Projeto Amar o Mangue, há que se pisar leve para não afundar | Mariana Vilela Leitão e Jurandir Rosa da Silva

Título | Projeto Amar o Mangue, há que se pisar leve para não afundar

Mangue é a vegetação que caracteriza os manguezais, ecossistemas que se formam na transição entre o mar e a terra. É no equilíbrio entre a água doce e água salgada que a vida prolifera. Um lugar onde é preciso ter olhos nos pés, para não sair pisando em qualquer coisa, de qualquer jeito. São muitos seres entre as raízes retorcidas e a lama escura e densa. Há que se pisar leve para não afundar. Há que se abrir a escuta com o corpo todo porque o mangue pede da gente imersão. Adentrá-lo passando pelo o Jundu e a Guanxuma da praia. Senti-lo de dentro. Fermentado. Lodoso. Complexo. Emaranhado. É uma experiência única. Convoca um corpo presente e sensibilizado. Mas para entrar no mangue há que se ter um guia. Jurandir Rosa da Silva, artista, artesão e pescador da Barra Seca, Ubatuba/SP, tem sido o meu nessas imersões que tenho feito desde o final de 2024. Um nativo caiçara, Jurandir cresceu e viveu dentro do mangue. Quando criança todo o sustento da família vinha do manguezal. Com a construção da Rio Santos (1971) facilitou a mobilidade dos moradores, permitindo outras formas de sobrevivência. Com a intenção de retribuir ao mangue tudo o que recebeu na infância, há cinco anos Jurandir tornou-se um incansável guardião no mangue da sua região, no qual realiza periodicamente a limpeza da praia e do manguezal, sempre seguida de uma palestra em que conta sua história e fala sobre o avanço do mar, que já o fez mudar seu rancho por duas vezes. A partir de um conhecimento corporificado fala do funcionamento do mangue e seu sistema de equilíbrio e como o lixo, que se acumula em suas raízes e lamaçal, prejudica a manutenção do emaranhado ecossistema. A minha indignação com a quantidade de resíduos plásticos encontrados nas ruas e praias da cidade de Ubatuba levou-me até Jurandir e seu rancho-museu-galeria, onde expõe todo fim de semana seus achados (bizarros) e suas artes feitas a partir das limpezas. Deste encontro surgiu o Projeto Amar o Mangue, contemplado pela Política Nacional Aldir Blanc/2024. Desde então, tenho aprendido com Jurandir e com o Mangue que precisamos diminuir consideravelmente o consumo, é preciso pisar leve para não afundar. Em tempos de catástrofes, crises e emergências climáticas, no qual grande parte da população entende a natureza como recurso e continua com a exploração extrativista, sobretudo no contexto brasileiro, que segue um projeto moderno de “civilização”, criando corpos insensíveis diante de violências diárias em prol do “progresso”, acreditamos (eu e Jurandir) na potência sensível do fazer artístico. Por isso um projeto de arte que mobiliza encontros de humanos e outros-mais-que-humanos. Para promover esses encontros, o projeto Amar o Mangue propõe ações imersivas de engajamentos com o manguezal, com a intenção de ressensibilizar nossos corpos e dos participantes. Entendendo que essa ressensibilização é um exercício constante e não uma conquista de um único dia, o projeto prevê várias ações de limpeza da praia e do manguezal, saídas de canoa, caminhadas dentro do mangue, oficinas, realização de performances e uma exposição de arte.


| FICHA TÉCNICA |

Título | Amar o Mangue
Proponente | Jurandir Rosa da Silva
Coordenação | Mariana Vilela
Projeto financiado pela Política Nacional Aldir Blanc/2024
Brasil, 2025


LEITÃO, Mariana Vilela; SILVA, Jurandir Rosa da. Projeto Amar o Mangue, há que se pisar leve para não afundar. ClimaCom – Manifesto das águas. [online], Campinas, ano 12, n. 28 jun. 2025. Available from: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/projeto-amar-o-mangue/

SEÇÃO ARTE | MANIFESTO DAS ÁGUAS | Ano 12, n. 28, 2025

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