A matemática que anda nas ruas: Exu, diálogo e saberes em movimento | Jonson Ney Dias da Silva
Jonson Ney Dias da Silva [1]
A rua é das mulheres e homens
comuns, suas histórias e
sapiências, modos de vida
significados nas frestas
e na escassez.
(Rufino, 2019, p. 108)
Exu e o cruzo dos saberes: a rua como espaço educativo
As reflexões que apresento neste ensaio nascem do meu movimento como educador matemático, situado na encruzilhada da vida, lugar de travessias onde Exu se faz presença, abrindo caminhos e instaurando perguntas. Ensinar e aprender, nesse espaço, não são linhas retas, mas deslocamentos contínuos, idas e voltas, desvios e retornos que atravessam meu corpo docente. É nesse jogo de forças, entre o rigor do cálculo e a fluidez das experiências cotidianas, que percebo a potência da narrativa como território de criação, crítica e reinvenção.
A escrita desse texto emerge, assim, como gesto de caminhar com Exu, de me deixar atravessar pela rua da vida e transformar o vivido em palavra. O texto, ao centrar-se em um conflito e em uma experiência singular, dialoga com minha condição docente, marcada por tensões, descobertas e deslocamentos que são, eles mesmos, encruzilhadas pedagógicas. Ao adotar essa forma narrativa, sigo também os ecos de Paulo Freire, que nos convoca a problematizar o que é dado como realidade e a recriá-lo a partir de nossas vivências.
(Leia o ensaio completo em PDF)
Recebido em: 15/09/2025
Aceito em: 15/10/2025
[1] Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Vitória da Conquista. jonson.dias@uesb.edu.br
A Matemática que anda nas ruas: Exu, diálogo e saberes em movimento
RESUMO: Este ensaio reflete sobre os saberes matemáticos que emergem das ruas e suas encruzilhadas, compreendendo-os como práticas vivas, dinâmicas e plurais, enraizadas na experiência popular. O texto toma Exu como metáfora e princípio explicativo, evidenciando que o conhecimento não é linear, mas múltiplo, relacional e em constante transformação. Nas práticas cotidianas de educandas e educandos da Educação de Pessoas Jovens, Adultas e Idosas (EPJAI), revelam-se matemáticas construídas a partir da urgência da sobrevivência, da criatividade e da necessidade, frequentemente invisibilizadas pela escola formal. Reconhecer essas matemáticas improvisadas, corporificadas e situadas, é um ato político e ético, que amplia os horizontes da Educação Matemática e legitima saberes afro-diaspóricos e populares silenciados pela colonialidade. Assim, a rua torna-se território pedagógico em que se aprende e ensina em diálogo, reciprocidade e movimento. Exu, guardião das encruzilhadas, simboliza a abertura para o imprevisível, a escuta e o encontro, convocando educadoras e educadores a construir uma EPJAI que valorize os saberes dos sujeitos, promova pertencimento e anuncie uma matemática que pulsa como estratégia de vida, resistência e reinvenção.
PALAVRAS-CHAVE: Matemática. EPJAI. Práticas Matemáticas. Exu. Saberes.
The Mathematics that walks the streets: Exu, dialogue and knowledge in movement
ABSTRACT: This essay reflects on the mathematical knowledge that emerges from the streets and their crossroads, understanding it as a living, dynamic, and plural practice rooted in popular experience. The text uses Exu as a metaphor and explanatory principle, highlighting that knowledge is not linear, but multiple, relational, and in constant transformation. In the daily practices of students in the Education of Young People, Adults, and the Elderly (EYPAE), mathematics constructed from the urgency of survival, creativity, and necessity are revealed, often rendered invisible by formal schooling. Recognizing these improvised, embodied, and situated mathematics is a political and ethical act that broadens the horizons of Mathematics Education and legitimizes afro-diasporic and popular knowledge silenced by coloniality. Thus, the street becomes a pedagogical territory where learning and teaching take place in dialogue, reciprocity, and movement. Exu, guardian of the crossroads, symbolizes openness to the unpredictable, listening, and encounter, calling upon educators to build an EYPAE that values the knowledge of individuals, promotes belonging, and proclaims a mathematics that pulsates as a strategy for life, resistance, and reinvention.
KEYWORDS: Mathematics. EYPAE. Mathematical Practices. Exu. Knowledge.
SILVA, Jonson Ney Dias da. A matemática que anda nas ruas: Exu, diálogo e saberes em movimento. ClimaCom – Exu: arte, epistemologia e método [online], Campinas, ano 12, n. 29., dez. 2025. Available from: http://climacom.mudancasclimaticas.net.br/a-matematica-que-anda-nas-ruas/
