Amoa hi a Árvore dos cantos como meio para narrativar e aprender a falar com as plantas | Keyme Gomes Lourenço


Keyme Gomes Lourenço[1]

Que tal ler esse texto ouvindo uma música
composta pela cantora-compositora Camila Lordi
inspirada na Amoa hi?
O som está disponível no link: https://youtu.be/JXvMNgNbITc,
acesso-o, coloque para ouvir e venha ler.

AMOA HI

Durante o curso de Doutorado em Educação pude entrar em contato com as leituras do campo da Antropologia a partir de uma disciplina onde buscava-se discutir o Antropoceno, outras filosofias que não as ocidentais, a Arte e a Educação. Ao realizar a leitura da obra A queda do céu de Davi Kopenawa e Bruce Albert (2015), no capítulo quatro, Os ancestrais animais, um encontro entre uma árvore e eu aconteceu. Apesar de estar rodeado por árvores dos jardins do campus da universidade quando fiz a leitura, o encontro não tinha sido com nenhuma delas. Era com uma outra que ocupava as linhas e folhas do livro de Kopenawa e Bruce Albert, a Amoa hi, a árvore dos cantos Yanomamis.

Nas palavras do Xamã Yanomami Davi Kopenawa, Omama é tudo que gera vida na terra, é a entidade criadora de tudo, na cultura Yanomami. Omama também foi responsável pela criação do homem branco (napë), mas estes teriam sido levados a terras distantes e inférteis por uma grande enchente. Omama modelou a Amoa hi como quem modela barro, mas não sei o material ao certo. A pintou com tinta natural feita de semente de urucum. Para que o vento não levasse tudo que havia produzido, Omama colocou montanhas na terra que acolhessem sua criação. Ele plantou a árvore Amoa hi onde a Terra termina, lá onde estão os pés do céu fincados, todo tempo sustentado pelo espírito do jabuti e do tatu-canastra. Essa árvore viva partilha suas melodias para os xapiri que são os espíritos que segundo a filosofia Yanomami protegem a terra-floresta. A Amoa hi soa cantos compostos por palavras que não se repetem, nunca ouvidas, todas diferentes. Os cantos cantados pelos espíritos xapiri provêm dessa árvore. É ela quem os ensinam.

(Leia o artigo completo em PDF).

 

Recebido em: 15/09/2024

Aceito em: 15/11/2024

 

[1] Doutorando e Mestre em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Uberlândia. Licenciado em Ciências Biológicas e em pedagogia. Email: keymelourenco@gmail.com.

Amoa hi a Árvore dos cantos como meio para narrativar e aprender a falar com as plantas

 

RESUMO: Neste ensaio, propomos rotas possíveis para que possamos aprender a falar com as plantas, a partir do próprio canto e palavras soados por elas. Para isso é proposto uma maneira para desencadear narrativas vegetais para pesquisa (narrativar) e apresentado os circuitos narrativos formados por elas. Para isso, foram realizados estudos sobre a Árvore dos Cantos, Amoa hi, apresentada pelo xamã Davi Kopenawa e Bruce e pelos Pajés Yanomamis Parahiteri, somadas às leituras da Filosofia da Diferença de Deleuze e Guattari, Emanuelle Coccia, Lapoujade, entre outros. O texto se organiza primeiramente, apresentando a filosofia Yanomami através da Amoa hi e seus cantos. Na segunda parte foram feitos mergulhos conceituais no que seria o circuito narrativo e o narrativar. Na terceira parte tecemos questões acerca do outramento vegetal e por fim, na quarta parte apresentamos experimentações realizadas com o narrativar para a pesquisa, relacionadas à contos-jardinagens que nos aproximam das plantas e daqueles que jardinam o mundo com elas. Com as experimentações aprendemos que as plantas e tudo que elas atraem para esse jardim, só poderiam então existirem, a partir do contrato que se instala entre os jardineiros que jardinam, que vão formando camadas de jardinagem entre podas, arranques, semeio, agoadas, brigas, frutos caídos, polinização, reviro de terra e acompanhamentos. Plantas que fazem mundo, mas que também advém, compõem, da fabricação de mundos dos jardineiros.


PALAVRAS-CHAVE:
Jardinagem. Árvore dos cantos. Narrativar.


Amoa hi, the Tree of Songs, as a means to narrativize and learn to speak with plants

 

ABSTRACT: In this essay, we propose possible routes for us to learn to speak with plants, based on their own songs and words. To this end, we propose a way to trigger plant narratives for research (narrative) and present the narrative circuits formed by them. To this end, we conducted studies on the Tree of Songs, Amoa hi, presented by the shaman Davi Kopenawa and Bruce and by the Yanomami Pajés Parahiteri, in addition to readings of the Philosophy of Difference by Deleuze and Guattari, Emanuelle Coccia, Lapoujade, among others. The text is organized firstly, presenting Yanomami philosophy through Amoa hi and its songs. In the second part, we delve into the conceptual aspects of what the narrative circuit and the narrative would be. In the third part, we raise questions about the otherness of plants and, finally, in the fourth part, we present experiments carried out with the narrative for research, related to gardening tales that bring us closer to plants and those who garden the world with them. Through experimentation, we learned that plants and everything they attract to this garden could only exist based on the contract established between the gardeners who garden, who form layers of gardening through pruning, pulling, sowing, watering, fighting, falling fruit, pollination, turning over the soil and monitoring. Plants that make up the world, but that also come from, compose, the gardeners’ world-making.

KEYWORDS: Gardening. Tree of songs. Narrativize.


LOURENÇO, Keyme Gomes. Amoa hi a Árvore dos cantos como meio para narrativar e aprender a falar com as plantas. ClimaCom – Desvios do ‘ambiental'” [Online], Campinas, ano 11, n. 27., dez. 2024. Available from: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/amoa-hi/