Arte-educação, arte popular e memória: quando os monstros-memória fogem pelas frestas da cidade | Nicole Izzo Piccinin e Selma Machado Simão


Nicole Izzo Piccinin [1]

Selma Machado Simão [2]

Quando os monstros-memória fogem pelas frestas da cidade

Ao tratar da memória, pode ser comum ter-se a impressão de que refira-se a um lugar estático e bem distante dos sujeitos presentes. Em geral, acredita-se que o passado é cristalizado em seu momento pontual, sem que nada mais possa ser feito a respeito. Entretanto, ao reconstruirmos a memória no tempo vigente, estamos também alterando as lembranças do passado. Ao mesmo tempo em que atuamos no presente, estabelecemos vínculos entre esses dois momentos, presente e passado tecendo uma possibilidade de troca e criação de novos cenários, além de contribuir para a valorização e permanência de identidades e culturas. Sendo assim, as tradições e manifestações culturais são de extrema importância para a existência e manutenção da ação que mantém vivas as histórias que cultivam a ancestralidade dos diferentes grupos. É possível construir identidades através das conexões feitas através da reconstrução da memória, preservando também a vida dos grupos pertencentes a essas tradições. Portanto, é importante a noção de coletivo e do mesmo estar unido no momento de compartilhamento, pois, segundo Ailton Krenak, “a experiência do sujeito coletivo é potência e invenção de vida” (2020, p.101). 

A pesquisa se refere ao Projeto Experimental realizado ao longo do ano de 2022 direcionada à conclusão da minha graduação em Artes Visuais. Ao conectar minhas experiências pessoas com os conceitos acadêmicos, percebi como os dias de domingo têm cheiro de torta de linguiça no forno, assim como têm o toque macio da farinha espalhada na mesa de madeira para abrir a massa fresca do macarrão. Aliados a estas impressões, os domingos também têm o som do falatório da minha mãe e de minhas tias sobre algum assunto do momento, intercalado com explicações para as gerações mais novas presentes na cozinha sobre os trejeitos especiais relativos às receitas que estamos fazendo juntas. Os almoços de domingo na família sempre foram momentos de cozinhar, comer e conversar e ganharam significado como trocas coletivas afetivas, estabelecendo vínculos entre o passado e presente que mantém viva não só essa tradição particular da minha família, mas também me reafirmam a importância desses momentos. Lembranças relevantes na preservação de memórias e conhecimentos, as quais me constituem.

(Leia o artigo completo em PDF).

 

Recebido em: 01/03/2024

Aceito em: 01/06/2024

 

[1] Mestranda em Artes Visuais na linha de História, Teoria e Crítica pela Universidade Estadual de Campinas. Email: nicole.izzopi@gmail.com 

[2] Docente do Curso de Graduação e Pós-graduação em Artes Visuais na Unicamp. Email: selmams@unicamp.br

Arte-educação, arte popular e memória: quando os monstros-memória fogem pelas frestas da cidade

 

RESUMO:Essa pesquisa explora os resultados que foram obtidos a partir da realização de uma intervenção educativa na escola EMEF Padre Francisco Silva em Campinas, São Paulo. A proposta se relaciona com uma pesquisa de Iniciação Científica finalizada em 2022. O tema foi baseado nos “monstros-memória” buscando um sentido lúdico de representação do passado pelos estudantes, o qual foi reconstruído por atividades educacionais baseadas nas asserções da Arte Popular. 


PALAVRAS-CHAVE: Monstros-memória. Arte-educação. Arte Popular. Memória.


Art-education, popular art and memory: when the memory-monsters escape through the gaps in the city

 

ABSTRACT: This research explores the results that were obtained from carrying out an educational intervention at the EMEF Padre Francisco Silva school in Campinas, São Paulo. The proposal is related to a Scientific Initiation research completed in 2022. The theme was based on “memory monsters” seeking a playful sense of representation of the past by students, which was reconstructed through educational activities based on the assertions of Popular Art.

KEYWORDS: Memory monsters. Art education. Popular art. Memory.


PICCININ, Nicole Izzo; SIMÃO, Selma Machado. Arte-educação, arte popular e memória: quando os monstros-memória fogem pelas frestas da cidade. ClimaCom – Territórios e povos indígenas [Online], Campinas, ano 11,  n. 26,  jun. 2024. Available from: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/arte-educacao-arte-popular/