quando nos submeteram ao controle ditado pelo capital. Como agenciar bons encontros com a cidade? Como resistir a esse mundo que parece imerso numa produção social massificada da existência? Como fissurar essa massificação para produzir nichos menores de existências próprias, que fazem fugir, mesmo fugazmente, à disciplina e ao controle?
Parece que a nossa dificuldade em fomentar encontros com outros possíveis que atravessam esta cidade, esteja atrelada a uma questão fundamental: o que esperamos de nós mesmos? Esquivamo-nos dela por banalizarmos nossa existência, essa banalização parece remeter a uma naturalização do que é dado. A ideia de viver nesses espaços, com tantas alterações antrópicas, pode se tornar um hábito determinado pela binaridade causa/efeito. Mas o que pode atravessar a urbanização e seus problemas?
Não há como desconsiderar os malefícios para a qualidade de vida decorrentes da urbanização descomedida, mas não é propósito desta escrita discuti-la. Tais considerações, provavelmente, já são discutidas em exaustivos debates em diferentes áreas, da academia às tribunas legislativas.
Então, esboço essas linhas para conotar minhas sensações ao me colocar no cotidiano dessa cidade como uma garça, que outrora visualizei ziguezagueando o céu, com seu voo labiríntico emparedado pelas altas edificações. Estranheza! Ela não deveria estar sobrevoando os estuários, os rios, as várzeas, os campos de marismas ou as restingas? Como ela produz sua existência num ambiente tão adverso? E ao sentir-me como a garça, sorri. Quão intensamente produtivo foi meu encontro com ela!
Como uma estranha ao universo urbano, imbricado pelo ar poluído produzido pela queima dos combustíveis fósseis, pelos sons quase sempre acima do limite estabelecido e considerado poluição sonora, pelo acúmulo dos descartes orgânicos e inorgânicos atirados nas ruas e nas redes de esgotos, que nos imprimem sentimentos de impotência e lentidão, pude vislumbrar a possibilidade de experimentar outras vitalidades nesse espaço.
Lembrei do texto Que estamos ajudando a fazer de nós mesmos? de Luiz Orlandi (2002), nele é ressaltado que há um sucateamento da humanidade em sua qualidade físico-química de vida na Terra, assim como da decomposição de paisagens que embelezam variadamente a coexistência. Mas a própria vida “resiste e ao mesmo tempo cria outras vitalidades”, como a garça que se desafiara a voar para além do céu aberto.
Há variações contínuas que compõem essa cidade! Nas quais é possível fomentar encontros afirmativos para a vida. Encontros com ares saudáveis, com o verde das copas das árvores, com micro vidas que formam colônias e se tornam visíveis nos troncos das plantas, com a água que invade as ruas, com raízes lenhosas que quebram o concreto das calçadas que as aprisionam… n’ encontros!
Num beco desta cidade, emergem vidas noturnas ávidas por experimentações que borram os modelos, descodificadoras dos bons costumes, ocupam uma calçada que margeia uma praça. Fumaça, corpos se conectando, sons de violão e saxofone, vozes entoam canções… Saltam outros modos de existir entre o binarismo bem/mal, que resistem às formas de repressão. Fazem as vias moleculares urbanas vibrarem mais intensamente.
Como nos apossarmos de um mundo que nos possibilite existências singulares? Quando os gerenciadores das cidades enaltecem discursos universalizantes de como ocupá-las? Mas quem pode controlar as desterritorializações intensivas que permeiam esses espaços?
A cidade se desfaz, refaz, produz, cria! Seus movimentos parecem fissurar a urbanização massificada, típica das grandes cidades. Talvez agora não importe mais sua localização geográfica, mas seus possíveis micro-mundos que ensaiam danças com n’ combinações de passos e ritmos.
Como as águas que seguem o ciclo das marés, vem e vão, lavam e secam, modificam, trazem e levam nutrientes para manter o ciclo biogeoquímico. Nunca são as mesmas águas, misturam-se ao solo, ao ar, aos organismos… Alimentam-se do vento, da chuva, dos sedimentos. Invadem territórios, corroem alicerces, promovem desabamentos, abrem fendas nas barragens, mudam paisagens, criam passagens… São incontidas.
Penso como Deleuze, quando diz que “acreditar no mundo significa, principalmente, suscitar acontecimentos, mesmo pequenos, que escapem ao controle, ou engendrar novos espaços-tempos, mesmo de superfície ou volume reduzidos” (Deleuze, 1992: p. 218), então talvez também possamos ocupar as cidades como as águas, como a garça, como os corpos dos becos… ou como Anahí, a índia que, no meio das chamas, se metamorfoseia em flor, amedrontando os inimigos de sua tribo.
Continuo com meu corpo aquecido pelas brisas equatoriais…
“eu” ocupado por multidões num espaço-tempo.
Aurora
Carta β
Quando o movimento dos rios (ins)piram os grafiteiros
Floresta, entre pororocas de uma lua cheia qualquer
Caro leitor, as suas cartas ainda estão molhadas e chamuscadas por cores, rabiscos, partículas de tintas, um colorido vibrante enleado nas folhas de papel. Suas cartas me lembram as palafitas que encontrei, que também estão chamuscadas… Grafites (im)possíveis, cartas-grafites que contam sobre os grafites-outros produzidos numa ilha, nas paredes de madeira das casas dos ribeirinhos moradores de uma comunidade.
Fonte: página do Sebá Tapajós no facebook [4]
Preciso contar-lhes algo, acabo de retornar à cidade, estava foragido! Não aguentava tantos muros, paredes, revestidos de tons pretos e cinzas que se intercalam até o arranha-céu. Peço que me entenda, ansiava por outras aquarelas! Verde, vermelho, azul… Ah um céu azul! Radiante e esplendoroso derramando vida não sobre campos de flores naturais, mas sobre açaizeiros, mangues, palmeiras, orquestrando os movimentos dos rios. Ah os rios, estes se tornaram para mim ruas, me conduzindo floresta adentro. A cada parada uma descoberta, uma história, um grafite.
Aqueles movimentos da maré ins-piraram os grafiteiros, o encontro foi intenso, subvertendo a arte do grafite que traceja-se numa identidade urbanística, desterritorializando e criando, para si/outros, possibilidades inimagináveis. O que antes era uma floresta de pedras, agora, tornou-se uma floresta com outras vidas, verde, transgressiva. A rua que outrora era aglomerada por carros, invade-se por barcos, peixes, cores movimentativas. O grafite chega à floresta, às águas, às ilhas. O verde que inundava as paisagens-sensações é chamuscado, iguais as cartas que recebo-envio, por cores, rabiscos, sprays, partículas de tintas, um colorido vibrante.
Navegava por entre rios ziguezagueando com o movimento das marés de peito aberto para receber a brisa que escapava da floresta, para encher, esse já gasto pulmão de um ar tão límpido e doce, que dava pra sentir o frescor do orvalho vindo dos açaizeiros. E então mais uma vez dar início ao ciclo desta existência que vos escreve… Parece-me que ali a vida estava embaralhada por todos os lados, criando-se e reinventando-se nas mais improváveis formas, um caos vital.
Fonte: página do Sebá Tapajós no facebook [5]
O oxigênio que saia da mata atravessava meu corpo para então transformar-se em gás carbônico pronto para ser consumido por outra forma de existência… Movimentos dessa complexa máquina da vida. No entanto, buscava por outros modos de oxigenação, outros modos de respiração, aquele ar que perpassava pela criação. Ar que nutre corpos. Cessando essa fonte ao corpo, este não mais aguentaria, poucos minutos seria o suficiente para jogá-lo no rio das representações. Poucos suspiros, um último fôlego, esta é a respiração de muitos corpos que estão sendo asfixiados para seguir regras, ou mesmo por não segui-las. Quem privaria o corpo a tal manancial vital?
Voltando a pensar com o compasso das marés, os desenhos são re-in-ventados. Gesto-corpo-riscado que desata fios, nós, identidades. Forças-diagrama que germinam flora amazônica, e, ainda, derivas-grafite, que faz uma arte adentrar não mais as galerias, agora deseja aventurar-se pelas águas dos rios, e bater na porta dos que estão distantes.
Fonte: página do Sebá Tapajós no facebook [6]
O grafite escapou por linhas de fugas trazendo consigo desterritorializações de atmosferas, corpos. Grafiteiros que esperavam pelo novo compasso da mu-dança, não por que mu-danças possuem maiores intensidades, mas, principalmente por que proporcionam outros encontros alegres ou tristes, e é claro, na ordem do acaso.
O gelado metálico nas mãos ao som de pequenas embarcações, macacos, curupiras, Iaras. Uma floresta cheia de armadilhas, mitos a povoam… O “homem da floresta” vive entre seus valores, seus mitos e suas necessidades. Onde armarei minha armadilha para capturar os meus afetos? Nas margens do rio seria um bom lugar, preferencialmente naquelas margens silenciosas. Então, como isca, usarei um bocado de tinta spray em aerossol, um grafite inacabado, certamente conseguirei capturar meus afetos, paixões… Ser-me-ei tolo, eis que a armadilha estava todo tempo atada no meu corpo, aliás, era eu minha própria armadilha, e assim como os encontros, os afetos também estão na ordem do acaso.
Lendas in-ventadas que também ins-piram encontros artísticos. Encontros que criam, que comem ti…n…ta…s… e, além disso, incitam conhecimentos que beneficia, quem? Portanto, penso com Gilles Deleuze e Félix Guattari (2010) sobre a arte como função criadora de perceptos e afectos, sempre como uma itinerância, transitando entre estados até extirpar o afeto contido nos blocos de sensações. Afetos que metamorfoseiam iconografias urbanas, em iconografias mais que urbanas, outros urbanos, outras iconografias.
Lembro-me vagamente quando o rio invadiu minha casa. Ele escolheu a parede do meu quarto para infiltrar-se. Diferentes dos outros que já cheguei a conhecer, percorreu pela calmaria, e claro, deixando suas marcas. A umidade invadiu meu quarto, e com ela um rio de imagens foi sendo desenhado, não ouvia bulícios de sprays, mas suas marcas estavam sendo desenhadas. Por quem? Para quem? Como? Quem permitiu? Estaria o rio grafitando meu quarto? Obviamente não sabia responder tais indagações que latejavam o meu corpo.
O rio grafiteiro no meu quarto me fez querer grafitar ainda mais, no entanto, com rios-outros, distorcendo os limites entre arte-grafite-rua-rio, numa potência que não apenas cruza afetos, mas que os produz.
Quantos viveres fazem um grafite, um rio, e um rio-grafite? Na busca destas vitalidades encharcada de afetos, o grafiteiro cria possibilidades de fazer artes, grafiteiros que muitas vezes não apenas grafitam, mas picham insatisfeitos com o que os atravessam, ou não atravessam, e, ainda, cansados de muros, paredes, carros, bairros, na busca de outros ambientes.
Antes que você, leitor, pense que estou buscando contrapor arte/grafite e natureza, não é bem por aí que tentarei dialogar, quem sabe, talvez, suscitar possíveis encontros a partir de cartas-sensações, que não buscam pelo destinatário, mas um destinatário qualquer. Todavia, que diálogos surgiriam a partir desta carta sem paradeiro? Cartas-sensações que navegam por águas, poderiam encontrar ancoragem? Temo que sim, temo que não… Temo pelas sensações que s(er)ão ativadas a partir deste encontro.
E neste bloco de sensações, termino esta minha carta-grafite, lançando-a num rio qualquer, entre o mar e um rio, talvez um rio-mar, que neste encontro gera ondas. Venha pororoca, arrebente os ambientes estabelecidos, arrancando-os do lugar fixador de vidas, com um barulho ensurdecedor, modifique-os, modifique-os, modifique-os… n’vezes… Viole com mansidão? Também, viole como desejares, inclusive com violência. Resista, re-exista, insista em novos fluxos! Aproveite e leve consigo minhas cartas-grafitadas a um grafiteiro qualquer, mas antes pulverize pinceladas de vida por onde passares.
Para outro grafiteiro qualquer…
C.A
Carta γ
Belém, 02 de novembro de 2016.
Perdoem-me, meus queridos amigos, que já não tenha agradecido suas cartas; cada uma me faz sentir a intensidade das preocupações que nos atravessam nesses tempos de poucas recepções. Sinto que estão juntos de um trabalho que é justo: pensar o que temos feitos de nós junto com os outros, com a cultura, com a natureza, com o coletivo, com as cidades. Cada vez mais me parece urgente que somente como combatentes temos o direto de estar vivos; como combatentes de um mundo possível vindouro, cuja formação pressagiamos antes dentro de nós mesmos, naquelas horas que justamente podemos nos sentir estranhos ao nosso tempo, e que se vive em mundo em que nos faz pensar a urgência de um porvir.
Confesso que nada entendo de profundidade sobre as questões ambientais ou ecológicas, mas observo sua estimada relevância para os tempos atuais. Essas questões passam pelos problemas da cidade, pelos problemas humanos. Afinal como não achar pertinente uma área de conhecimento, como a ecologia, que estuda o meio ambiente e as relações desse meio com todos os viventes? Porém, a quem interessa a demarcação recente dessa ciência que bifurca mais uma vez a Biologia? Do mesmo modo, a quem interessa as questões da cidade? Ao meu ver seria a todos os viventes… A todos aqueles que têm preocupações com as vidas…
Sobre o meio ambiente, é sabido que ele afeta as interações em todos os sentidos, incluindo as funções vitais, comportamento, metabolismo, hábito… Ele determina qualidade de vida, permanência e procriação das espécies, ou pode negar tudo isso dependendo de como se interage com o meio e o seu funcionamento. O vivente altera, modifica, transforma seu meio permanentemente e essas transformações podem configurar problemas globais vitais. O meio é tão importante que reverbera até mesmo no modo como se degusta um alimento, como se dorme, como se ama, ou trabalha. Isso valeria para se pensar o como se habita as cidades, as ruas, os espaços públicos. Então, como não dizer que esse assunto não deva ser tema de primeira ordem? Sua reflexão vem ganhando destaque por pesquisadores sérios, trazendo reflexões importantíssimas para pensar a relação do homem com o seu meio, a relação do vivente humano com a natureza e com a cultura. Um pensador interessante que pontua certas questões é Michel Serres (2011), chamando atenção para tais questões a partir de um olhar filosófico. Como o homem interage com seu meio? Que relações políticas e éticas são travadas? O que cabe ao homem na sua relação com o meio e com as cidades?
Meus queridos amigos, peço-lhes perdão pelas palavras rudes que imbricam essa escrita e deixo para vocês pensarem certas questões, porém, insisto que não se deve dar pausa à solidão e ao silêncio para que certas reflexões sejam medidas e meditadas.
Com muitas saudades de nossos encontros regados a palavras, desejo-lhes alegria e bons encontros… Que façamos da vida, do meio, das cidades, espaços de convivências regados ao diálogo e à política.
Com afeto,
Anaiis
Ondas e ondas…outras ondas!
Olhando o mar, sonho sem ter de quê.
Olhando o mar, sonho sem ter de quê.
Nada no mar, salvo o ser mar, se vê.
Mas de se nada ver quanto a alma sonha!
De que me servem a verdade e a fé?
(…)
(Fernando Pessoa)
Foto: Helane Santos
Pássaros, ondas, mar… Alturas, baixo… Longe, cor, mato, cidade, homem… Onde olhamos à distância? Mar, pássaros, parecem bem mais poderosos do que somos… Ambicionamos o que é longe, onde tudo ainda é mar, acima da cabeça humana… Mas para onde queremos ir? Queremos transpor o mar? Para onde as ondas nos arrastam? O que vale para cada um de nós? O que buscamos em nossa direção? O que esperamos?
O mar, como espaço aberto para a aventura, a descoberta, o avanço, a coragem, o desconhecido… Mar quente, mar frio, mar vermelho, mar azul… Imensidão… Barcos, navios, veleiros, canoas, embarcações… O mundo… Aberto, vida: mistérios… Mar: um signo! Mar, ondas! Mar… Aventuras, águas salgadas, doces, profundas, turbulentas, navegáveis, inavegáveis… Águas, oceanos… Riachos… Ondas!!
As garrafas não seguem mapas, nem trajetos definidos, apenas boiam sendo arrastadas pelas correntes marítimas. Carregam possibilidades de outras vitalidades expressas em cartas. Elas resistem às forças das águas, à salinidade, ao vento, às ondas, às intempéries… Para quem sabe cataclismar outras cidades, outros mundos… São ca(r)tacli(s)mas… Não se sabe de antemão o que podem, nem o que irão afetar, pois o que pode mesmo um corpo?
Bibliografia
Carta α
DELEUZE, G.; PARNET, C. Diálogos. São Paulo: Escuta. 1998.
DELEUZE, G. Conversações. São Paulo: Editora 34, 1992.
ORLANDI, L. B. L. Que estamos ajudando a fazer de nós mesmos? In: RAGO, M.; ORLANDI, L. B. L; VEIGA-NETO, A. (Orgs.). Imagens de Foucault e Deleuze – ressonâncias nietzscheanas. Rio de Janeiro, DP&A Ed., 2002, pp. 217-238.
Carta β
DELEUZE, G.; GUATTARI, F. O que é a filosofia? São Paulo, Editora 34, 2010.
Carta γ
SERRES, M. O mal limpo: poluir para se apropriar? Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2011.
PESSOA, F. Novas Poesias Inéditas. Lisboa: Ática, 1973.
Notas sobre a Carta β
Esta carta foi pensada a partir do encontro que fiz com a ilha do Combu (região das ilhas do município de Belém do Pará), no qual, pude conhecer um pouco do trabalho artístico visual Sebá Tapajós, acompanhado de seis grafiteiros. O objetivo do projeto denominado “Street River” foi levar um pouco da arte urbana para as casas dos ribeirinhos que moram nas comunidades na ilha de Combu.
Imagens da Carta β
Extraídas da página de Sebá Tapajós no Facebook (acesso em agosto de 2016)
Recebido em: 15/12/2016
Aceito em: 13/03/2017
[1] Doutora em Educação em Ciências. É professora do Instituto Federal de Educação do Pará.
[2] Mestrando em Educação em Ciências pela Universidade Federal do Pará/Instituto de Educação Matemática e Científica.
[3] Professora da Universidade Federal do Pará.
[4] Disponível em: https://www.facebook.com/sebatapajos/?fref=ts. Acesso em ago. 2016.
[5] Disponível em: https://www.facebook.com/sebatapajos/?fref=ts. Acesso em ago. 2016.
[6] Disponível em: https://www.facebook.com/sebatapajos/?fref=ts. Acesso em ago. 2016.
Cartas ao mar para um possível: o que esperamos de nós?
RESUMO: Três cartas são lançadas ao mar em garrafas separadas, contendo conversas suspensas para destinatários incertos. A carta α, escrita sob o calor da atmosfera equatorial, compartilha sensações a partir de caminhadas pelas ruas, parques e praças da cidade de Belém do Pará. Na carta β, imagens grafitadas em casas ribeirinhas são intercaladas ao texto, subvertendo a arte do grafite tracejada numa identidade urbanística, desterritorializando para si/outros, possibilidades inimagináveis. O movimento dos rios (ins)piram os grafiteiros, que parecem querer nos dizer: resista, re-exista, insista em novos fluxos! A carta γ, levanta questões sobre o que temos feitos de nós junto com os outros, com a cultura, com a natureza, com o coletivo, com as cidades, principalmente em relação às questões ambientais ou ecológicas. Não quer dar respostas, mas fazer questionamentos para que possamos movimentar o pensamento. As garrafas não seguem mapas, nem trajetos definidos, apenas boiam sendo arrastadas pelas correntes marítimas. Carregam possibilidades de outras vitalidades expressas em cartas. Elas resistem às forças das águas, à salinidade, ao vento, às ondas, às intempéries para quem sabe cataclismar outras cidades, outros mundos.
PALAVRAS-CHAVE: Cartas. Natureza. Outras vitalidades.
Letters to the sea to a possible: what do we expect from us?
ABSTRACT: Three letters are thrown into the sea in separate bottles, containing suspended conversations for uncertain recipients. The letter α, written under the heat of the equatorial atmosphere, shares sensations from walks through the streets, parks and squares of the city of Belém do Pará. In the letter β, graffiti images in riverside houses are intercalated to the text, subverting the art of graphite. Dashed in an urban identity, deterritorializing for themselves / others, unimaginable possibilities. The movement of the rivers (ins)graze the graffiti artists, who seem to want to tell us: resist, re-exist, insist on new flows! The letter γ raises questions about what we have done with ourselves, with others, with culture, with nature, with the collective, with cities, especially with regard to environmental or ecological issues. It does not want to give answers, but to ask questions so that we can move the thought. The bottles do not follow maps or defined paths, they just float being drawn by the sea currents. They carry possibilities of other vitalities expressed in letters. They resist the forces of water, salinity, the wind, the waves, the weather for those who know how to cataclysm other cities, other worlds.
KEYWORDS: Letters. Nature. Other vitalities.