Residência artística “Corpo bioma: danças para desespecular imaginários” | Michele Carolina Silva

Título | Residência Artística “Corpo Bioma: danças para desespecular imaginários”

A Residência Artística “Corpo Bioma: danças para desespecular imaginários” concebida pela artista Michele Carolina e realizada pela Coletivo Ruínas aconteceu entre os meses de março a outubro de 2024 na cidade de São Paulo. O mote da Residência Artística foi a busca pela vida multiespecífica em ambiente urbano, considerando que temas como a destruição, o esgotamento, os limites, os pontos de não retorno tendem a provocar, dentre tantos impactos, uma ansiedade climática que pode conduzir à paralisia. Buscar a vida tem se apresentado como caminho para dançar, conversar, pensar, trocar perspectivas, referências e pontos de vista sobre o cultivo e a criação de possibilidades de vida digna para além da vida humana. Agir de modo a fomentar a dignidade e a raridade da vida dos vegetais, animais, minerais, seres encantados e a infinidade multiespecífica de existências que coabitam o planeta. Como nós, seres humanos da megalópole São Paulo, nos colocamos em composição com o meio em que vivemos, saindo de uma posição de centralidade, e aprendemos a coexistir com seres mais-que-humanos?

Trechos de “Banzeiro Òkòtó: Uma viagem à Amazônia centro do mundo” da escritora e jornalista Eliane Brum foram o solo fértil e comum proposto por Michele Carolina no início da Residência Artística, composta por nove artistas das linguagens da dança, música, audiovisual, fotografia, arquitetura, figurino e letras. Dividida em 05 momentos distintos, sendo: 1) Sobrevoo ao atual estado da pesquisa de cada artista, buscando alinhamentos e encontros de aspectos convergentes com o mote “a busca pela vida
multiespecífica em ambiente urbano”. Chegamos a três assuntos de interesse comum: a “água”, a “compostagem” e o que nomeamos por “seres rebeldes”; 2) Consistiu na divisão do grupo em três núcleos menores para a elaboração de ações performativas sobre cada um dos assuntos de interesse; 3) A realização das ações performativas em diferentes lugares de São Paulo e arredores. O núcleo da “compostagem” propôs uma ação na Composteira do Butantã, localizada na praça Lions Club no Jardim Bonfiglioli, e um percurso por outras três composteiras na Vila Indiana, todas localizadas na zona oeste de
São Paulo. O núcleo dos “seres rebeldes” propôs ação com as plantas que crescem no concreto no Minhocão (Elevado presidente João Goulart), e o núcleo da “água” propôs ação em 4 pontos do rio Tietê: na nascente na cidade de Salesópolis, em uma área agrícola na cidade de Biritiba Mirim, no Parque Ecológico do Tietê, na zona leste de São Paulo e em uma ponte que atravessa o rio na cidade de Osasco.

E aqui chegamos às águas. Passar um dia acompanhando o rio Tietê, ver amanhecer o dia em sua nascente cristalina, olhos de água brotando da terra, terra útero d’água, fio de água incessantemente corrente. Chegar no final da manhã ao Tietê largo e sinuoso, nadar e comer alface irrigado por suas águas. No fim da tarde encontrar o Tietê fétido, retificado, cercado por lixo e coberto por espumas brancas e à noite, observá-lo entre avenidas, pontes e viadutos, completamente cercado por concreto.


| FICHA TÉCNICA |

Concepção | Michele Carolina e Coletivo Ruínas
Coordenação artística e produção executiva | Michele Carolina
Artistas residentes
Dança | Luciana Belloli, Michele Carolina, Rúbia Braga e Vitória Savini
Música | Jovem Palerosi
Fotografia e arquitetura | Inês Bonduki
Figurino | Bibi Fragelli
Textos | Jane de Oliveira
Audiovisual | Gideoni Júnior
Assistente de produção | Raissa Bagano
Drone (Artista convidado) | Kauyta Stegemann

Projeto contemplado na 34ª edição do Edital de Fomento à Dança da cidade de São Paulo.
País de produção | Brasil
Ano | 2024

Doutoranda no Instituto de Artes da UNICAMP – Campinas – SP
michelecarolina.e@gmail.com


SILVA, Michele Carolina. Residência artística “Corpo bioma: danças para desespecular imaginários”. ClimaCom – Manifesto das águas. [online], Campinas, ano 12, n. 28. jun. 2025. Available from: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/iara-solo/

SEÇÃO ARTE | MANIFESTO DAS ÁGUAS | Ano 12, n. 28, 2025

ARQUIVO ARTE | TODAS EDIÇÕES ANTERIORES