Entre veias e cabaças, Èṣù performa o meu corpo | Joadson do Prado Brito Silva e Mateus Schimith
Joadson do Prado Brito Silva[1]
Mateus Schimith[2]
No corpo o tempo bailarina. E em seu movimentos funda o ser no tempo, inscrevendo-o como temporalidade”.
(Martins, 2021, p. 12)
Nem tudo que habita o porão é sombra
Peço licença para este giro. Passo que sempre beirou o desconhecido, a poesia enraizada na terra, na água, no fogo e no ar. Passo que nem sempre foi certeiro e ousou dançar a melodia silenciosamente/barulhenta do tempo. Passo, descompassado, cadenciado pelas brechas das memórias que se inscrevem em meu corpo. Corpo que fala, que se debruça no chão como um feto em meio às águas do ventre de minha mãe. Corpo arrancado do útero, corpo encruzilhado, em chamas, tocado pelas mãos do ontem. Corpo que grita: Laroyé, Èṣú! Senhor do corpo, das encruzilhadas e das potências criativas que habitam em mim. Mojubá, ÈṢÙ!
Quando retorno ao espaço da pesquisa nas Artes Cênicas, sem dúvidas, só conseguiria adentrar com a permissão para imergir em algo que reverbera para além de uma escrita e/ou prática artística. Precisaria fazer sentido, exalar pelo corpo a sua essência, expandindo a força vital que me proporciona o ser artista, o ser humano. Em busca desse alimento espiritual, busquei vasculhar este corpo em que habito cheio marcado por sensações, histórias, minhas e de outros, imagens que estavam adormecidas em memória. Foi preciso enraizar, me aterrar e encontrar esse lugar de pertencimento que me estrutura.
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Recebido em: 15/09/2025
Aceito em: 15/11/2025
[1] Mestrando do Programa de Pós-graduação em Artes Cênicas da Universidade Federal da Bahia, Escola de Teatro, Salvador – BA. E-mail: joadson_binho@hotmail.com
[2] Professor Doutor do Programa de Pós-graduação em Artes Cênicas da Universidade Federal da Bahia, Escola de Teatro, Salvador – BA. Orientador da pesquisa de mestrado. E-mail: mateus.sba@gmail.com
Entre veias e cabaças, Èṣù performa o meu corpo
RESUMO: Esta escrita tem como objetivo apresentar, questões que envolvem o processo de pesquisa que está se desenvolvendo tendo como base a investigação de caminhos para uma poética corporal a partir da performatividade de Èṣù, compreendido como um princípio dinâmico e impulsionador da ação criativa. A partir das vivências com minha avó e nossas relações com as tradições religiosas de matrizes africanas, mergulho em imagens que surgem a partir do encontro com o sagrado e se revelam como possibilidade para uma investigação poética centrada na memória, no corpo e na ancestralidade, envolvidas em uma dinâmica que parte de um tempo que é espiralado e se converte em ritual, em performance.
PALAVRAS-CHAVE: Èṣù; Poética Corporal; Ancestralidade; Performatividade.
Beteween veins and gourds, Èṣù performas my body
ABSTRACT: This article aims to briefly present the issues surrounding the research process that is being developed based on the investigation of paths for a body poetics based on the performativity of Èṣù, understood as a dynamic principle that drives creative action. Based on experiences with my grandmother and our relationships with religious traditions of African origin, I delve into images that emerge from the encounter with the sacred and reveal themselves as a possibility for a poetic investigation centered on memory, the body and ancestry, involved in a dynamic that starts from a time that is spiraled and becomes a ritual, a performance.
KEYWORDS: Èṣù; Body poetics; Ancestry; Performativity.
SILVA, Joadson do Prado Brito; SCHIMITH, Mateus. Entre veias e cabaças, Èṣù performa o meu corpo. ClimaCom – Exu: arte, epistemologia e método [online], Campinas, ano 12, n. 29., dez. 2025. Available from: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/entre-veias-e-cabacas-eṣu/
