Espero… chegar

Título: Espero… chegar


Resumo: Como esperar? Esse mundo acelerado, em que dia sim outro também o clima se transforma, já não cabe mais em nós. O ano de 2016 nos pareceu desejar chegar ao fim, desde o seu começo. Por vezes nos tornou mais fortes. Aguardamos a carta que chegaria como quem espera um outro mundo se fazer presente. A espera como um refúgio nos trouxe um clima aprazível, mas, por vezes, intempestivo. Alguns de nós precisamos caminhar até um vizinho, que comumente está em casa. Será que o carteiro passou hoje? Foram dias ensolarados de espera. Havia, entretanto, uma ansiedade chuvosa. Como está o clima por aí? Por meses trocamos cartas entre nós. Essa é a última. Endereçamos a você que ainda não conhecemos.

O vento que vinha de longe parecia soprar em nosso ouvido: “espero … chegar”. Seria a voz da carta em trânsito que soava? O que ficou desse processo de um coletivo que resolveu trocar cartas para saber como anda o clima em cada paragem? Cartas viajantes. Elas passaram por ilhas, tomaram chuva, viveram um tempo de seca, de frio cortante, de calor intenso, se mancharam com terra cor de areia, por vezes de barro seco. Florianópolis, Blumenau, Palmas.

Cada carta que chegava era aberta ali, na frente de quem estivesse. Às vezes a ansiedade foi testemunhada somente por um gato, por uma bicicleta, por uma planta esquecida. Um tsunami de sensações em encontros potentes e inusitados.

De repente, um estrondo cataclismático. Você está bem? Um dilúvio nos atingiu. As cartas sofreram avarias irreversíveis. O que ficou? As imagens mostram. Consegue ver? Sabemos que algo sempre se perde. Não imaginávamos que seria tanto. O vento espalha, leva longe. Na ilha então, é todo dia. Um vendaval. Sussurros.

Estamos à deriva. Esperando uma próxima carta. Mande notícias. Como está o clima por aí?

Autor: Coletivo Tecendo

Grupo de pesquisa sobre educação, arte e cultura que atua junto ao Programa de Pós-Graduação em Educação, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Tem interesse pelas narrativas, pelas imagens, pelos artefatos da mídia, pelas artes. Atua na formação de professores/as e de educadores/as ambientais. Acionam perspectivas que advêm dos pensamentos pós-estruturalistas, dos estudos culturais e das filosofias da diferença.

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