Cartas ao rio. Escutas táticas | Laura Kemmer, Ana Luiza Nobre, Debora Pill, David Sperling
Título | Cartas ao rio. Escutas táticas
A peça sonora “Cartas ao rio. Escutas táticas” organizada por Laura Kemmer e co-produzida em colaboração com Debora Pill foi produzida a partir de sete cartas ao Rio Saracura em São Paulo, escritas coletivamente por um grupo internacional que reúne participantes de São Paulo, Berlim a Jakarta numa causa comum de “Lutas Ribeirinhas” (lutasribeirinhas.org), coordenado por Jamie Scott Baxter e Laura Kemmer. As cartas foram escritas numa oficina organizada por Ana Luiza Nobre e David Sperling, do projeto Atlas do Chão, realizada em 2023. Todas as cartas foram publicadas como constelação “Sara Cura” na página do projeto de contracartografias ecopolíticas-poéticas do atlasdochão.org. Para uma lista completa das cartas e autores, veja abaixo
O que une os “ribeirinhos urbanos” de Jacarta, Berlim e São Paulo é o desenvolvimento coletivos de táticas de luta para os rios e para as várzeas das suas respectivas cidades. Entre essas táticas, a “escuta” apresenta um modo de sensibilizar, mas também de des-colonizar, des-enterrar e de des-tampar as histórias e as memórias de comunidades ribeirinhas locais. Num exercício de solidariedade e de gerar táticas para formar novas alianças, as cartas ao rio Saracura, rio localizado no bairro Bixiga no coração de São Paulo, entendem a comunidade local como constituída por múltiplas espécies, seres visíveis e invisíveis, humanos e não humanos que convivem num território fortemente marcado pela presença negra e com vestígios também da presença indígena. As cartas foram escritas com o objetivo de mapear e fomentar práticas socioespaciais, saberes e fazeres locais, bem como vestígios de resistência que se contrapõem aos violentos processos de urbanização extensiva que vêm ameaçando a vitalidade histórica dessa região. Para saber mais, leia a introdução à constelação na página atlasdochão.org.
As cartas compiladas para esta peça sonora foram lidas por Lucio Teles (“Oxum vive”), Nina Mariano (“Fala, Saracura”), Vanessa Chacur Politano e por uma pessoa refugiada em Berlim que preferiu não se identificar (“Na memória vive um rio”, incl. trechos em árabe), Neide Antunes do Quilombo Caçandoca (“A amorinha do brejo também brotou”), Rosseline Tavares e Juarez Lopes da Silva (“Dois rios, quatro milhões de passos”, incl. trechos em Baniwa), Michel Zalis e Arianna Mattietti (“Seguimos aqui”, incl. trechos em Italiano), e Azri Pessoa (“What we don’t know”). A voz narradora é de Debora Pill.
A peça sonora foi ativada pela primeira vez em Berlim, em outubro de 2024, quando participantes do projeto “South Designs”, vindo de Colômbia, Brasil, Canadá, África do Sul, Gana, Marrocos, e Indonésia realizaram um passeio pelo canal Luisenstadt, um corpo de água canalizado e selado, um elemento de design que molda a paisagem urbana dos distritos de Kreuzberg e Mitte, e que arquiva histórias de colonialismo alemão, imperialismo e toxicidade, bem como histórias e presentes de resistência. Ao longo do trajeto, em pontos que arquivam histórias de ocupação, de movimento de refugiados, de pessoas e espécies viajantes, de ressurgimento elementar e resistência, os participantes foram convidados a compartilhar suas histórias e táticas de “como manter um rio vivo”.
Em dezembro de 2024, participamos da programação do Campus Antropoceno Latin America, em parceria com o Goethe Institut Rio de Janeiro. Idealizamos uma experiência sonora dentro do espaço exposição do Campus, em que convidamos os participantes para escutarem as Cartas ao Rio, passeando ao longo do Rio Carioca a fim de retraçar o rio e sua ecologia ribeirinha – mediante uma emergência audiovisual ativada pela instalação multimídia “bc.ORI/Entreáguas Sônicas e Afetos“ do artista Lucio Teles. Ao longo da experiência, os participantes ouviram cartas em um exercício de des-cobrir e re-sentir pontos que arquivam histórias de ocupação e de comunidade, e convidamos os participantes a compartilharem suas histórias e táticas de leitura de sedimentos e a se juntarem ao nosso esforço de construir solidariedades ribeirinhas.
Além das duas caminhadas, performamos leituras das cartas no Museu das Culturas Indígenas São Paulo durante o evento “Leituras de Sedimentos”, em Outubro do ano 2023, e durante o festival Planetary Confluences na Floating University Berlin, em Julho de 2024.
Esta peça sonora teve financiamento da “South Designs Initiative” (Swiss National Science Foundation) no âmbito do projeto “Desenhar com o Planeta. Conectando zonas ribeirinhas de luta“ (coord. Jamie Baxter e Laura Kemmer), do Goethe-Institut São Paulo, e da Cátedra Martius (DAAD-USP).
| FICHA TÉCNICA |
Idealização | Laura Kemmer e Debora Pill
Narração | Debora Pill
Roteiro e edição | Claudia Rocha
Desenho de som, mixagem e masterização | Dudu Tsuda
Tradução | Juarez Lopes da Silva (Baniwa-PT), Azri Pessoa (EN-PT), Laura Kemmer (DE-PT)
Coordenação da oficina “Sara Cura” | Ana Luiza Nobre e David Sperling Coordenação do projeto “Designing with the Planet. Connecting riparian zones of struggle in São Paulo, Jakarta and Berlin” | Jamie Scott Baxter e Laura Kemmer
Cartas (títulos originais) e autores |
“Oxum vive”, por Julia Sanches Pereira, Luis Gabriel Ferreira Da Silva, Mariana Parmanhani, Sileia Massa Alves e Teresa Huppertz
“Fala, Saracura!”, por Salve Saracura (Ж e Carla Lombardo), Jacinto Donizeti dos Santos, Joana Martins, Raphaël Maureau e Ute Lindenbeck
“Na memória vive um rio”, por Claudilene Pedrosa Caldas, Daniel Lavinas, Vanessa Chacur Politano, e Vitória Serafim
“A amorinha-do-brejo também brotou”, por Ana Carolina de Paula Bezerra, Neide Antunes de Sá, Solange Maria de Andrade Lima Lisboa, Victor Vaccari Machado
“2 rios e 4 milhões de passos”, por Alexandre Silveira, Gabriela Sad, Juarez Lopez, Martha Hitner, Rosseline Tavares
“Você caminho, eu aquático”, por Arianna Mattietti, Camila Alba, Julia Reis, Michel Zalis, Victor Stout
“What we don’t know”, por Endira Julianda, Gabriela López, Azri Pessoa e Maria Thereza Alves
KEMMER, Laura. NOBRE, Ana Luiza. PILL, Debora. SPERLING, David. Cartas ao Rio. Escutas Táticas. ClimaCom – Manifesto das águas. [online], Campinas, ano 12, n. 28. jun. 2025. Available from: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/cartas-ao-rio/
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