Exus e pomba giras, malandres, capoeiras e transpretas: formas expressivas, diversidades e direitos sociais do povo afrodiaspórico | Juliano Nogueira de Almeida


Juliano Nogueira de Almeida[1]

 

Acredito, tal como Luiz Rufino e Luiz Antônio Simas, no encantamento como “política de vida” como “uma capacidade de transitar nas inúmeras voltas do tempo, invocar espiritualidades de batalha e de cura” (Simas, Rufino, 2020, p. 08). Este encantamento me traz a tona personagens como Xica Manicongo, Besouro Mangangá, Madame Satã, Zé Pelintra, Maria Navalha. Personagens que, em seus corpos racializados, trazem saberes e resistências, apontando para a força da diferenciação em relação aos modos dominantes, lutando pela vida, pela liberdade e pela justiça social, curando o que o ocidente adoeceu, afinal “falamos do encantamento enquanto astúcia de batalha e mandinga em um mundo assombrado pelo terror.” (Rufino, Simas, 2020, p. 08).

Como Exu abre os caminhos, segundo as religiões afro-brasileiras influenciadas pela cultura iorubá, começaremos por Ele. Vale destacar que o nome Exu se refere tanto a uma divindade quanto a falanges de entidades. Quando nos remetemos a Exu, divindade, estamos falando de uma manifestação de Deus (Olodumaré), uma força da natureza sagrada. Exu, o orixá – às vezes erroneamente confundido com o nksi Pamba Njila ou Aluvaiá, do candomblé de origem bantu –, tal como este, é senhor das encruzilhadas, das escolhas, é aquele que dá acesso às outras divindades, é o mensageiro entre o mundo que conhecemos e o mundo espiritual, entre o Orun e o Aiye. Exu é anterior ao tempo, ao espaço, a racionalidade, ao humanamente compreensível: “Exu acertou ontem com a pedra que jogou hoje”. Exu é um orixá que recebe vários nomes/epítetos conforme seus atributos e as funções que exerce: Exu Bará, Exu Elebá, Exu Alaqueto. Por inúmeros motivos, preconceituosos, racistas e criminosos, Exu, o “dono da rua”, o “dono do corpo”, é associado ao demônio, especialmente por ele trazer dentro de sua iconografia símbolos fálicos, por estar associado à força, à fertilidade, à corporeidade e por ele ser incompreendido, afinal, para muitos o inferno é o “incompreendido”, o inferno é “o outro”. Além de Exu (orixá), os exus (entidades), também sofrem uma forte demonização no Brasil, especialmente vinda de grupos religiosos cristãos intolerantes

 

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Recebido em: 15/09/2025

Aceito em: 15/10/2025

 

[1] Mestre em Estudos de Linguagens pelo Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG). Email: julianobutz@hotmail.com

Exus e pomba giras, malandres, capoeiras e transpretas: formas expressivas, diversidades e direitos sociais do povo afrodiaspórico.

 

RESUMO: Este artigo parte das provocações advindas dos encontros ocorridos nas disciplinas Linguagens e Formas Expressivas, Direitos Sociais e Políticas Reparatórias e Gênero e Diversidade da Pos-graduação em Culturas Populares e Tradicionais da Universidade Regional do Cariri, que cursei entre 2024 e 2025. Ao longo do texto tentarei “ziguezaguear” entre os modos diversos de expressão e de resistência dos corpos subalternizados, bem como as diversidades atreladas a eles e a subtração e conquista dos direitos destes corpos em meio uma sociedade excludente e racista, especificamente a do Brasil, país que mal consegue se consolidar enquanto uma democracia em termos gerais e que, se considerado em termos raciais, comete atrocidades cotidianamente. Para tanto, partirei do afroperspectivismo na escolha dos personagens conceituais e na escolha de termos e conceitos moldados de acordo com a cosmopercepção afrocentrada de mundo. Farei uso de métodos decoloniais/contracoloniais e utilizarei epistemologias trazidas pela força da gira, dos encantados e dos elementares da natureza.

PALAVRAS-CHAVE: Negritude. Contracolonialidade. Encantamento.

 


Exus and pomba giras, malandres, capoeiras and black trans people: expressive forms, diversity and social rights of the Afro-diasporic people.

 

ABSTRACT: This article is based on the provocations arising from the encounters held in the Languages and Expressive Forms, Social Rights and Reparatory Policies, and Gender and Diversity courses of the postgraduate program in Popular and Traditional Cultures at the Regional University of Cariri, which I attended between 2024 and 2025. Throughout the text, I will attempt to “zigzag” between the diverse modes of expression and resistance of subalternized bodies, as well as the diversities linked to them and the subtraction and conquest of rights for these bodies amidst an exclusionary and racist society, specifically that of Brazil, a country that is barely consolidating itself as a democracy in general terms and that, considered racially, commits atrocities daily. To this end, I will draw on Afroperspectivism in my selection of conceptual figures and terms and concepts shaped by an Afrocentric cosmoperception of the world. I will employ decolonial/countercolonial methods and utilize epistemologies brought about by the power of the gira, of the enchanted ones, and the elemental elements of nature.

KEYWORDS: Blackness. Countercoloniality. Enchantment.

 


ALMEIDA, Juliano Nogueira de. Exus e pomba giras, malandres, capoeiras e transpretas: formas expressivas, diversidades e direitos sociais do povo afrodiaspórico. ClimaCom – Exu: arte, epistemologia e método [online], Campinas, ano 12, n. 29., jun. 2025. Available from: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/exus-e-pomba-giras/