A escrita: vias de caminhar no tempo | Luana da Silva


Luana da Silva[1]

Marcas e encontros

Experienciar o mundo através dos pés. Encostá-los na terra molhada, na areia quente, na água gelada… Pés que escrevem no tempo deixando suas marcas por onde percorrem formando, assim, simbioses com outros pés que ali também pisaram. São eles, os pés, que carregam histórias minhas, tuas e nossas. Escrever no tempo torna-se uma maneira de compreender as palavras que vão além de escritos, elas são além e muito mais (LARROSA, 2014). As palavras são um encontro de existir, se escreve na ação e na (des)ação de si, é um convite para olhar o silêncio e também as vozes que ecoam interstícios na nossa história. A escrita aqui se torna uma escrita-corpo[2] (PONTIN; GODOY, 2017), ou seja, as palavras da rotina, do tédio, do silêncio, do coletivo, do tempo e de tudo aquilo que faz você se desconfigurar de conceitos que estão atribuídos somente um significado, é começar a sentir as multiplicidades das palavras que se escrevem e se inscrevem no corpo. Meus pés deixam marcas no tempo que hoje já não reconheço mais, marcas antigas e novas marcas que constituem quem eu sou.

Para compreender essas marcas no tempo, preparo meus pés em uma caminhada nas pegadas de Coccia (2020), Larrosa (2004; 2016), Pontin e Godoy (2017), Dalmaso (2016) e Rauber (2021). É com eles que entendo que esse ensaio é: “Poder-se-ia dizer, talvez, que o ensaio é uma atitude existencial, um modo de lidar com a realidade, uma maneira de habitar o mundo, mais do que um gênero da escrita.” (LARROSA, 2004, p. 32). Portanto, aqui escrevo com o corpo como maneira de abrir vias para caminhar nesta trajetória do tempo.

Faço um esforço para recordar-me dos meus pés tateando o mundo, logo ali na infância: foco no dia do passeio ao parque aquático. Dormi cedo para levantar no outro dia descansada para o passeio, lembro de uma noite inquieta e ansiosa, e de acordar com um leve feixe de luz que vinha do sol – era na época horário de verão -, fiz toda a rotina para sair aquele dia. Dentre dela estava passar protetor solar, posto que muito ouvia na escola sobre raios ultra violeta, aquecimento global e pouco entendia, mas sabia que era importante passar protetor solar para não me queimar e poder aproveitar o máximo todo o parque aquático. Encontro das marcas, dos pés que não entendiam o que era aquecimento global e dos pés de hoje que entendem o avanço do agronegócio (RAUBER, 2021). Esse avanço, sabemos, que destroem biomas e geram queimadas, as quais liberam gás carbônico, contribuindo para o aquecimento da terra.

(Leia o ensaio completo em PDF)          

 

 

[1] Graduanda em Pedagogia pela Universidade Federal de Santa Maria. E-mail: luanadasilvaufsm@gmail.com

[2] Esse conceito (e esta escrita) é parte de uma operação de produzir  meu Trabalho de Conclusão de Curso, o qual pesquisa as noções de escrita como parte do  processo autoformativo de uma futura pedagoga.

A escrita: vias de caminhar no tempo

 

RESUMO: Experimentar a escrita para além de palavras, para vê-la como uma escrita-corpo. Através dessa experimentação é possível caminhar pelas memórias, pela atenção do tempo presente e pelos anseios futuros. Uma escrita que vem como maneira de criar novas possibilidades, diante das multiplicidades que estão sendo negadas, destruídas e silenciadas no atual contexto do Brasil. Dessa forma, é uma escrita-corpo que flerta com queimadas, com nascimentos, com mortes, com as mudanças climáticas. Um encontro de palavras, corpos, histórias e seres. Um convite de leitura que escreve enquanto lê e lê enquanto escreve (DALMASO, 2016). Este ensaio tem como característica evidenciar os esquecimentos e aceleramentos. Portanto, um ensaio que se cria por meio das leituras de COCCIA (2020), DALMASO (2016), RAUBER (2021), PONTIN e GODOY (2017) e LARROSA (2004; 2014), produzindo uma escrita como maneira de caminhar pelo tempo.

 

PALAVRAS-CHAVES: Escrita. Corpo. Experiência.


Writing: ways to walk through time

 

ABSTRACT: To experiment writing beyond words, in order to see them as a writing-body. Through such experimentation, it is possible to walk through memories, through the attention to the present time and through future longings. A writing that appears as a way of creating new possibilities, facing multiplicities that are denied, destroyed and silenced in the current context in Brazil. Thus, it is a writing-body that flirts with fires, with births, with deaths, with climate changes. It is a meeting of words, bodies, histories and beings. An invitation to a reading that writes while reads and that reads while writes (DALMASO, 2016). This essay has the characteristic to evidence the forgetfulness and the accelerations. Therefore, it is an essay created with the readings of COCCIA, (2020) DALMASO (2016), RAUBER (2021), PONTIN and GODOY (2017) and LARROSA (2004; 2014), producing writing as a way to walk through time.

KEYWORDS: Writing. Body. Experience.

 


SILVA, Luana da. A escrita: vias de caminhar no tempo. ClimaCom – Diante dos Negacionismos [Online], Campinas, ano 8, n. 21,  dezembro. 2021. Available from: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/ a-escrita-vias-de-caminhar-no-tempo/