Bandeira de ninguém | Chana de Moura
Título | Bandeira de ninguém
A bandeira é de importância crítica para a manutenção e reprodução da identidade de um país, pois conecta as pessoas à sua nação, lembrando-lhes o que seu país representa. Entretanto, uma bandeira também pode ser usada para aumentar um certo senso de excepcionalismo nacional. Por isso, as bandeiras representam um instrumento recorrente de nacionalismo que tem sido historicamente usado para justificar e validar diferentes atos de violência contra minorias ao longo da história. Em 2018, logo após a eleição de Jair Bolsonaro como presidente do Brasil, o nível de violência contra minorias brasileiras começou a crescer exponencialmente em todo o país. O aumento dos incidentes violentos é frequentemente relacionado à instigação da violência presente no discurso político de Bolsonaro, repleto de ideais nacionalistas e discriminatórios. A bandeira é um símbolo tão essencial para aquilo que defende a família Bolsonaro que Flávio Bolsonaro chegou a enxugar lágrimas com a bandeira nacional. Após uma breve leitura de imagem do vídeo, percebe-se que a mão usada por ele é a mão na qual leva sua aliança de casamento. Dois elementos propagandísticos fortes desse governo estão presentes no vídeo: a pátria e a família tradicional. Para desenvolver a Bandeira de Ninguém, fragmentei a bandeira nacional brasileira e coloquei suas partes em frascos de laboratório como uma tentativa simbólica de dissolver a ideia utópica de uma identidade brasileira unificada. Os fragmentos foram então sobrepostos por uma mistura de bactérias coletadas de diferentes indivíduos pertencentes às minorias como a comunidade Lgbtqia+, povos indígenas e povos negros brasileiros, bem como de elementos relacionados às suas culturas (peças de arte, joias, roupas etc.). Em vez de uma identidade unificada e estática, o resultado foi uma combinação viva e misturada de identidades brasileiras: uma miscigenação que a bandeira parece não querer abraçar. Conforme as bactérias e outros microorganismos começaram rapidamente a assumir o controle dos pedaços da bandeira, eles se dissolveram e os transformaram. Os microorganismos passaram a decompor uma poderosa ferramenta do nacionalismo na velocidade da misericórdia da natureza. Após tirar algumas fotos do processo de colonização dos microrganismos, manipulei alguns deles, criando transmutações ainda mais coloridas do que um dia foi a bandeira nacional de um país.
Países de produção: Alemanha e Brasil. Ano: 2021.
Chana de Moura
Doutoranda na Universidade de Arte e de Design de Linz
chanademoura@gmail.com
MOURA, Chana de.. Bandeira de ninguém. ClimaCom – Diante dos negacionismos [online], Campinas, ano 8, n. 21. dezembro 2021. Available from: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/baile-do-fim-do-mundo/
SEÇÃO ARTE | DIANTE DOS NEGACIONISMOS | Ano 8, n. 21, 2021
ARQUIVO ARTE |TODAS EDIÇÕES ANTERIORES