Do chão planetário às marés Karrabing: mundos desiguais no Antropoceno | Tiago Andrade


 

Tiago Andrade[1]

 

Introdução
Espalhando-se no espaço e através do tempo, transitando entre organismos diversos, as águas compõem um milieu planetário no qual a vida está implicada. Em Bodies of water: posthuman feminist phenomenology (2017) a filósofa Astrida Neimanis lança o desafio de uma prática descritiva dos lugares de corporalização da água através daquilo que ela chama de uma fenomenologia pós-humana, abrindo novos modos de subjetivação do corpo como porosamente co-implicado com outros corpos de água. A metodologia principal adotada por Neimanis é uma escrita que permite um deslizamento entre o nó de matéria e sentido corpóreo e o corpus planetário. Informado por uma onto-epistemologia feminista, o relato dos emaranhamentos corpóreos produzido pelo pós-humanismo defendido por Neimanis é atencioso aos hidro comuns que conectam corpos de modo material e metonímico.

O recorrente deslizamento metonímico entre o geofísico e o maternal é característico da obra de feministas que se preocupam com as condições de habitabilidade do planeta, mas que permanecem cientes sobre como certas representações do maternal estão sempre implicadas quando se fala em geração, reprodução e nos envelopes da vida, e que certas representações do planeta e da diferença sexual estão invariavelmente em jogo nas produções de mundo pelo capital mas também por seus opositores, frequentemente de modo não-problematizado (Haraway, 1992; Spivak, 2003).

(Leia o ensaio completo em PDF)

 

Recebido em: 15/02/2025

Aceito em: 15/05/2025

 

[1] Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Universidade Federal do Abc (PPGFIL/UFABC). É membro do Terranias: Núcleo Transdisciplinar de Pensamento Ecológico – PUC-Rio e do NEXOS: Teoria Crítica e Pesquisa Interdisciplinar – Sudeste. E-mail: silva.tiandrade@gmail.com.

Do chão planetário às marés Karrabing: mundos desiguais no Antropoceno

 

RESUMO: Ao desestabilizar a lógica do Mesmo e do indivíduo, o planetário descrito na obra Bodies of water: posthuman feminist phenomenology (2017) da filósofa Astrida Neimanis, radicada na Austrália, traz ao centro da teoria crítica os fluídos esquecidos pelo discurso metafísico. A abordagem fenomenológica de Neimanis busca descrever os corpos de maneira entrelaçada com os hidro comuns, traçando implicações éticas e ecológicas para um feminismo fundado sobre o chão líquido planetário. Questionando a ideia de que a compreensão de nossa condição emaranhada no Antropoceno deve se assentar sobre proposições ontológicas a respeito do chão planetário como condicionante da diferença, nos voltamos para algumas proposições teóricas que emergem a partir do cinema do Karrabing Film Collective tal como discutido por Elizabeth Povinelli, que dizem respeito ao poder dos conceitos de desafiar as forças que mantém mundos sociais em posições desiguais de risco e de absorção de toxicidade no Antropoceno.

PALAVRAS-CHAVE: Novos materialismos. Pós-humanismo. Ética ecológica. Colonialidade. Antropoceno.

 


From planetary grounds to Karrabing tides: unequal worlds in the Anthropocene

 

ABSTRACT: By destabilizing the logic of the Same and the individual, the planetary described in Bodies of Water: Posthuman Feminist Phenomenology (2017) by the Australia-based philosopher Astrida Neimanis brings to the center of critical theory the fluids forgotten by metaphysical discourse. Neimanis’ phenomenological approach seeks to describe bodies as intertwined with the hydrocommons, tracing ethical and ecological implications for a feminism founded on the planetary liquid ground. Questioning the idea that understanding our entangled condition in the Anthropocene must be based on ontological propositions regarding the planetary ground as a condition of difference, we turn to theoretical propositions emerging from the cinema of the Karrabing Film Collective, as discussed by Elizabeth Povinelli, which concern the power of concepts to challenge the forces that keep social worlds in unequal positions of risk and absorption of toxicity in the Anthropocene.

KEYWORDS: New materialisms. Posthumanism. Ecological ethics. Coloniality. Anthropocene.

 


ANDRADE, Tiago. Do chão planetário às marés Karrabing: mundos desiguais no Antropoceno. ClimaCom – Manifesto das águas [online], Campinas, ano 12, n. 28., jun. 2025. Available from: http://climacom.mudancasclimaticas.net.br/do-chao-planetario/