A poética das águas no imaginário amazônico dos ribeirinhos do Macurany e São Francisco | Jose Roberto Costa de Azevedo e Claudia Vicari Zanatta


 

Jose Roberto Costa de Azevedo[1]

Claudia Vicari Zanatta[2]

 

Introdução

O imaginário amazônico, profundamente enraizado nas narrativas orais, revela uma rica interação entre mitos, símbolos e elementos naturais que moldam as identidades coletivas da região. Inspirado em autores como Gaston Bachelard, Gilbert Durand e João de Jesus Paes Loureiro, este estudo investiga a poética da água e os regimes simbólicos que permeiam lendas locais, como a da Cobra Grande. Dialogando com práticas artísticas contemporâneas, destacam-se as contribuições de Alexandre Sequeira e Jarbas Lobão, que transmutam oralidade em visualidade por meio de fotografias e murais. Nesse contexto, a pesquisa propõe a materialização de narrativas ribeirinhas, unindo arte e tradição, para fortalecer o sentimento de pertencimento e a preservação da memória cultural amazônica.

 

Aspectos do Imaginário e da Oralidade

Ao imaginar a Amazônia, imediatamente visualizamos uma vasta planície verde, repleta de riquezas naturais, encantos e mistérios. Adentrar a região é como embarcar em uma jornada rumo ao desconhecido, onde o mundo sobrenatural se entrelaça com o cotidiano, alimentando o imaginário de sua população. Nesse contexto, o imaginário surge como um espaço simbólico em que, mitos, arquétipos e representações culturais influenciam a construção das identidades coletivas. Autores como Gaston Bachelard (2002), Gilbert Durand (2002) e João de Jesus Paes Loureiro (2015) contribuem significativamente para a compreensão desse imaginário. Enquanto Bachelard explora a relação entre os elementos naturais e a psique humana, Durand analisa os regimes simbólicos que orientam nossas representações, bem como Loureiro investiga como o imaginário amazônico reflete as especificidades culturais e ambientais da região.

I

(Leia o ensaio completo em PDF)

 

Recebido em: 15/05/2025

Aceito em: 15/05/2025

 

[1] Graduado em Artes Visuais pela Universidade Federal do Amazonas – UFAM, Mestre e doutorando em Artes Visuais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFEGS. Email: 00322483@ufrgs.br

[2] Professora doutora no Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Email: claudia.zanatta@ufrgs.br

A poética das águas no imaginário amazônico dos ribeirinhos do Macurany e São Francisco

 

RESUMO: Este ensaio analisa as narrativas orais que compõem o imaginário amazônico, com foco na figura mítica da Cobra Grande, símbolo central da cultura ribeirinha. A pesquisa aborda como essas histórias, coletadas nas comunidades de São Francisco (Careiro da Várzea) e Macurany (Parintins), no Amazonas, influenciam a construção da identidade e da imaginação local. Três produções artísticas de minha autoria – duas pinturas em telas e um mural – traduzem visualmente essas narrativas, ressignificando-às em diferentes contextos geográficos e culturais. A poética das águas emerge como uma metáfora que articula fertilidade, mistério e abundância no cotidiano das comunidades, onde a Cobra Grande transcende o real, simbolizando força, mistério e proteção. O estudo estabelece diálogos com teóricos como Gaston Bachelard, Gilbert Durand e João de Jesus Paes Loureiro, além de se inspirar na prática artística de Alexandre Sequeira e Jarbas Lobão. A análise destaca como a transposição da oralidade para a visualidade ressignifica as relações simbólicas das comunidades com ambiente natural, integrando crenças e práticas culturais. Esse processo reforça a memória coletiva e valoriza o patrimônio cultural amazônico, promovendo uma conexão entre o real e o imaginário.

PALAVRAS-CHAVE: Comunidade. Cobra Grande. Imaginário. Poética das águas. Pinturas.

 


The Poetics of the waters in the Amazonian imaginary of the riverside wellers of Macurany and
São Francisco

 

ABSTRACT: This article analyzes the oral narratives that shape the Amazonian imaginary, focusing on the mythical figure of the Big Snake—a central symbol in riverside culture. The research explores how these stories, collected from the communities of São Francisco (Careiro da Várzea) and Macurany (Parintins), in the state of Amazonas, influence the construction of local identity and imagination. Three artistic works of my own creation—two canvas paintings and a mural—visually translate these narratives, resignifying them within different geographical and cultural contexts. The poetics of the waters emerges as a metaphor that conveys fertility, mystery, and abundance in the daily life of these communities, where the Big Snake transcends the real and symbolizes strength, mystery, and protection. The study draws on theorists such as Gaston Bachelard, Gilbert Durand, and João de Jesus Paes Loureiro, and is also inspired by the artistic practices of Alexandre Sequeira and Jarbas Lobão. The analysis highlights how the transposition from orality to visuality reinterprets the communities’ symbolic relationship with the natural environment, integrating cultural beliefs and practices. This process reinforces collective memory and values Amazonian cultural heritage, fostering a connection between the real and the imaginary.

KEYWORDS: Community. Big Snake. Imaginary. Poetic of water. Paintings.

 


AZEVEDO, Jose Roberto Costa de; ZANATTA, Claudia Vicari. A poética das águas no imaginário amazônico dos ribeirinhos do Macurany e São Francisco [online], Campinas, ano 12, n. 28., jun. 2025. Available from: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/a-poetica-das-aguas/