A biquinha e sua várzea imaginada: memórias aquosas poéticas no Antropoceno | Gabriel Teixeira Ramos
Gabriel Teixeira Ramos[1]
Memórias aquosas: infância e imaginação[2]
Esta reflexão acontece a partir de dois movimentos: o primeiro se trata de uma investigação das memórias de infância num bairro periférico onde morei, com pouca infraestrutura urbana, irrigado pelos banhos de mangueira e pelas enchentes dos dias quentes de verão, aqui nomeadas por “memórias aquosas”. O segundo enuncia um exercício de imaginação desse local a partir de uma narrativa audiovisual realizada em meio a um problema de projeto urbanístico e paisagístico colocado. As “memórias aquosas” pensadas para este texto não emergem pelo que de fato aconteceu, mas justamente pelas possibilidades do que teria ocorrido, já que:
com extraordinária frequência ser “recordado” algo que nunca poderia ter sido “esquecido”, porque nunca foi em ocasião alguma notado – nunca foi consciente. Com referência ao curso dos acontecimentos psíquicos, parece não fazer nenhuma diferença se determinada “vinculação de pensamento” foi consciente e depois esquecida, ou se nunca de modo algum conseguiu tornar-se consciente (FREUD, 1988, p. 195).
Por meio dessas memórias, este ensaio evidencia a “biquinha” como experiência urbana singular, contextualizadas às cidades contemporâneas do Antropoceno. Para tal, focaremos numa crítica estética e política da realização de um parque urbano numa antiga biquinha existente no bairro Jardim América, em Cariacica (ES), destacada por ter sido elaborada em meio a uma estratégia projetual militarizada, a desconsiderar preexistências sociais, culturais e paisagísticas. A proposta do ensaio é enunciar o problema e lançar possibilidades outras fornecidas por memórias, sensações e imaginação, a partir de uma narrativa audiovisual.
(Leia o ensaio completo em PDF)
Recebido em: 15/05/2025
Aceito em: 15/05/2025
[1] Arquiteto e urbanista, escritor, professor, pesquisador e realizador audiovisual. Doutor em Teoria e História da Arquitetura e Urbanismo (IAU-USP). gabrieltramos@gmail.com
[2] Dedico este texto aos amigos de infância da Biquinha e de Jardim América, especialmente Arlen Cristy e Bárbara Amorim.
A biquinha e sua várzea imaginada: memórias aquosas poéticas no Antropoceno
RESUMO: Por meio de memórias aquosas, este ensaio evidencia uma biquinha como experiência urbana singular contextualizadas às cidades contemporâneas no Antropoceno. Para tal, foca-se numa crítica estética e política da realização de um parque urbano numa antiga biquinha existente no bairro Jardim América, em Cariacica (ES), destacada por ter sido elaborada em meio a uma estratégia projetual militarizada, a desconsiderar preexistências sociais, culturais e paisagísticas. A proposta do ensaio é enunciar o problema e lançar possibilidades outras fornecidas pela memória e imaginação na várzea da biquinha, a partir da realização de uma narrativa audiovisual.
PALAVRAS-CHAVE: Memória. Biquinha. Várzea. Imaginação. Narrativa audiovisual.
The little spout and its imagined floodplain: poetic watery memories in the Anthropocene
ABSTRACT: Through aqueous memories, this essay highlights a biquinha (natural spring) as a singular urban experience contextualized within contemporary cities in the Anthropocene. It focuses on an aesthetic and political critique of the construction of an urban park on the site of a former biquinha located in the Jardim América neighborhood of Cariacica (ES), which was developed under a militarized design strategy that disregarded existing social, cultural, and landscape elements. The essay aims to articulate the problem and propose alternative possibilities offered by memory and imagination in the floodplain of the biquinha, through the creation of an audiovisual narrative.
KEYWORDS: Memory. Little spout. Foodplain. Anthropocene. Audiovisual narrative.
RAMOS, Gabriel Teixeira. A biquinha e sua várzea imaginada: memórias aquosas poéticas no Antropoceno [online], Campinas, ano 12, n. 28., jun. 2025. Available from: http://climacom.mudancasclimaticas.net.br/a-biquinha/