Afetos líticos

Título: Afetos líticos (Projeto Fractosferas)


Resumo: Heidegger dissera que as pedras não têm mundo, que elas acontecem no mundo sem que possam construir por si uma relação com o mundo. Queremos afirmar o contrário ao dar expressão aos afetos que estão contidos nelas. Muito longe das pedras não terem mundo, são uma reserva e fonte infindável de mundos porvir. Longe de serem corpos inertes na paisagem, são ricas ecologias e coletividades onde relações e devires impensados acontecem. Uma pedra nunca é só uma pedra, e sim um entre-viver, uma constelação de vidas heterogêneas. Elas têm o privilegio de não terem pele, sem dentro ou fora, são pura secreção e potência de encontro nas mais diversas escalas e nos gradientes de dureza mais amplos. O que chamamos por pedra talvez seja um máximo de dureza lítica, enquanto que outros modos de aparecer da matéria sejam intensidades em outros graus de uma afetação lítica que perpassa tudo o vivente. As pedras conseguem dar consistência aos conglomerados mais inusitados e seu poder de agir e afetar sempre é de muitos. O que pode uma pedra com o vento, com a água, com o tempo? Propomos uma série de animações onde, escapando às armadilhas da representação, nos propomos explorar o que podem os afetos que compõem o ciclo lítico. Cristalizações, erosões, sedimentações e metamorfismos em proliferação, em contágios e durezas nunca antes vistos.

Concepção e organização: Susana Dias e Sebastian Wiedemann

Participação especial: Ricarda Canozo e Renato Oliveira

Animações:

Afeto-cristalização: Glauco Roberto da Silva, Mário D. Castro Júnior e Ricardo Lima.

Afeto-erosão: Lisley de Cássia Silvério-Villar, Lucas de Oliveira Loconte e Natália Matui.

Afeto-sedimentação: Maria Luiza Almeida, Sara Melo e Tatiana Plens.

Afeto-metamorfismo: Adriana Villar Potiens, Beatriz Guimarães de Carvalho, Marcelo Carlos de Souza Soares e Vinícius Brito

Disciplina: Arte, ciência e tecnologia (Labjor/IEL/Unicamp) – professores Susana Dias e Sebastian Wiedemann (artista convidado).

Esta criação foi feita em conexão e proliferação com a Residência Artística – Travessia de pedra coordenada por Alik Wunder e Alda Romaguera e realizada no distrito de Pocinhos do Rio Verde, Município de Caldas (MG). A Residência Artística teve como objetivo mobilizar criações a partir de uma caminhada coletiva ao Pico da Pedra Branca ameaçado pela mineração predatória.

 


Fractosferas: Partimos de uma hipótese: o Antropoceno nos impõe a necessidade de re-avivar nossa percepção e com isso apreender o fato que o mundo esta todo vivo e que não há uma pele que nos distancie dele (Thacker). O mundo como uma dobra infinita que complica a matéria do cosmos, e que pode passar, por exemplo, entre nuvens, arvores e pedras, criando esferas de coexistência e entre-viver. Fractosferas que abrem novas organizações entre escalas e possibilidades de coabitar o mundo. Um mundo onde o animismo deve ser reativado (Stengers) e o conhecimento deve ocorrer desde dentro (Ingold), como co-criação inter-espéciee que acontece com, entre e através das coisas e seres e não sobre ou a partir de. Acreditamos que um pensamento material e manual com, entre e através das nuvens, árvores e pedras onde o humano se desdobra através do sensível e expressivo sobre o papel, o fotográfico e o audiovisual, podem ser o modo de não só re-avivar a comunicação com o mundo, mas também de desarquivar o vivente que a matéria guarda para que possa continuar de maneira impensada em novos modos de existência (Souriau). Fractosferas uma série de experimentações coletivas como modos de fabulação especulativa entre artes, ciências e filosofias que apelam à criação de um possível conhecimento terrano (Latour). Workshops, oficinas, onde uma cosmopolitica do sensível e um estar junto se inventam ao fazer corpo com um pensamento que já não é mais prático ou teórico e sim matéria vibrante (Bennett) de vida por vir e que pode emergir na forma de livros-objetos (com as nuvens), foto-livros (com as árvores) e animações (com as pedras).

 


Concepção, organização e coordenação “Projeto “Fractosferas”

Susana Dias e Sebastian Wiedemann

Grupo multiTÃO e Orssarara Ateliê

 

Outros projetos associados: Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas (INCT-MC) – (Chamada MCTI/CNPq/Capes/FAPs nº 16/2014/Processo Fapesp: 2014/50848-9)Mudanças climáticas em experimentos interativos: comunicação e cultura científica (CNPq No. 458257/2013-3); Sub-projeto “Sub-rede Divulgação científica” da Rede Brasileira de Pesquisas sobre Mudanças Climáticas Globais (convênio FINEP/ Rede CLIMA 01.13.0353-00).