IARA – solo para multidão de peixes | Marina Guzzo

Título | IARA – solo para multidão de peixes

IARA – solo para multidão de peixes é uma performance para áreas abertas. Criada a partir de uma residência artística e um projeto de convivência e dança com mulheres que vivem na região portuária de Santos-SP, o trabalho constrói espectros de figuras femininas, que aparecem e desaparecem com um tecido transparente. Ações de fazer, refazer, arrumar, carregar, correr e dançar se tornam eixo para um imaginário possível (ou impossível) de como seria uma figura mítica que vive no Antropoceno.

“O gesto do mergulho como princípio para toda ação. A profundeza como estado feminino. Imersão e pausa. Tempo de se esperar. E recomeçar. Fazer as águas todas dançarem. E encontrar caminhos para o que não tem lugar. Ser mulher, ser polvo. Encantar e ser encantada por uma multidão de peixes, para além do plástico e do terror.”

 


Sobre o projeto | IARA – solo para multidão de peixes é um projeto sobre mulheres, territórios vulneráveis (ou delicados),
encantamento e o Antropoceno.
Iara não é uma sereia. Iara é uma mulher que dança.
Mas tem sim a Iara, Uiara (do tupi y-îara, “senhora das águas”) ou, ainda, Mãe-d’água, sereia da mitologia Tupi-Guarani, que vive nos rios de águas doces.
No Brasil temos muitos personagens de uma mitologia folclórica profunda.
Todos conhecem ou já ouviram falar.
Alguns juram que já viram ou conhecem alguém que já viu: seres fantástico que vivem nas matas, nos rios, nos mares.
Iara, curupira, boitatá, saci, boto.
“Lendas”, que misturam histórias dos mistérios da natureza, da cultura indígena e da cultura africana, com pitadas trazidas pela colonização portuguesa.
Esses seres fantásticos, que fazem parte do imaginário popular, parecem viver num lugar onde a relação com a natureza é intensa e cotidiana.
Que mulheres fantásticas vamos imaginar no Antropoceno? Como elas resistirão/ existirão numa mitologia distópica? Que gestos elas farão em meio a natureza destruída? Como poderão dançar e cantar em meio à destruição? Como o Antropoceno, as mudanças climáticas afetam essa nosso imaginário? O que conseguimos imaginar a partir daqui, que não o terror e plástico?
Esse projeto de criação começou em 2018, a partir de uma residência num território vulnerável da cidade do litoral brasileiro (Santos, São Paulo, Brasil) e teve continuidade com uma imersão na Cité des Arts- Paris, em 2019.
Neste período, foi criado um grupo de dança para mulheres, um projeto de extensão da UNIFESP no Instituto Procomum, na região da Bacia do Mercado, uma área da Zona Portuária de Santos, que é o maior porto da América Latina.
Esses encontros trouxeram a dimensão das mulheres que vivem e convivem com o mar, com uma outra natureza.
Um mar sujo, sem vida, com cheiro ruim, com trânsito de barcos enormes, levando e trazendo containers coloridos com conteúdo misterioso. Também com uma paisagem distópica, onde pequenas barcas que levavam gente até o outro lado do canal do porto, um outro território, mais vulnerável ainda, serve de dormitório para as pessoas que trabalham em Santos.
Mulheres que diariamente, atravessam para limpar, cuidar, servir, amar e garantir a ordem de um certo mundo sem poesia. Um feminino exausto, triste e perdido.
A partir dessas perguntas e experiências e derivas por esse território e pelos encontros com as mulheres e suas histórias, foi criada uma ação performática de uma figura imaginária e fantástica. Uma partitura dramatúrgica foi criada para dançar e performar em espaços públicos ou não convencionais, tão cheios de acontecimentos, riscos e encontros inesperados.
Uma mulher encantada, uma sereia, uma “destemida Iara”.
Em pleno Antropoceno, essa sereia se perde, entra pelo canal do porto de Santos e vai parar na catraia (em Santos muitas ressacas com aumento do nível do mar). Ela encontra pessoas no território da Bacia do Mercado, pergunta onde fica o mar e como faz para sair dali. Vagando pelas ruas, dança e procura rotas de fuga para uma vida sem encantamento.


| FICHA TÉCNICA |

Pesquisa, direção e performance | Marina Guzzo
Performance sonora | Conrado Federici
Colaboração | Leticia Doretto, Camila Miranda, Landa Mendonça, Maira Pedroso, Isabel Lögren, Calixto Neto, João Simão, Dafne Michellepes, Marta Soares e Cau Fonseca, Fixxa, Marília Guarita, Kidauane Regina, Susana Barbosa, Mats Hjelm, Sheila Areas e Lia Damasceno.
Costureira | Maria Bezzerra
Máscara | Jamille Queiroz
Figurino | Marina Guzzo
Consultoria Figurino | Lia Damasceno
Fotografias | Gui Galebeck e Patricia Araujo
Produção | NID e Corpo Rastreado
Plataforma de pesquisa | Laboratório Corpo e Arte Unifesp
Residência | A Colaboradora 2018 – Instituto Procomum e Cité des Arts- Paris- 2019.
Apoio | Casa Liquida.
Agradecimentos | Raquel Guzzo, Camila Guzzo, Julia Feldens, Maira Pedroso, Ana Andrade, Instituto Procomum,
Sesc SP e Kidauane Regina.
Dedicado às mulheres que conheci e convivi na região da Bacia do Mercado em Santos.

 


Universidade Federal de São Paulo- UNIFESP- Campus Baixada Santista
marina.guzzo@unifesp.br


GUZZO, Marina. IARA – solo para multidão de peixes. ClimaCom – Manifesto das águas. [online], Campinas, ano 12, n. 28. jun. 2025. Available from: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/iara-solo/

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