Como amar as paisagens? Janelas, educação e arte | Bárbara de Souza Carbogim
Bárbara de Souza Carbogim[1]
Devagar… as janelas olham.
(Drummond, 2013, p.49)
Introdução: primeira fresta
Algumas janelas serão apresentadas ao longo deste texto, a fim de transformarmos seus recortes em quadros artísticos e/ou multiespécies, tornando-se molduras. Acompanhadas dessas imagens, aparecem pequenas descrições poéticas imersas em experiências vividas por mim. A escolha por essa maneira de narrar é uma tentativa de aproximar momentos cotidianos e pessoais à uma reflexão geral, comum e pública, sendo assim, os possíveis afetos gerados através das janelas podem despertar, aos que leem, um encontro com suas próprias imagens e memórias, para, então, pensarmos a forma macropolítica com que a sociedade ocidental e capitalista vem se relacionando com as plantas. Juntamente aos teóricos que irão traçar trajetos e diálogos acerca de: paisagem (Tsing, 2019)[2], cegueira botânica (Wandersee; Schussler, 2002)[3], plantas (Coccia, 2018a) e emoção (Didi-Huberman, 2016), procuro investigar possibilidades de relação não antropocêntricas com as paisagens. Invisto nas potencialidades da arte e da arte-educação e nas suas maneiras próprias de pensar/agir no mundo ao buscar desconstruir o que invisibiliza nossa percepção das paisagens multiespécies.
Janela-moldura: sala de aula na pós-graduação
No primeiro semestre de 2022, me sentei muitas vezes na mesma mesa de uma mesma sala. À minha frente estavam grandes janelas que iam de um lado a outro da parede. Pelas janelas, paisagens de uma universidade do sul do Brasil residida em uma ilha: uma árvore frutífera desconhecida, um clima frio de uma manhã de inverno e alguns raios de sol. Hoje penso que, inconscientemente, sentar naquela posição e ver aquelas janelas-molduras era uma possibilidade de pausa, respiro e acolhimento dentro de um contexto novo e incógnito. Vinha de Minas Gerais e tinha acabado de chegar em Santa Catarina.
Recebido em: 16/03/2025
Aceito em: 01/07/2025
[1] Doutorado em andamento pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas – PPGAC na Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC. E-mail: barbaracarbogim@gmail.com
Como amar as paisagens? Janelas, educação e arte
RESUMO:
Neste texto, parto da inquietação provocada pelas imagens vistas através das janelas — de museus, ônibus e salas de aula — para pensar como percebemos, ou não, as paisagens que coexistem em nosso dia a dia. A partir dessa reflexão, desenvolvo uma crítica à macropolítica antropocêntrica que rege nossa forma de habitar o mundo, relacionando essa visão ao regime ambiental e ao conceito de cegueira botânica. Com base nas reflexões de Flávio Desgranges, Anna Tsing, Didi-Huberman, entre outros estudiosos, investigo possibilidades micropolíticas de afetação dos corpos humanos pelas paisagens multiespécies, destacando a potência da arte e da educação nesse encontro sensível com o mundo.
PALAVRAS-CHAVE: Paisagens multiespécies. Cegueira botânica. Antropoceno. Arte. Educação.
How to love landscapes? Windows, education and art
ABSTRACT:
This article arises from the disquiet provoked by images glimpsed through Windows – of museums, buses, and classrooms – to reflect on how we perceive, or fail to perceive, the landscapes that coexist in our daily lives. From this starting point, I develop a critique of the anthropocentric macropolitics that governs our modes of inhabiting the world, linking this perspective to the environmental regime and the concept of plant blindness. Drawing on the reflections of Flávio Desgranges, Anna Tsing, Didi-Huberman, among other scholars, I explore micropolitical possibilities of affectation of human bodies by multispecies landscapes, emphasizing the transformative potential of art and education in fostering a sensitive encounter with the world.
KEYWORDS: Multispecies landscapes. Plant blindness. Anthropocene. Art. Education.
CARBOGIM, Bárbara de Souza. Como amar as paisagens? Janelas, educação e arte. ClimaCom – Manifesto das águas [Online], Campinas, ano 12, n. 28., jun. 2025. Available from: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/como-amar-as-paisagens/