Cantar, contar, imagear: sopros para uma educação intercultural indígena com Aldeia Ibiramã Kiriri do Acré | Rafael Caetano do Nascimento


 

Rafael Caetano do Nascimento[1]

 

 

Introdução

Em um mundo governado cada vez mais por dispositivos biopolíticos, os quais colocam no centro de sua atividade política a docilização dos corpos e a normatização da vida de grupos e indivíduos, o ser humano é desapropriado de suas forças germinativas de si e de mundo, de sua pulsão de criação individual e coletiva (Rolnik, 2018). A educação, entendida aqui como uma arte de viver e, portanto, uma experiência ética-estética na produção de presenças no/com o mundo, aparece como trabalho micropolítico no sentido de proporcionar uma reapropriação ontológica ao ser humano e reestabelecer uma estética da existência a ser tecida pelos agenciamentos em encontros com variadas formas de vida (Rolnik, 2022).

Povos indígenas, com suas cosmovisões e regimes conceituais, instigam outros modos de se afetar, existir e compor com a vida e os seres (Krenak, 2019; 2020b; 2022; Wunder, 2017). Assim também ensinam o povo originário Kiriri do Acré que, em forte ligação com seus Mestres Encantados, provocam a pensar políticas de vida (Simas & Rufino, 2020) que se dão em uma ampla rede de relações com uma miríade de seres visíveis e não-visíveis, humanos e outros-que-humanos[2].

A Aldeia Ibiramã Kiriri do Acré está localizada no município de Caldas (MG) no bairro Rio Verde, a 170 Km da cidade de Campinas. Este povo é originário do oeste da Bahia, tendo se estabelecido desde a década de 80 no município de Muquém do São Francisco (BA). Parte da aldeia de Muquém migrou para a região de Caldas (MG) no ano de 2017 por motivos que envolvem a busca de terras férteis para plantios, questões ligadas às mudanças climáticas, alterações ambientais e diminuição da vazão do Rio São Francisco, devido a construção de barragens e sua transposição. Nessa busca de melhores condições para suas vidas e, assim, dar continuidade a seu modo de viver, atualmente são cerca de 13 famílias estabelecidas numa área reconhecida como Terra Indígena, mas aguardando a demarcação pela FUNAI, e uma população de aproximadamente 72 moradores (Ramos; Pankaru; Wunder, 2021). 

 

(Leia o ensaio completo em PDF)

 

Recebido em: 01/03/2024

Aceito em: 01/06/2024

[1] Doutorando na Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas – Unicamp. Email: racanascimento@gmail.com

Cantar, contar, imagear: sopros para uma educação intercultural indígena com Aldeia Ibiramã Kiriri do Acré

 

RESUMO: O artigo objetiva apresentar análises preliminares sobre as experiências do projeto de extensão Ciclos de oficinas de criação: entre palavras, imagens e sons com Aldeia Ibiramã Kiriri do Acré tecendo um diálogo entre a Filosofia da Diferença (Deleuze, 2018; Rolnik, 2018), a educação intercultural (Almeida, 2014) e os conceitos imagear, de Ferreira da Silva (2019), e palavras germinantes, de Nêgo Bispo (Dorneles, 2021). Cantar e contar foi o modo como o povo Kiriri do Acré se apropriou do espaço de criação coletiva aberto pelo projeto, o qual objetivou apoiar a Escola Estadual Indígena da aldeia com o desenvolvimento de atividades artísticas, culturais e educativas através de oficinas com caráter inventivo envolvendo práticas de desenho, fotografia e colagem, tendo como provocadores dos processos saberes Kiriri do Acré. Os resultados colocam em evidência um rico universo conceitual presente na cosmologia desse povo, assim como em seus saberes éticos e estéticos, que abre para pensar a escola desde um lugar onde cosmologias indígenas sejam criadoras de encontros entre constelações de seres visíveis e não-visíveis, humanos, não humanos e outros-que-humanos, adentrando dimensões éticas que podem reavivar a educação escolar no diálogo com as diversas manifestações de vida existentes na natureza.

PALAVRAS-CHAVE: Extensão Universitária. Educação Intercultural Indígena. Ancestralidade.

 


Cantar, contar, imagear: alientos para una educación intercultural indígena con Aldeia Ibiramã Kiriri do Acré

 

RESUMEN: El artículo tiene como objetivo presentar análisis preliminares sobre las experiencias del proyecto de extensión “Ciclos de talleres de creación: entre palabras, imágenes y sonidos con Aldeia Ibiramã Kiriri do Acré”, tejiendo un diálogo entre la Filosofía de la Diferencia (Deleuze, 2018; Rolnik, 2018), la educación intercultural (Almeida, 2014) y los conceptos de imagear, de Ferreira da Silva (2019), y palabras germinantes, de Nêgo Bispo (Dorneles, 2021). Cantar y contar fue la forma en que el pueblo Kiriri do Acré se apropió del espacio de creación colectiva abierto por el proyecto, el cual tuvo como objetivo apoyar a la Escuela Estatal Indígena de la aldea mediante el desarrollo de actividades artísticas, culturales y educativas a través de talleres con un carácter inventivo, involucrando prácticas de dibujo, fotografía y collage, teniendo como provocadores de los procesos los saberes Kiriri do Acré. Los resultados destacan un rico universo conceptual presente en la cosmología de este pueblo, así como en sus saberes éticos y estéticos, que abre la posibilidad de pensar la escuela desde un lugar donde las cosmologías indígenas sean creadoras de encuentros entre constelaciones de seres visibles e invisibles, humanos, no humanos y otros-que-humanos, adentrándose en dimensiones éticas que pueden revitalizar la educación escolar en diálogo con las diversas manifestaciones de vida existentes en la naturaleza.

PALABRAS CLAVE: Extensión Universitaria. Educación Intercultural Indígena. Ancestralidad. 

 


NASCIMENTO, Rafael Caetano do. Cantar, contar, imagear: sopros para uma educação intercultural indígena com Aldeia Ibiramã Kiriri do Acré. ClimaCom – Territórios e povos indígenas [online], Campinas, ano 11, n. 26., jun . 2024. Available from: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/cantar-contar-imagear-sopros/