Autômatos poéticos em madeira
TÍTULO: Autômatos poéticos em madeira: intensificadores de experiências mínimas, ou de como tornar-se digno de seguir as árvores
O artista Eduardo Salzane compartilhou técnicas, procedimentos e materiais para a construção de autômatos poéticos de madeira. Dispôs uma mesa preparada atentamente com pedaços de madeira já cortados em diferentes formatos, lixas, pregos, martelos, alicates, colas, e algumas máquinas, como furadeira e serra elétrica. Experimentamos a árdua criação de mecânicas menores, trabalhando sempre no limite, avaliando atentamente o que funcionava e o que não funcionava. Havia sempre um defeito nos materiais, uma falha em seguir as instruções, uma dificuldade de juntar diferentes materiais (madeira e metal, por exemplo), um medo de lidar com ferramentas nunca antes experimentadas. A ampla experiência de Eduardo não dava garantias, mas confiança. Era preciso testar várias vezes, voltar, refazer, insistir. Todo um aprendizado de como dar atenção aos mecanismos e aos processos, e não aos produtos finais. Perceber que a singularidade de cada um dos autômatos reside, para o artista, não em suas formas finais, mas na qualidade do movimento criado. O que faz pensar numa espécie de vida própria do movimento, independente de qualquer forma. Um encontro para dar existência a pequenas esculturas que se faz também convite para seguirmos proliferando esses modos práticos e intuitivos de pensar, fazer e estar no mundo. Um chamado para nos doarmos à dura tarefa de fazer existir movimentos sensíveis que nos conectam às árvores, aves, ondas e baleias…
Ficha técnica
Oficina: Eduardo Salzane
<https://virtuwall.wordpress.com/portfolio/eduardo-salzane/>
Autômatos: Andressa Boel, Carolina Scartezini, Érica Araium, Irêo Lima, Giovana Spoladore Amaral, Maria Luiza Canela de Almeida, Rodrigo Reis Rodrigues, Sara Melo, Tatiana Oliveira, Tânia Campos, Sebastian Wiedemann e Susana Dias.
Fotos: Isadora Rinelle
Organização do evento: Susana Dias
Texto: Susana Dias
Data: 04/04
Local: Centro Cultural Casarão do Barão
Esta atividade fez parte da proposta da disciplina “Arte, ciência e tecnologia” – MDCC-Labjor-IEL-Unicamp primeiro semestre de 2018
Disciplina: JC012 Arte, ciência e tecnologia
Professora – Dra. Susana Dias
Nesta disciplina experimentaremos as florestas como parceiras de pensamento e escrita, ou seja, a transformação das florestas em material de pensamento e escrita. Um pensar e escrever (seja por imagens, palavras, sons, tintas, corpos…) que busca se afetar pelos não-humanos – uma ênfase muito importante hoje dos estudos de ciência e tecnologia, nos estudos multiespécies, nas chamadas linhas de pensamento pós-humanistas. Trata-se de ganhar intimidade com as florestas, conviver com as coisas, seres, mundos e correr o risco de ser devorado por eles. Co-evoluir perto-dentro-junto às florestas, em que nada está só e tudo se converte numa complexidade viva, numa multirelacionalidade em constante transmutação. Talvez assim, acordar uma divulgação científica e cultural que prefere não falar sobre as florestas, mas antes propor-se como encontro com as potências-florestas. Pois que seria menos pensar em comunicar florestas já dadas, e mais um entrar em comunicação com florestas que estão (e precisam estar) em constante formação e movimento. Quem sabe, deste modo, nos tornemos dignos de que as florestas entrem em comunicação conosco, nos tornemos dignos de que elas proliferem por textos, fotografias, pinturas, esculturas, criações sonoras etc., em novas e originais emoções, em novos modos de existir e afetar. A disciplina será dividida em três blocos: 1. Da intimidade com os materiais; 2. Do aprender a pensar com a Terra; 3. Da atentividade e re-ligação com múltiplos modos de existência. Em cada bloco estão propostas leituras e encontros com práticas singulares de distintos ofícios (cineasta, escultor, cientista, babalorixá e ialorixá), pois nos interessam as artes, ciências e tecnologias – com minúsculas e no plural – envolvidas em um fazer. Trata-se de um enfoque mesopolítico (Stengers) em que o foco não são as abstrações e idealizações, mas as técnicas, procedimentos e materiais. Por isso as leituras serão experimentadas nas aulas não apenas através de uma conversa/debate, mas por meio da invenção de passagens incessantes entre o ler-falar-escrever-desenhar-pintar etc. durante a criação coletiva de composições sensíveis. Uma aposta na necessidade de colocarmos o corpo para pensar e escrever, de fazer corpo com as coisas-seres-mundos. Uma aposta que levamos a sério em nosso grupo de pesquisa multiTÃO, no ateliê Orssarara e na revista ClimaCom. Uma aposta de quem trabalha com comunicação-divulgação para quem só faz sentido uma ideia de leitura ligada à escrita (ler é escrever), assim como uma ideia de escrita expandida, que passa não apenas pelas palavras, mas pelos mais diversos materiais e procedimentos, pelos mais diversos problemas.
Programa de Pós-Graduação Mestrado em Divulgação Científica e Cultural (MDCC) do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) e Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)
Projetos:
– Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas (INCT-MC) – (Chamada MCTI/CNPq/Capes/FAPs nº 16/2014/Processo Fapesp: 2014/50848-9)
– “Por uma nova ecologia das emissões e disseminações: como a comunicação pode modular a mais intensa potência de existir do humano diante das mudanças climáticas?” (CNPq).
– “Imediações aberrantes: processos de pesquisa-criação entre artes, ciências e filosofia para experimentação da comunicação como ecologia de afetos” (Pibic-Faepex)
– Revista ClimaCom: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/
SALZANE, Eduardo. Autômatos poéticos em madeira. ClimaCom – Diálogos do Antropoceno [online], Campinas, ano. 5, n. 12. Ago. 2018 . Available from: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/?p=9369
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SEÇÃO LABORATÓRIO-ATELIÊ |DIÁLOGOS DO ANTROPOCENO |Ano 5, n. 12, 2018
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