CHAMADA PARA PUBLICAÇÕES: Dossiê “Eventos extremos”
Editores: Antonio Carlos Queiroz Filho (Ufes), Bruno Amaral de Andrade (UFBA), Flávio Leonel Abreu da Silveira (Universidade Federal do Pará – UFPA), Lilian Maus (Universidade Federal do Rio Grande do Sul -UFRGS), Rodrigo Paiva (Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS) e Susana Oliveira Dias (Universidade Estadual de Campinas – Unicamp).
Os artigos, ensaios, resenhas e produções artísticas e culturais devem ser adequados às normas para publicação e enviados à Comissão Editorial até o dia 15 de março de 2026 por meio eletrônico para climacom@unicamp.br. O dossiê será publicado a partir de junho de 2026.
Leia a proposta do dossiê e conheça as normas de publicação da ClimaCom.
Dossiê “Eventos extremos”
| chamada aberta para 2026 |
| EDITORIAL |

Florestania, Lilian Maus
“é um lugar do alto, é uma temperatura extrema, e nós sabemos que quer o fogo quer o gelo queimam” (Gusmão, 2010, p.368).
Vivemos hoje sob um novo regime climático que reconfigura não apenas o ambiente físico do planeta, mas também nossa maneira de habitar, existir e perceber o mundo. A alternância entre eventos extremos — calor e frio intensos, chuvas torrenciais e secas severas, incêndios e inundações — indica que estamos diante de uma transformação profunda no sistema terrestre. Na América Latina, são conhecidos os fenômenos El Niño e La Niña, mas o que enfrentamos vai além de ciclos naturais. Hoje, a comunicadade cientíífica global entende que estamos diante de um cenário agravado pelas mudanças climáticas globais e pelo modelo civilizatório baseado na exploração ilimitada da natureza, tratada como recurso, como objeto, ao invés de ser tratada como sujeito de direito
A carta de Porto Alegre aponta que, entre os anos de 2000 e 2024, tivemos no Brasil 122 desastres de natureza hidrometeorológica, afetando cinco milhões de pessoas e causando mais de mil mortes e perda de 1,8% do PIB. Durante as inundações de 2024, tivemos, no Rio Grande do Sul, mais de 500 mil desalojados e 175 vítimas fatais. Atravessamos a destruição das infraestruturas urbana e rural, dos sistemas de proteção em áreas de risco e vulnerabilidade, além da interrupção dos serviços básicos, vivenciando a escassez de água, de energia elétrica e de meios de transporte e de rodovias. Nesse sentido, é nítido o quão avassalador têm sido os efeitos das mudanças climáticas e da crise ambiental em nós. Traumas físicos e psíquicos atingiram populações que sobrevivem às adversidades, assoladas por desigualdades socioeconômicas, apagamento cultural e tensões políticas. Um ano após o desastre, seguimos na incerteza ao precipitar o futuro.
A dimensão do trauma e da incerteza (RIBEIRO, 2025) desorganiza o futuro e exige a escuta de novos imaginários. Isso nos leva à constatação sobre como a intensificação de eventos climáticos extremos nas últimas décadas diz sobre esse novo novo padrão de funcionamento do clima global. O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) alerta que ondas de calor, tempestades, incêndios e secas estão se tornando mais frequentes e severos, conforme a temperatura média global aumenta, afetando regiões de forma desigual, mas generalizada.
Queremos, com este dossiê, pensar junto no próprio conceito de “eventos extremos”, torná-lo um problema coletivo a ser experimentado inter e transdisciplinarmente. Uma das perguntas que essa chamada orienta é: que medidas podem ser tomadas para aumentar a resiliência às cheias e às secas extremas e para a adaptação às mudanças climáticas? O esforço da previsibilidade dos eventos extremos e a comunicação dos fenômenos associados aos cidadãos afetados são ainda uma prioridade que exige abordagem multidisciplinar (SILVA DIAS, 2014). Enquanto a meteorologia analisa as variações inesperadas das condições atmosféricas que impactam o clima local, a engenharia aborda esses eventos com foco nos limites naturais e em seus impactos. Já as ciências sociais investigam as vulnerabilidades sociais que aumentam os riscos para as comunidades (MARCHEZINI et al., 2023, p. 17).
A emergência climática, portanto, escancara uma crise dos sentidos (Farrier, 2019), uma incapacidade coletiva de perceber, sentir e responder de modo ético ao mundo em ruínas. Nesse contexto, o paradigma do progresso e da financeirização da vida, ainda hegemônico, contribui para a intensificação das desigualdades sociais e ambientais, obscurecendo a interdependência entre humanos e não-humanos. Como sugere Anna Tsing (2019, 2022), talvez possamos aprender com formas de vida que florescem na adversidade, como os fungos,líquens e algumas plantas que sobrevivem em condições extremas graças à simbiose e à cooperação. No Brasil, o bioma Caatinga, conhecido por sua capacidade de absorver grandes quantidades de CO2 e por sua vegetação adaptada à seca severa, oferece um vislumbre sobre o poder de florescer após atravessar situações-limite.
A filósofa Donna Haraway costuma pensar o mundo como um “tropo”, ou seja, um nó em movimento, uma espécie de “tropeço”, de trouble (problema). Esse emaranhado vivo está em constante transformação. Por isso, não há solução milagrosa e definitiva para problemas complexos. Para enfrentar tal crise, é preciso cultivar alianças de corresponsabilidade entre os saberes tradicionais e científicos. Neste ponto, Nego Bispo (2015) nos convida a pensar a partir dos “outros-saberes”, uma “Contra-Narrativa”, onde a relação com a natureza se dá pela complementaridade, e não pela dominação, como antídoto ao modelo que gera os extremos. Afinal, como (sobre)viver eticamente neste mundo de extremos a partir de relacionamentos heterogêneos e conexões parciais? Essa é outra questão que desejamos abordar aqui.
Este dossiê, portanto, propõe refletir sobre os sentidos dos eventos extremos diante da crise ambiental à luz da interdependência ecológica, apontando para a urgência de repensar nossas práticas, afetos e modos de vida.
Convidamos submissões que abordem:
- Iniciativas populares, artísticas e de pesquisa que discutam os eventos extremos e como podemos cultivar novas perspectivas para enfrentar os extremos, incluindo a escuta de “outros-saberes” e a busca por novos imaginários e utopias
- Reflexões e estudos integrados sobre o que é viver em regime de extremos climáticos e os seus impactos e transformação de modos de vida e de habitar, considerando as “Contra-Narrativas” de povos e comunidades tradicionais
● Pesquisas, experiências e criações que abordam projeções, sistemas de alerta e prevenção diante de eventos extremos; - Materiais que relacionem eventos extremos, ciências, artes e tecnologias, incluindo a análise crítica da digitalização e seus impactos e implicações coloniais.
● Discussão do Estado da Arte, síntese conceitual e metodológica, revisão e análise de conceitos de eventos extremos;
● Diálogos inter/transdisciplinares – em alianças com campos como as artes, as filosofias, as ciências, as educações e as comunicações sobre eventos extremos.
Referências:
SANTOS, Antônio Bispo dos. A terra dá, a terra quer. São Paulo: Ubu Editora/PISEAGRAMA, 2023.
FARRIER, D. Anthropocene Poetics: Deep Time, Sacrifice Zones, and Extinction. Minnesota: University of Minnesota Press, 2019.
TSING, A. Margens indomáveis. PISEAGRAMA, Belo Horizonte, n. 12, p. 02 – 11, 2018. Disponível em: https:// piseagrama.org/margens-indomaveis/. Acesso em: 29 de jan. de 2022.
GRAEBER, David; WENGROW, David. O despertar de tudo: uma nova história da humanidade. São Paulo: Companhia das Letras, 2022
KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.
RIBEIRO, Sidarta. O oráculo da noite: a história e a ciência do sonho. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.
TSING, Anna. Viver nas ruínas: paisagens multiespécies no antropoceno. Thiago
Mota Cardoso, Rafael Victorino Devos. Brasília: IEB Mil Folhas, 2019.
SILVA DIAS, Maria Assunção Faus. Eventos climáticos extremos. Revista usp, n. 103, p. 33-40, 2014.
PAIVA, R.; COLLISCHONN, W.; MIRANDA, p. et al. Adaptação e resiliência a cheias no Rio Grande do Sul no contexto da variabilidade e mudança climática. In: Ferrer, Joao Carlos Camargo; Daneris, Marcelo Tuerlinckx; Marques, Pedro Romero (Org.). RS : resiliência & sustentabilidade : reflexões para reconstrução do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Libretos, 2025. p. 262-291
MARCHEZINI, V.; CUNNINGHAM, C. DOLIF, G.O que são eventos extremos? Revista ClimaCom, Desastres | pesquisa – ensaios | ano 10, no. 25, 2023
Carta de Porto Alegre.Disponível em: https://www.ufrgs.br/site/wp-content/uploads/2025/05/carta-porto-alegre.docx.pdf. Acesso em: 20/09/2025limaCom – NORMAS PARA A PUBLICAÇÃO
SUBMISSÃO DE ARTIGOS, ENSAIOS E RESENHAS até o dia 15 de março de 2026
SEÇÃO PESQUISA
A Revista ClimaCom recebe artigos, ensaios e resenhas originais para publicação nos Dossiês para os quais faz chamadas temáticas, e também recebe artigos, ensaios e resenhas originais em fluxo contínuo. Os autores deverão observar o tempo de 2 anos para nova publicação na ClimaCom.
As contribuições são avaliadas pela Comissão Editorial e por pareceristas ad hoc, por meio de revisão às cegas, reservando-se o direito da Revista de propor modificações com a finalidade de adequar os artigos e demais trabalhos aos seus padrões editoriais.
Os originais submetidos à Revista não podem estar em processo de avaliação simultânea em outra publicação e devem ser inéditos no Brasil, cabendo ao Conselho Editorial avaliar a conveniência de publicar ou não trabalhos já divulgados em outros idiomas por revistas e órgãos editoriais de outros países.
Cabe à Comissão Editorial uma análise preliminar dos originais recebidos, a fim de verificar a conformidade com as linhas editoriais e as normas da Revista, podendo recusá-los ou encaminhá-los, caso aprovados, para processo de avaliação com vistas à sua publicação ou não. Poemas e outras modalidades de produção artístico-literária e iconográfica são também publicados, mas unicamente mediante convite da Comissão Editorial.
É condição para a publicação dos materiais a adequação à linha editorial da revista, o cumprimento das normas e a revisão prévia.
Instruções aos colaboradores:
Apreciação pela Comissão Executiva Editorial
Os trabalhos serão, primeiramente, apreciados pela Comissão Editorial Executiva, que solicitará pareceres aos Consultores ad hoc, que permanecerão anônimos. Os artigos serão encaminhados aos consultores sem identificação. Os autores serão notificados da aceitação ou recusa de seus artigos.
Quando forem indicadas modificações substanciais, o autor será notificado e poderá realizá-las, devolvendo o trabalho reformulado dentro do prazo estabelecido pela Comissão. Antes da publicação dos trabalhos, os pareceres serão enviados aos autores. Caso os autores não levem em consideração os apontamentos e sugestões de correção contidas nos pareceres, o texto não será publicado.
A decisão final acerca da publicação ou não do trabalho caberá sempre à Comissão Editorial Executiva.
ARTIGOS
Serão aceitos artigos inéditos em português, espanhol e inglês com o mínimo de 5 páginas (para as áreas de exatas e biológicas) e 10 páginas (área de humanas) e o máximo de 30 páginas, excluindo as referências finais.
ENSAIOS
Serão aceitos ensaios inéditos em português, espanhol e inglês entre 2 e 15 páginas, excluindo as referências finais. Os ensaios caracterizam-se pela maior liberdade formal na exposição do tema de interesse do autor e de seus argumentos. Seu caráter é o de um exercício do pensamento, mas não desprovido de rigor.
RESENHAS
Serão aceitas resenhas de livros indicados pela Comissão Editorial Executiva em português e espanhol de até 8 páginas, incluindo as referências finais.
FORMATAÇÃO PARA ARTIGOS, ENSAIOS E RESENHAS
Os artigos, ensaios e resenhas deverão obedecer estritamente à formatação apresentada nos respectivos templates (margens, tamanho da folha, espaçamentos, tamanho de fonte, estilos etc.), que trazem também exemplos das normas para citação e referenciação. Os casos não exemplificados deverão ser consultados nos documentos da ABNT linkados abaixo.
(baixe o template em word aqui)
(baixe o template em word aqui)
(baixe o template em word aqui)
1) Serão aceitos arquivos somente nos formatos Microsoft Word 97-2003 ou versão superior.
2) A avaliação dos pareceristas ad hoc será anônima, por isso deverão ser enviados dois arquivos: um com autoria e outro sem os nomes dos autores e sem qualquer informação que identifique autoria. No lugar dessas informações deverá ser usada a palavra AUTOR.
3) As citações deverão seguir a NBR 10520 – 2002;
4) As referências deverão seguir a NBR 6023 – 2002;
5) Para o uso de Figuras ver tópico 5.9 da NBR 14724 – 2011;
6) Para os artigos, havendo o uso de Quadro e Tabela devem deve ser consultadas as Normas IBGE completo, ou Normas IBGE simplificado;
7) As únicas expressões latinas que poderão ser usadas no corpo do texto e nas notas ao final, quando necessário, é apud e a abreviatura et al.
SEÇÃO ARTE
SUBMISSÃO DE PRODUÇÕES ARTÍSTICAS E CULTURAIS
Esta seção atua como um espaço expositivo da revista, no qual podem ser publicadas produções artísticas e culturais nas mais diversas modalidades (vídeo, áudio, fotografia, escrita, pintura, desenho, etc.) que possam multiplicar pensamentos em torno das mudanças climáticas na relação com o tema proposto por cada edição da revista. Também podem ser submetidos registros de produções (instalações, oficinas, exposições, intervenções, etc.), em formato digital para publicação.
A comissão julgadora das produções artísticas e culturais é composta pelo Conselho Editorial e avaliará as submissões com base nas seguintes normas:
1) A Revista ClimaCom é uma publicação eletrônica, por isso TODAS as produções submetidas devem ser convertidas em formato digital (áudio, vídeo ou imagem).
2) As produções devem vir acompanhadas de arquivo em doc do word contendo:
-
dados do(s) autor(es) (nome, instituição, e-mail, telefone);
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título da produção;
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resumo de no máximo 500 palavras (não obrigatório);
-
no caso das produções audiovisuais, deve conter ainda o link em que o arquivo se encontra disponível para avaliação;
-
FICHA TÉCNICA da produção no arquivo com as seguintes informações, quando for pertinente ao trabalho: título da obra, autor, diretor, roteirista, editor, coordenador, técnica, fotógrafo/câmera, música original, financiamento, projeto, país de produção, ano de produção.
3) As produções audiovisuais serão analisadas através de endereço eletrônico gerado pelo youtube ou vimeo, e, no caso das produções aceitas para publicação, o arquivo deve ser encaminhado via google drive para a revista;
4) As produções submetidas em imagem digital devem possuir resolução mínima de 72 dpi, e com 1024 pixels no maior lado da imagem, no formato JPEG.
5) O(s) autor(es) poderão submeter até 1 série de imagens, é aconselhado que cada série seja composta de até 16 imagens (se necessário a equipe da revista poderá efetuar alterações na qualidade e tamanho das imagens, para melhor adequação aos parâmetros da revista, após consultar os autores).
6) Caso seja necessário, um representante da revista entrará em contato com os responsáveis pelas obras selecionadas, por e-mail ou telefone, solicitando o envio de cópias autenticadas dos documentos exigidos por lei, tais como licença ou cessão de direitos autorais, autorização das pessoas filmadas para exibição de sua voz e imagem, autorização para uso de fonograma, músicas, obras audiovisuais, fotográficas ou de outros direitos autorais que sejam relacionados com o vídeo inscrito.
7) O produtor é responsável pela utilização de imagens ou músicas de terceiros em seus trabalhos. Todos e quaisquer ônus por problemas de direitos autorais recairão exclusivamente sobre o realizador do trabalho inscrito.
8) As submissões serão realizadas através do e-mail: <climacom@unicamp.br>, até o dia 15 de março de 2026. O(s) autor(es) deve(m) encaminhar no e-mail o arquivo PDF com os dados, título, link, resumo e ficha técnica da produção, junto às imagens que compõem a série.
