Ensaio sobre a luta da Natureza contra o desaparecimento


INTRODUÇÃO

As questões do embate entre o espaço do humano e do divino no mundo remetem às mitologias, especialmente à grega, em se tratando da cultura ocidental. O espaço-tempo mitológico retorna a um mundo em que as fronteiras entre humano e divino são tênues e mutáveis. Assim, todo conhecimento adquirido pelo homem alarga as suas fronteiras, conquistando áreas antes pertencentes ao âmbito divino. Entre estes conhecimentos, está a compreensão das leis da Natureza e do funcionamento do mundo. Por exemplo, Prometeu expande as fronteiras do humano quando lhes oferece o fogo, até então bem divino, que era fornecido ao homem de acordo com a vontade dos imortais, como contado em Prometeu acorrentado, de Ésquilo:

Prometeu: […] Por ter feito uma dádiva aos mortais, estou jungido a esta fatalidade, pobre de mim! Sou quem roubou, caçada no oco duma cana, a fonte do fogo, que se revelou para a humanidade, mestre de todas as artes e tesouro inestimável. Esse o pecado que resgato pregado nestas cadeias ao relento.

[…]

Poder: […] Ele roubou uma flor que era tua [de Hefesto], o brilho do fogo, vital em todas as artes, e deu-a de presente aos mortais; é preciso que pague aos deuses a pena desse crime para aprender a acatar o poder real de Zeus e renunciar o mau vezo de querer bem à Humanidade.

Esta fábula, verídica ou não, reflete simbolicamente como o homem aprendeu a fazer o fogo e a dominá-lo.

No universo mítico-simbólico greco-romano, não só Gaia (a Terra) ou Flora (a deusa das flores) são representantes da Natureza, mas todo o panteão grego congrega os efeitos da Natureza e do humano que ainda não são compreendidos pelos homens. Zeus é também o raio e o trovão, Marte é o ímpeto assassino de um homem ou de um leão, Deméter é o germinar do trigo.

O mito surge na cultura como necessidade humana de atribuir sentido à experiência. A repetição denota uma tentativa de elaboração racional/simbólica da experiência sinestésica, partindo do desejo (consciente ou não) de compreensão da experiência. Assim, a lógica poética, ao admitir a fantasia e a imaginação, reúne as percepções imagético-sensorial (sentir o mundo) e intelectiva (pensar o mundo) num único objeto artístico.

Ao tornar concreta uma realidade inacessível, o mito materializa o ciclo ritualístico de participação do homem no mundo, inserindo-o no funcionamento da Natureza e tornando-o parte dela.

Contudo, a busca da humanidade pelo desenvolvimento e pelo progresso não é compatível com uma convivência pacífica com a Natureza. A Natureza tem que ser domada, controlada, modificada, utilizável, de forma que tudo que seja moderno ou racional é também artificial ou construído.

Porém, isto não trouxe uma maior segurança ou contentamento para o Homem. Com o passar do tempo, a humanidade volta-se cada vez mais para os conflitos consigo mesma. Sejam as disputas entre diferentes nações, culturas ou religiões, grupos sociais e étnicos, como as Guerras Mundiais, Cruzadas, Reforma, Inquisição, Revolução Francesa, Industrial, Sexual, AIDS, Ditaduras, Socialismo, Capitalismo, Apartheid, Revolução Verde…

Além destes, surgem as individualidades, o entendimento do ser humano enquanto participante do mundo à sua volta, mas que também contém um mundo dentro de si mesmo. Expectativas, frustrações, identidade, autoafirmação…

Em paralelo à individualidade, no mundo atual, há a pressão pela homogeneidade, ditada pelo poder econômico e mascarada pelo termo globalização, que se vale de diversas estratégias, como a moda e o consumismo, para direcionar gostos e necessidades das pessoas.

As transformações sofridas pelo mundo podem ser percebidas, para além do mundo científico-acadêmico, ao longo da História: pela forma como o próprio ser humano se relaciona com o mundo à sua volta, quer no âmbito cotidiano, quer no artístico, filosófico… Além do plano intelectivo, também o seu corpo curva-se, entorta-se, adapta-se, encolhe-se e expande-se segundo as exigências do ambiente.

Apesar de o Homem tentar se distanciar da Natureza, ela se faz presente. Apesar de um mundo modificado pelo Homem, dominado, esterilizado, padronizado e subjugado, a Natureza insiste em resistir. Nas áreas cultivadas, as plantas daninhas insistem em surgir e ressurgir, incessantemente.

Mas talvez seja na cidade, impermeabilizada pelo asfalto e pelo concreto, que a Natureza, ao constantemente se regenerar, demonstra a sua paciência e insistência em manter-se presente e continuar a busca, aparentemente incessante, pela reconquista de seu espaço. Disto surge um questionamento: é uma resistência ao desaparecimento ou um ressurgir após ter desaparecido.

Caminhando pelas cidades impermeabilizadas, a natureza ainda resiste e se reafirma infinita sobre a obra humana, quer num broto que nasce de uma rachadura do asfalto, de raízes que racham as calçadas ou de samambaias ou árvores que dominam ruínas abandonadas.

O ser humano, seu espaço e sua sociedade, se complexificam, assim como as relações que estabelece com estes diversos mundos aos quais pertence simultaneamente.

A ingênua corrida técnica e instrumental em busca do domínio sobre a natureza, iniciada no tempo mitológico com o crime de Promoteu, também esconde a pretensão de correção do mundo:

Em primeiro lugar, se a tradição prometéica pretende dominar tecnicamente a natureza, o faz visando “ao bem humano”, à emancipação a natureza da espécie e, fundamentalmente, das “classes oprimidas”. Apostando no papel libertador do conhecimento científico, esse tipo de saber almeja melhorar as condições de vida dos homens por meio da tecnologia, graças à dominação racional da natureza. Confiantes no progresso, os defensores do prometeísmo colocam a ênfase na ciência como “conhecimento puro” e têm uma visão meramente instrumental da técnica (SIBILIA, 2000, p. 44).

Hoje, com o avanço da preocupação em relação ao impacto do homem no meio ambiente, os cientistas buscam soluções para a devastação já causada e formas de evitar uma maior degradação dos recursos da Terra. Mas a ciência não mudará o mundo. Parafraseando o grande educador brasileiro Paulo Freire: A ciência não transforma o mundo. A ciência muda pessoas. Pessoas transformam o mundo.

O desaparecimento relacionado às mudanças climáticas coloca-nos diante de um prognóstico muito ruim e de um ponto de inflexão relacionado à inação ou não ação. Hans Jonas, no livro do final da década de 1970, O Princípio Responsabilidade: ensaio de uma ética para a civilização tecnológica, propõe uma heurística do medo, ou seja, uma abordagem metodológica que parte do medo causado pelo possível (como provisório e hipotético), o qual, tido como ideia diretriz, possibilita uma compreensão do argumento central: “O princípio responsabilidade, o inserir o conceito de ‘heurística do temor’, propõe uma regra crucial para lidar-se com a incerteza: ‘in dubio pro mal’, isto é, na dúvida é melhor ouvir o pior prognóstico, pois as apostas se tornaram fortemente elevadas para este jogo” (JONAS, 2006, p. 251 apud OLIVEIRA; BORGES, 2008, p. 50). Hans Jonas propõe um aprendizado da crise e faz ver que a tomada de consciência sobre a possibilidade de a humanidade vir a desaparecer deve provocar uma mudança de rumos na ação engendradora da hipótese (OLIVEIRA; BORGES, 2008, p. 50).

O cenário criado pela percepção da crise ambiental nas décadas de 1960 e 1970 gerou uma série de respostas, como a publicação, em 1962, do livro Primavera silenciosa (título original Silent Spring) por Rachel Carson, a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, realizada em Estocolmo em 1972 e a publicação do relatório Limites do Crescimento. Contudo, nesta época, a crise era considerada “apenas” ambiental e as mudanças climáticas uma hipótese em gestação. Atualmente, vivemos um agravamento de muitos problemas socioambientais, como mudanças climáticas, desmatamento, perda de biodiversidade, crise na produção de alimentos, poluição, chuva ácida e perigos da radiatividade pelo uso da energia nuclear. Tudo isto, em conjunto, pode ser entendido como uma crise sistêmica, não apenas ambiental, fruto do modelo econômico baseado no consumo e na concentração de bens e capital. Tal situação só não é pior devido à exploração das populações pobres, que tem “tornado possível a sustentabilidade econômica do atual padrão de poder mundial que vem se mantendo não só extremamente desigual como se polarizando ainda mais, ensejando o fenômeno de dualização social” (PORTO-GONÇALVES, 2013, p. 42).

Neste contexto, a superação dos problemas acarretados exigirá mudanças profundas na concepção de mundo, de natureza, de poder e de bem-estar, tendo por base novos valores individuais e sociais. Faz parte desta nova visão de mundo, a percepção de que o Homem não é o centro da natureza (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 1996, p. 179):

Com a questão ambiental estamos diante de questões de claro sentido ético, filosófico e político. […] O que fazer com o nosso antropocentrismo quando olhamos do espaço nosso planeta e vemos o quão pequeno ele é e quando passamos a saber que, enquanto espécie humana, somos apenas uma entre tantas espécies vivas de que nossas vidas dependem?

Dizer que a problemática ambiental é, sobretudo, uma questão de ordem ética, filosófica e política é se desviar de um caminho fácil que nos tem sido oferecido: o de que devemos nos debruçar sobre soluções práticas, técnicas, para resolver os graves problemas de poluição, desmatamento, de erosão. Esse caminho nos torna prisioneiros de um pensamento herdado que é, ele mesmo, parte do problema a ser analisado. Há uma crença acrítica de que existe, sempre, uma solução técnica para tudo. (PORTO-GONÇALVES, 2013, p. 15)

Melhorias duradouras nas condições de vida, baseadas na visão de sustentabilidade, focadas na busca de formas mais sustentáveis para a produção industrial e agropecuária, ações que incentivem a justiça social, uso racional dos recursos naturais e o combate ao consumo exagerado são os grandes desafios neste momento de crise civilizatória.

Se é assim para cientistas, também para artistas, especialmente aqueles cujo objeto de trabalho é o próprio corpo, não é indiferente que estas mudanças sejam cada vez mais rápidas e bruscas. Através da remitificação da relação entre Natureza e Homem, artistas sentem-se sinestesicamente engajados, mesmo que de forma indireta.

O processo de retorno ao mito através da metáfora da Natureza que busca reaver aquilo que o Homem lhe tomou levianamente é uma nova tentativa de ritualização e integração do ser humano no movimento natural do mundo. Estamos diante do mesmo processo ocorrido na Grécia Antiga, mas com todos os elementos diferentes. O Homem não é mais aquele, nem a Natureza ou a relação entre ambos.

As linhas de força foram alteradas, mas ainda se trata de uma tentativa de intelecção do papel do Homem no mundo. Ao mitificar esta relação, busca-se compreender racionalmente aquilo que já experimenta como experiência.

Assim é que a Hipótese de Gaia, criada por James E. Lovelock (1972), entende a Terra como um único organismo vivo. Já sem a ritualização dos antigos ou a antropomorfização da Terra, o nome não foi atribuído levianamente. Bill Golding, certa vez, disse a James Lovelock: “if you would put forward a big theory about the earth, you’d better give it a good name”, e Golding a chamou “Gaia” (THE GARDIAN, 2000). Se um nome contém uma imagem, há que se compreender suas implicações e o modo como elas evocam a forma e/ou a natureza da coisa nomeada.

Para Martin Rees (2010, p. 11-12), James Lovelock acredita que:

[…] a nossa espécie está agora impondo à Terra um estresse sem precedentes e que a mudança climática poderá levar a um mundo com um ecossistema bem empobrecido, quase inóspito para os seres humanos. Mais assustadora (e mais controvertida) é sua visão de que o ‘ponto de retorno’ já pode ter sido ultrapassado.

Para finalizar, gostaríamos de apresentar algumas imagens que, de alguma forma, jogam com o tema, enxergando a ação da Natureza como este movimento mítico de retomada do seu espaço.

Evidentemente que um ensaio escrito e outro, imagético, não comportam a amplitude da relação entre a humanidade e a Natureza, mas é apenas um vislumbre do nosso parco entendimento desta relação e de como ela nos afeta, enquanto artistas, pensadores e seres viventes neste mundo. Contudo, a proposta é a de que se abra uma janela, para enxergar que a nossa relação com o mundo extrapola o individualismo e antropocentrismo exacerbadamente exaltados nos dias atuais. E mais, se perceber dentro de um processo mítico nos insere num devir e num porvir que nos coloca num estado frustrado, inconclusivo, ínfimo, como os heróis antigos diante das forças divinizadas da Natureza.

 

Figura 1: muro e planta, entre prédios, na Avenida Paulista, São Paulo – SP. Junho de 2014.

Foto: Valdir Lamim-Guedes.

Foto: Valdir Lamim-Guedes

 

Figura 2: mosaico de azulejos semidegradados e planta, na Avenida Paulista, São Paulo – SP. Junho de 2014.

Foto: Valdir Lamim-Guedes.

Foto: Valdir Lamim-Guedes

 

Figura 3: Muro com musgos e plantas, Sevilla, Espanha. Dezembro de 2012.

Foto: Valdir Lamim-Guedes.

Foto: Valdir Lamim-Guedes

 

Figura 4: Pórtico de casa abandonada. Vila Nova de Gaia, Portugal. Novembro de 2012.

Foto: Carlos Gontijo

Foto: Carlos Gontijo

 

Figura 5: plantas ruderais em piso degradado. Lisboa, Portugal. Junho de 2013.

Foto: Carlos Gontijo

Foto: Carlos Gontijo

 

Figura 6: Trepadeira. Marrakech, Marrocos. Junho de 2013.

Foto: Carlos Gontijo

Foto: Carlos Gontijo

 

Figura 7: Calçada. Marrakech, Marrocos. Junho de 2013.

Foto: Carlos Gontijo

Foto: Carlos Gontijo

 

Figura 8: Estátua tomada por musgo. Bali, Indonésia. Junho de 2012.

Foto: Carlos Gontijo

Foto: Carlos Gontijo

 

Figura 9: Adro de igreja. Braga, Portugal. Novembro de 2012.

Foto: Carlos Gontijo

Foto: Carlos Gontijo

 

Figura 10: Árvore crescendo em lateral de igreja. Braga, Portugal. Novembro de 2012.

Foto: Carlos Gontijo

 

Figura 11: Dente-de-leão em calçada. Buenos Aires, Argentina. Junho de 2012.

Foto: Valdir Lamim-Guedes.

Foto: Valdir Lamim-Guedes

 

Figura 12: Parede interna do Castelo dos Mouros, Sintra, Portugal. Janeiro de 2013

Foto: Carlos Gontijo

 

Figura 13: Vista parcial do Castelo dos Mouros, Sintra, Portugal. Janeiro de 2013.

Foto: Valdir Lamim-Guedes

Foto: Valdir Lamim-Guedes

 

Figura 14: Ruínas à beira do Rio Douro, Porto, Portugal. Novembro de 2012.

Foto: Carlos Gontijo

Foto: Carlos Gontijo

 

Figura 15: Saída de calha em muro de Sevilla, Espanha. Dezembro de 2012.

Foto: Valdir Lamim-Guedes

Foto: Valdir Lamim-Guedes

 

Figura 16: Muro em Sevilla, Espanha. Dezembro de 2012.

Foto: Valdir Lamim-Guedes

Foto: Valdir Lamim-Guedes

 

Figura 17: Viela em Tânger, Marrocos. Junho de 2013.

Foto: Valdir Lamim-Guedes

Foto: Valdir Lamim-Guedes

 

Figura 18: Cemitério animista tomado por plantas, estrada entre Com e Tutuala, Timor-Leste. Maio de 2012.

Foto: Valdir Lamim-Guedes

Foto: Valdir Lamim-Guedes

 

Figura 19: Templo em que atualmente se representam peças de teatro balinês. Ubud, Indonésia. Junho de 2012.

 

Foto: Valdir Lamim-Guedes

Foto: Valdir Lamim-Guedes

 

Figura 20: Parede de casa abandonada. Vila Nova de Gaia, Portugal. Novembro de 2012.

Foto: Carlos Gontijo

Foto: Carlos Gontijo

 

REFERÊNCIAS

CARSON, R. Silent spring. Boston: Houghton Mifflin, 1962.

ÉSQUILO. Prometeu acorrentado. Disponível em: <www.oficinadeteatro.com>. Acesso em: 10 jul. 2015.

JONAS, H. O Princípio Responsabilidade – ensaio de uma ética para a civilização tecnológica. Trad. Marijane Lisboa e Luiz Barros Montez. Rio de Janeiro: Contraponto, 2006.

LOVELOCK, J. E. Gaia as seen through the atmosphere. Atmospheric Environment, v. 6, n. 8, p. 579-580, 1972.

______. Gaia: alerta final. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2010.

MARCH, J. Mitos clássicos. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2015.

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO -MEC. Parâmetros Curriculares Nacionais: meio ambiente. Brasília: MEC, 1996.

OLIVERIA, J.; BORGES, W. Ética de Gaia: ensaios de ética socioambiental. São Paulo: Paulus, 2008.

PORTO-GONÇALVES, C. W. A Globalização da Natureza e a Natureza da Globalização. 5. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2013.

REES, M. Prefácio. In: LOVELOCK, J. Gaia: alerta final. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2010.

SIBILIA, P. O homem pós-orgânico: corpo, subjetividade e tecnologias digitais. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 2000.

THE GUARDIAN. Entrevista com James Lovelock. 2000. Disponível em: <http://www.theguardian.com/books/2000/sep/29/scienceandnature.livechats>. Acesso em: 10 jul. 2015.

 

Recebido em: 20/07/2015

Aceito em: 6/08/2015


[1] Doutorando em Literatura Portuguesa na Universidade de São Paulo (FFLCH/USP) – Bolsista Fapesp. Ator e mestre em Teoria e História Literária pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

[2] Doutorando em Educação na Universidade de São Paulo (FE/USP). Biólogo e mestre em Ecologia pela Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop). Professor do Centro Universitário Senac.

Ensaio sobre a luta da Natureza contra o desaparecimento


Carlos Junior Gontijo Rosa[1]

Valdir Lamim-Guedes[2]


RESUMO: Lê-se, neste ensaio, uma “estória” recontada. Desde a Grécia antiga, em que Natureza e divino se confundem, o Homem tenta domar e invadir o espaço do sagrado/natural. A tragédia se abate sobre o herói ao mesmo tempo em que este domina uma parte da Natureza. Esta mesma natureza, já não divinizada, mas ainda pungente, tenta reaver seu espaço, lenta como a divindade imortal, que não vê em si mesma um sentido de finitude e imediatismo, presentes no que é propriamente humano. Assim, caminhando pelas cidades impermeabilizadas pelo asfalto e concreto, a natureza ainda resiste e se reafirma infinita sobre a obra humana, quer num broto que nasce de uma rachadura do asfalto, de raízes que racham as calçadas ou de samambaias ou árvores que dominam ruínas abandonadas.

PALAVRAS-CHAVE: Ambiente. Natureza. Arte. Urbano. Percepção de Mundo.


Essay about the Nature’s fight against disappearance

 

ABSTRACT: On this Essay, you can read about a retelling story. It has been since the ancient times that the Nature and the divine are mixed. The Humanity, however, always tries to tame it. The tragedy reaches our hero when he tries to dominate a part of the Nature. The Nature, no longer holy but still penetrating, aims to claim back its space fighting slowly as any immortal holiness that doesn’t recognize any meaning of human immediacy in itself. In the concrete roads, the nature reassures itself as endless above any human work: a sprout germinates in the asphalt, the tree roots breaks the sidewalks and green bushes reign on abandoned wreckage.

KEYWORDS: Environment. Nature. Art. Urban. World Perception.