O rio que me leva para o outro lado | Priscila Pinto Maisel
Priscila Pinto Maisel[1]
Rio sobre rio
O Rio que me leva para o outro lado é um ensaio poético visual nascido de um devaneio na beira de um trecho do Tarumã-Açu, sendo constituído, além de um poema, por vários conjuntos de imagens poéticas, que se desdobram em outras, num contínuo processo de transformação.
Rio sobre rio, a série de imagens sem título apresentadas neste ensaio poético-visual são composições que se destacam pela sobreposição de linhas de diferentes espessuras, repetição de padrões e relação de continuidade, remetendo à fluidez das águas dos rios e aos momentos vividos que se modificam no fluxo da vida, misturando-se às memórias pessoais e transpessoais.
O processo de construção visual nasce de referenciais fotográficos, mapas e imagens de satélite em diferentes épocas do ano, a partir dos quais desenho rios serpenteantes com canetas coloridas sobre papel, escaneio ou os fotografo; para, em seguida, mudar suas cores e tons com filtros e efeitos do smartphone. Às vezes, rotaciono as imagens, repetindo o processo de diferentes maneiras, para, então, combiná-las em grupos e, sucessivamente, criar outros conjuntos.
Assim, a poética do serpentear atravessa os processos simbólicos de minhas criações visuais apresentadas neste ensaio, em sua ligação com as águas, sempre em movimento, como o fluxo contínuo da vida, na passagem pela qual todos passamos, humanos e não humanos, em nossas constantes tentativas de nos reinventar e nos recriar na trama que permeia a existência.
(Leia o ensaio completo em PDF)
Recebido em: 15/05/2025
Aceito em: 15/05/2025
[1] Artista visual e professora da Universidade Federal do Amazonas, doutoranda pelo PPGAV da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Email: priscilamaisel@ufam.edu.br.
O rio que me leva para o outro lado
RESUMO: Neste ensaio poético destaco o ciclo das águas em palavras e imagens, através de composições digitais, em camadas, de desenhos nascidos das linhas dos rios formadas pela subida e descida das águas. Para tanto, utilizo como referência visual fotografias coletadas de maio de 2022 a dezembro de 2024, assim como mapas e imagens de satélite de um pequeno trecho do Rio Tarumã-Açu, afluente do Rio Negro, que constitui extensa bacia hidrográfica em Manaus. Parto das extremidades, entre a cheia e a seca, para discutir os extremos emocionais e climáticos baseada nas vivências que mesclam lembranças, sonhos e tragédias de quem habita esse lugar mutável. Busco inter-relacionar os conceitos de memória (Andrade), paisagem (Collot), poética amazônica (Paes Loureiro), imaginação das águas (Bachelard), bem como o pensamento de Kopenawa e Krenak sobre a natureza, associado ao conceito principal desenvolvido em minha tese, a poética do serpentear. Nas relações entre micro e macro, rios e veias, vida, morte e renascimento, margens e travessias, as águas dos rios e das chuvas costuram modos de sentir e existir que influenciam ampla cadeia de seres viventes, conectando o visível e o invisível.
PALAVRAS-CHAVE: Paisagem. Memória. Poética Amazônica. Serpentear. Rio Tarumã-Açu.
The river that takes me to the other side
ABSTRACT: In this poetic essay, I highlight the water cycle in words and images, through layered digital compositions of drawings born from the lines of the rivers formed by the rise and fall of the waters. To this end, I use as visual reference photographs collected from May 2022 to December 2024, as well as maps and satellite images of a small stretch of the Tarumã-Açu River, a tributary of the Rio Negro, which forms an extensive river basin in Manaus. I start from the extremities between the flood and the drought to discuss the emotional and climatic extremes based on the experiences that mix memories, dreams and tragedies of those who inhabit this changeable place. I seek to interrelate the concepts of memory (Andrade), landscape (Collot), Amazonian poetics (Paes Loureiro), imagination of the waters (Bachelard), and Kopenawa and Krenak’s thinking on nature, with the main concept developed in my thesis, the poetics of meandering. In the relationships between micro and macro, rivers and veins, life, death and rebirth, banks and crossings, river and rain waters weave together ways of feeling and existing that influence a wide chain of living beings, connecting the visible and the invisible.
KEYWORDS: Landscape. Memory. Amazonian Poetics. To Meander. Tarumã-Açu River.
MAISEL, Priscila Pinto. O rio que me leva para o outro lado [online], Campinas, ano 12, n. 28., jun. 2025. Available from: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/o-rio-que-me-leva/