A heráldica na encruzilhada | Marcio Zamboni
Título | A Heráldica na Encruzilhada
O objetivo dessa série é questionar e subverter a lógica da Heráldica como um repertório simbólico que reafirma a organização de territórios de uma perspectiva conservadora, eurocêntrica e neocolonial. Elaborei contra-versões dos brasões das cidades de São Paulo e de Brasília, evocando Exu como um mediador estético e espiritual que traz à superfície visível do papel (ou das telas) narrativas e perspectivas que a concepção original desses símbolos buscava deliberadamente ocultar.
No brasão de São Paulo o simbolismo autoritário e militarista implícito na alabarda, na bandeira com a cruz de Malta e na citação latina foram substituídos por elementos da cultura religiosa afro-brasileira: o tridente e as saudações a Exu (Laroyê, Mojubá). Os ramos de café, espécie de origem africana (Etíope), são mantidos, nos lembrando que o “ouro negro” que proporcionou o desenvolvimento econômico do estado veio do continente negro e foi cultivado majoritariamente por mãos negras, escravizadas ou não.
No brasão de Brasília, os eixos em cruz são posicionados em X e as quatro flechas cardeais são substituídas por quatro tridentes segurados por quatro exus encarnados em quatro trabalhadores (“calangos”). O centro vazio do poder, que no desenho original irradiava desde o palácio da alvorada (evocado na forma característica de seus pilares) se torna uma espécie de encruzilhada central da nação.
| FICHA TÉCNICA |
Desenho (grafite, nanquim e lápis de cor sobre papel), 2025.
ZAMBONI, Marcio. A heráldica na encruzilhada. ClimaCom – Exu: arte, epistemologia e método. [online], Campinas, ano 12, n. 29 dez. 2025. Available from: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/a-heraldica/
SEÇÃO ARTE | EXU: ARTE, EPISTEMOLOGIA E MÉTODO | Ano 12, n. 29, 2025
ARQUIVO ARTE | TODAS EDIÇÕES ANTERIORES


