Morar no Amazonas, estado que divide seus limites com o maior bioma do mundo, é catalisador do meu modo de vida e do espaço em que habito. A proximidade com a floresta não me torna indígena, sou Amazônida. Acredito que ser Amazônida envolve um sentimento de pertencimento à mata e, ao mesmo tempo, habitar uma cidade como Manaus, capital amazonense com mais de dois milhões de habitantes. Trânsito intenso. Clima quente e muita umidade. Apenas duas estações durante o ano: seca e chuvosa. Sol e chuva no mesmo dia. Feiras repletas de tucumã, pupunha, banana, tambaqui, jaraqui, pirarucu, sardinha e farinhas de todos os tipos. Pontes. Prédios. Viadutos. Shoppings. Flutuantes. Parques e Reservas.
Tudo isso entrecortado por mais de 150 igarapés, quase todos poluídos. Na Região Norte os igarapés são caminhos de rio, estreitos e com pouca profundidade correm no interior da mata e das cidades. A maneira como a população manauara se relaciona com seus igarapés sempre me incomodou. Digo isso, pois testemunho com muita tristeza todo o lixo descartado nos igarapés e o sentimento de desprezo pelas águas que o manauara e o poder público insistem em demonstrar. O exercício de pensar o entorno e refletir, nas minhas ações de habitante e artista neste meio, resultaram em uma dúvida recorrente no meu pensamento. Indago-me se o principal igarapé urbano que atravessa a cidade de Manaus, afluente do Rio Negro com mais de 20 km de extensão, apesar de ser submetido diariamente a um grande fluxo de esgoto e resíduos, passando por assoreamentos em vários trechos, ainda apresenta vida e por consequência vive.
Este ser fluido consegue ainda se manter em estado de existência?
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Recebido em: 15/05/2025
Aceito em: 15/05/2025
[1] Artista multimídia e Doutoranda em Poéticas Visuais do Programa de Pós-graduação em Artes Visuais do Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. E-mail: gi.riker@gmail.com