Arreda homem que aí vem mulher: Exu–Mulher e as Pombagiras | Ana Valéria de Figueiredo


 

Gab Dias[1]

Ana Valéria de Figueiredo [2]

 

(Ponto de Pombagira)

 

Laroiê!

Abro essa roda pedindo licença ao senhor dos caminhos, Exu! Exu é o Orixá que está relacionado com a transformação, dinamismo e movimento. Ele trabalha no caos para trazer a ordem e na ordem para trazer o caos. É exemplo de criação de vida nas frestas, de recusa à morte silenciosa e de reivindicação da vida. E é, essencialmente, o princípio ativo de todas as coisas que existem. A primeira pulsão de vida.

Nas regiões da África Ocidental e Central, eram cultuadas divindades criadoras como Olodumaré/Olorum (iorubás), Zambi (angola-congoleses) e Mawu-Lissá (povos do Daomé), ligadas à origem do mundo e à manutenção da ordem cósmica. Mais tarde, missionários cristãos passaram a associar essas entidades ao Deus Criador do Cristianismo (Alves, 2013). 

Conforme observa Reginaldo Prandi (2001, p. 47), ao se depararem com estátuas de Exu representado com o falo ereto, os primeiros missionários o interpretaram como uma figura demoníaca. Entretanto, segundo Ana Cristina Zecchinelli Alves (2013, p. 24), os africanos não possuíam a noção de diabo ou de um opositor de Olodumaré, e as categorias de Bem e Mal, tal como concebidas no cristianismo e no islamismo, não fazem parte das religiões tradicionais africanas. Os povos africanos não concebem a dicotomia entre bem e mal nos moldes do cristianismo, e o falo ereto, presente em diversas representações, está associado à fertilidade e à semeadura.

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Recebido em:  15/09/2025

Aceito em: 15/10/2025

 

[1] Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Mestrande do Programa de Pós-graduação em Artes. E-mail:gab99dias@gmail.com
[2] Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Docente do Programa de Pós-graduação em Artes. E-mail:anavaleriadefigueiredo@gmail.com

Arreda homem que aí vem mulher: Exu–Mulher e as Pombagiras

 

RESUMO: Este artigo investiga a presença de Exu e Pombagira como forças vitais, criativas e transformadoras nas cosmologias africanas e afro-brasileiras. Exu, princípio ativo da existência, é compreendido como potência que articula ordem e caos, fertilidade e movimento, distante da dicotomia entre bem e mal do cristianismo. Embora muitas vezes reduzido à masculinidade no Brasil, registros africanos e pesquisas contemporâneas (Alexandre, 2023; Ogundipe, 2012) evidenciam que Exu pode ultrapassar limitações de gênero, sendo simultaneamente masculino e feminino, expressão de complementaridade e fecundidade. No contexto brasileiro, essa pluralidade se manifesta nas Pombagiras, entidades associadas às ruas, ao desejo e à liberdade dos corpos. Marcadas por estigmas de prostituição e promiscuidade, elas ressignificam tais imagens, afirmando-se como conselheiras espirituais, mestras da escuta, da cura e da mediação entre mundos (Prandi, 1996; Haddock-Lobo, 2020; Simas, 2021). A partir de minha vivência em terreiro, destaco o encontro com a Pombagira Cigana das 7 Encruzilhadas, que compartilhou sua história e orientou a criação de uma  pintura em sua homenagem. Assim, propomos refletir sobre como Exu e Pombagira rompem limites coloniais e patriarcais, afirmando cosmologias negras e femininas que resistem, criam e reivindicam vida.

 

PALAVRAS-CHAVE: Exu-Mulher. Pombagira. Encruzilhadas. Exu. Artes Visuais.


¡Apártate, hombre, que aquí viene mujer!: Exu–Mujer y las Pombagiras

 

RESUMEN: Este artículo examina la presencia de Exu y Pombagira como fuerzas vitales, creativas y transformadoras en las cosmologías africanas y afrobrasileñas. Exu, concebido como principio activo de la existencia, es entendido como una potencia que articula orden y caos, fertilidad y movimiento, distante de la dicotomía entre el bien y el mal propia del cristianismo. Aunque con frecuencia ha sido reducido a la masculinidad en Brasil, registros africanos e investigaciones contemporáneas (Alexandre, 2023; Ogundipe, 2012) evidencian que Exu puede trascender las limitaciones de género, siendo simultáneamente masculino y femenino, expresión de complementariedad y fecundidad. En el contexto brasileño, esta pluralidad se manifiesta en las Pombagiras, entidades asociadas al espacio público, al deseo y a la libertad de los cuerpos. Históricamente marcadas por estigmas vinculados a la prostitución y a la promiscuidad, estas figuras resignifican tales imágenes, afirmándose como consejeras espirituales, maestras de la escucha, de la sanación y de la mediación entre mundos (Prandi, 1996; Haddock-Lobo, 2020; Simas, 2021). A partir de mi experiencia en el terreiro, destaco el encuentro con la Pombagira Gitana de las Siete Encrucijadas, quien compartió su historia y orientó la creación de una obra pictórica en su homenaje. Así, se propone reflexionar sobre el modo en que Exu y Pombagira desafían los límites coloniales y patriarcales, afirmando cosmologías negras y femeninas que resisten, crean y reivindican la vida.

PALABRAS CLAVE: Exu-Mujer. Pombagira. Encrucijadas. Exu. Artes Visuales.

 


FIGUEIREDO, Ana Valéria de. Arreda homem que aí vem mulher: Exu–Mulher e as Pombagiras. ClimaCom – Exu: arte, epistemologia e método [online], Campinas, ano 12, n. 29., dez. 2025. Available from: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/arreda-homem/