CHAMADA PARA PUBLICAÇÕES: Dossiê “A linguagem da contingência”

Editor: Eduardo Pellejero  – Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)

Os artigos, ensaios, resenhas e produções artísticas e culturais devem ser adequados às normas para publicação e enviados à Comissão Editorial até o dia 10 de agosto de 2019 por meio eletrônico para climacom@unicamp.br. O dossiê será publicado em agosto de 2019.

Leia a proposta do dossiê e conheça as normas de publicação da ClimaCom.

IMG_4270Imagem | grupo multiTÃO

 

“A linguagem da contingência

Experiências balbuciantes na arte, na política e na ciência

Se o pensamento quer de alguma forma responder de forma produtiva aos problemas que nos levanta a experiência, se não quer reduzir-se apenas à abstração desmobilizante que os seus críticos denunciam nele, então não pode encarar a multiplicidade incandescente do real como uma série de códigos a ser decifrados; pelo contrário, deve considerar tudo o que o afeta e violenta, tudo o que o alcança e comove, na sua estranha fecundidade, isto é, como matrizes de ideias, como expressões cujo sentido jamais acabaremos de desenvolver, porque nos abrem a um mundo do qual não temos a chave (Merleau-Ponty, 1974, p. 101).

A consideração crítica da contingência, que é o signo da existência (não apenas da nossa), abre e fecha horizontes, mas é ao mesmo tempo solidária do sentido profundo que o real tem para nós. O real é objeto, efetivamente, sempre, de uma descoberta e de uma construção, que os nossos gestos não instauram, mas não deixam de inaugurar (porque tratando-se do real, além da constatação do fato da existência, está sempre em jogo a articulação do seu sentido).

Contingência quer dizer: é, mas podia não ser (e, em última instância, deixará de ser). Mas contingência também quer dizer: será assim para nós (enquanto caminhemos juntos, pensemos juntos, lutemos). Num como noutro sentido, a contingência exige de nós e da linguagem, da arte e do saber, um recomeço continuo, ou uma sequência de recomeços, na medida em que o elusivo objeto ao qual se endereçam não está dado, não se encontra estabelecido, e depende sempre e para sempre de novas “tentativas de expressão” (Merleau-Ponty, 1991, p. 71). Isso também quer dizer que o comum não está dado, mas tem que ser criado (num processo conforme a fins, mas sem fim determinado).

Nem o poder nem o saber gostam muito da contingência, e as suas linguagens tendem a barrar aquilo que subtende (e mina) toda a ordem simbólica, pretendendo “saber de antemão como está constituída a realidade e quais são as formas adequadas da sua representação” (Saer, 2004, p. 11). A linguagem poética, pelo contrário, que transgride por princípio as relações instituídas entre as palavras e as coisas, revela uma solidariedade profunda com o imponderável devir do que é sem representação, isto é, com tudo aquilo que constantemente coloca em causa a arquitetura da razão e constantemente faz florescer “a árvore do imaginário” (Saer, 2006, p. 196).

Engajada à sua maneira na representação do real, a linguagem poética não esquece que o real não é representável, pelo menos não de forma total, sem resto, “revelando, sob os seus enunciados e o seu ruído sabiamente ordenados a significações bem definidas, uma linguagem operante ou falante cujas palavras vivem uma vida secreta como os animais das grandes profundezas” (Merleau-Ponty, 1974, p. 98). Daí que não aspire ao saber, que renuncie ao domínio do real, e que, por um jogo dialético não formalizável, faça da ignorância e da impotência uma força de expressão imponderável. Daí, também, que o seu movimento em direção ao real tenha a forma de um rodeio e que o seu pendor para a representação encontre um contrapeso imponderável na “reflexividade infinita” que a carateriza (Barthes, 2013, p. 2).

É possível transpor o balbucio próprio da linguagem poética para os territórios que se encontram sob o domínio do saber e do poder? É possível uma ciência da contingência? E qual seria o sentido de uma comunidade estética? Somos todavía capazes, nesses domínios todos, de situar-nos como no princípio?

Foucault não duvidava de que, sendo a linguagem distância ou intervalo no seio do real, isto é, “a luz onde as coisas estão e a sua inacessibilidade, o simulacro onde se dá a sua presença”, os jogos ardentes da linguagem poética podiam atravessar qualquer forma de discurso, qualquer reflexão, indiferentemente (Foucault, 1994, p. 281). De que formas? Segundo que procedimentos?

Se a linguagem poética nos convida desse modo a fazer uma experiência do que é e significa pensar à intempérie, sem abrigo, não temos motivo para interromper essa experiência por aí. O presente dossier propõe que, dando continuidade a essa experiência, avancemos, tateantes, na exploração da contingência sobre a que paira a nossa existência – e quiçá esboçar, no caminho, formas menos rudimentares de representar aquilo que, no real, nos perturba ou nos comove, nos mobiliza ou nos põe a pensar.

As formas correntes da linguagem tendem a poupar-nos dessa experiência, oferecem-nos uma chave, mas que não abre porta alguma – antes, as fecha, confinando-nos aos estreitos limites do provado e do estabelecido. Mas os tempos que nos toca viver nos exigem uma linguagem que, antes de representar o mundo como uma totalidade fechada, se some a ele – e o abra.

A contingência não é apenas o limite de todos os empreendimentos humanos, o signo da nossa finitude, nem comporta necessariamente um uso crítico conservador. Na medida em que coloca em causa o dado, na medida em que revela sob as ficções que fazem do dado o horizonte inexpugnável da nossa situação, a contingência também é o signo da nossa liberdade. Através dela o mundo se revela como processo, como devir, e também como tarefa: a tarefa excessiva e contudo propriamente humana de “fazer vir ao ser, num movimento incondicionado, o objeto único e absoluto que é o universo” (Sartre, 2004, p. 49).

Eduardo Pellejero, editor

Natal, 6 de maio de 2019.

 

Bibliografia

BARTHES, Roland. Aula. São Paulo: Cultrix, 2013.

FOUCAULT, M. Dits et écrits I. Paris: Gallimard, 1994.

MERLEAU-PONTY, Maurice. A linguagem indireta (1952). Em: O homem e a comunicação. A prosa do mundo. Rio de Janeiro: Edições Bloch, 1974.

MERLEAU-PONTY, Maurice. A linguagem indireta e as vozes do silêncio (1952); Sobre a fenomenologia da linguagem (1951). Em Signos, São Paulo: Martin Fontes, 1991.

SAER, Juan José. El concepto de ficción. Buenos Aires: Seix Barral, 2004.

SAER, Juan José. Trabajos. Buenos Aires: Seix Barral, 2006.

SARTRE, Jean-Paul. Que é a literatura? São Paulo: Atica, 2004.

 

ClimaCom – NORMAS PARA A PUBLICAÇÃO

SEÇÃO PESQUISA

SUBMISSÃO DE ARTIGOS, ENSAIOS E RESENHAS

A Revista ClimaCom recebe artigos, ensaios e resenhas originais para publicação nos Dossiês para os quais faz chamadas temáticas, e também recebe artigos, ensaios e resenhas originais em fluxo contínuo.

As contribuições são avaliadas pela Comissão Editorial e por pareceristas ad hoc, por meio de revisão às cegas, reservando-se o direito da Revista de propor modificações com a finalidade de adequar os artigos e demais trabalhos aos seus padrões editoriais.

Os originais submetidos à Revista não podem estar em processo de avaliação simultânea em outra publicação e devem ser inéditos no Brasil, cabendo ao Conselho Editorial avaliar a conveniência de publicar ou não trabalhos já divulgados em outros idiomas por revistas e órgãos editoriais de outros países.

Cabe à Comissão Editorial uma análise preliminar dos originais recebidos, a fim de verificar a conformidade com as linhas editoriais e as normas da Revista, podendo recusá-los ou encaminhá-los, caso aprovados, para processo de avaliação com vistas à sua publicação ou não. Poemas e outras modalidades de produção artístico-literária e iconográfica são também publicados, mas unicamente mediante convite da Comissão Editorial.

É condição para a publicação dos materiais a adequação à linha editorial da revista, o cumprimento das normas e a revisão prévia.

Instruções aos colaboradores:

Apreciação pela Comissão Executiva Editorial

Os trabalhos serão, primeiramente, apreciados pela Comissão Editorial Executiva, que solicitará pareceres aos Consultores ad hoc, que permanecerão anônimos. Os artigos serão encaminhados aos consultores sem identificação. Os autores serão notificados da aceitação ou recusa de seus artigos.

Quando forem indicadas modificações substanciais, o autor será notificado e poderá realizá-las, devolvendo o trabalho reformulado dentro do prazo estabelecido pela Comissão. Antes da publicação dos trabalhos, os pareceres serão enviados aos autores. Caso os autores não levem em consideração os apontamentos e sugestões de correção contidas nos pareceres, o texto não será publicado.

A decisão final acerca da publicação ou não do trabalho caberá sempre a Comissão Editorial Executiva.

ARTIGOS

Serão aceitos artigos inéditos em português, espanhol e inglês com o mínimo de 5 páginas (para as áreas de exatas e biológicas) e 10 páginas (área de humanas) e o máximo de 30 páginas, excluindo as referências finais.

ENSAIOS

Serão aceitos ensaios inéditos em português, espanhol e inglês entre 5 e 15 páginas, excluindo as referências finais. Os ensaios caracterizam-se pela maior liberdade formal na exposição do tema de interesse do autor e de seus argumentos. Seu caráter é o de um exercício do pensamento, mas não desprovido de rigor.

RESENHAS

Serão aceitas resenhas de livros indicados pela Comissão Editorial Executiva em português e espanhol de até 8 páginas, incluindo as referências finais.

FORMATAÇÃO PARA ARTIGOS, ENSAIOS E RESENHAS

Os artigos, ensaios e resenhas deverão obedecer estritamente à formatação apresentada nos respectivos templates (margens, tamanho da folha, espaçamentos, tamanho de fonte, estilos etc.), que trazem também exemplos das normas para citação e referenciação. Os casos não exemplificados deverão ser consultados nos documentos da ABNT linkados abaixo.

Template para artigo ClimaCom

Template para ensaio ClimaCom

Template para resenha crítica de livro ClimaCom

Template para resenha crítica de filme ClimaCom

1) Serão aceitos arquivos somente nos formatos Microsoft Word 97-2003 ou versão superior, Oppen Ofice e RTF.
2)As citações deverão seguir a NBR 10520 – 2002;
3)As referências deverão seguir a NBR 6023 – 2002
4) Para o uso de Figuras ver tópico 5.9 da NBR 14724 – 2011
5) Para os artigos, havendo o uso de Quadro e Tabela devem deve ser consultadas as Normas IBGE completo, ou Normas IBGE simplificado.
6) As únicas expressões latinas que poderão ser usadas no corpo do texto e nas notas ao final, quando necessário, é apud e a abreviatura et al.

Observação: A avaliação dos pareceristas ad hoc será anônima. Por isso, solicitamos que os autores enviem, também, uma versão do trabalho sem identificação de autoria para apreciação dos pareceristas.

SEÇÃO ARTE

SUBMISSÃO DE PRODUÇÕES ARTÍSTICAS E CULTURAIS

Esta seção atua como um espaço expositivo da revista, no qual podem ser publicadas produções artísticas e culturais nas mais diversas modalidades (vídeo, áudio, fotografia, escrita, pintura, desenho, etc.) que possam multiplicar pensamentos em torno das mudanças climáticas na relação com o tema proposto por cada edição da revista.  Também podem ser submetidos registros de produções (instalações, oficinas, exposições, intervenções, etc.), em formato digital para publicação.

A comissão julgadora das produções artísticas e culturais é composta pelo Conselho Editorial e avaliará as submissões com base nas seguintes normas:

1) A Revista ClimaCom é uma publicação eletrônica, por isso TODAS as produções submetidas devem ser convertidas em formato digital (áudio, vídeo ou imagem).

2) As produções devem vir acompanhadas de arquivo PDF, contendo:

  • dados do(s) autor(es) (nome, instituição, e-mail, telefone);

  • título da produção;

  • resumo de no máximo 500 palavras;

  • no caso das produções audiovisuais, deve conter ainda o link em que o arquivo se encontra disponível para avaliação;

  • o FICHA TÉCNICA da produção no arquivo PDF, com as seguintes informações, quando for pertinente ao trabalho: título da obra, autor, diretor, roteirista, editor, coordenador, técnica, fotógrafo/câmera, música original, financiamento, projeto, país de produção, ano de produção.

3) As produções audiovisuais serão analisadas através de endereço eletrônico gerado pelo youtube ou vimeo, e, no caso das produções aceitas para publicação, o arquivo deve ser encaminhado via CD/DVD para o endereço da revista.

4) As produções submetidas em imagem digital devem possuir resolução mínima de 72 dpi, e com 1024 pixels no maior lado da imagem, nos formatos JPEG, GIF ou PNG.

5) O(s) autor(es) poderão submeter até 1 série de imagens, é aconselhado que cada série seja composta de até 10 imagens (se necessário a equipe da revista poderá efetuar alterações na qualidade e tamanho das imagens, para melhor adequação aos parâmetros da revista, após consultar os autores).

6) Caso seja necessário, um representante da revista entrará em contato com os responsáveis pelas obras selecionadas, por e-mail ou telefone, solicitando o envio de cópias autenticadas dos documentos exigidos por lei, tais como licença ou cessão de direitos autorais, autorização das pessoas filmadas para exibição de sua voz e imagem, autorização para uso de fonograma, músicas, obras audiovisuais, fotográficas ou de outros direitos autorais que sejam relacionados com o vídeo inscrito.

7) O produtor é responsável pela utilização de imagens ou músicas de terceiros em seus trabalhos. Todos e quaisquer ônus por problemas de direitos autorais recairão exclusivamente sobre o realizador do trabalho inscrito.

8) As submissões serão realizadas através do e-mail: <climacom@unicamp.br>, até 15 de julho de 2019. O(s) autor(es) deve(m) encaminhar no e-mail o arquivo PDF com os dados, título, link, resumo e ficha técnica da produção, junto às imagens que compõem a série.

[/vc_column_text][/vc_column][vc_column][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column width=”1/1″][/vc_column][/vc_row]