Jose A. Marengo[1]
Introdução
De acordo com o observatório europeu Copernicus[3], o ano de 2024 foi o mais quente já registrado. Foi também o ano em que a temperatura média do planeta ultrapassou 1,5°C acima dos níveis pré-industriais (1850-1900), chegando a 1,6°C. Este fato é importante, porque 1,5°C é o limite inferior da faixa de referência pactuada no Acordo de Paris, em 2015, no qual os países se comprometeram a adotar a medidas necessárias para que a elevação da temperatura não ultrapasse os 2°C e se mantenha, preferencialmente, abaixo de 1,5°C. É um valor que muitos cientistas entendem como uma espécie de teto para impedir as piores consequências do aquecimento global, como o desaparecimento de países insulares. A marca não significa, no entanto, que o planeta já rompeu definitivamente a barreira de 1,5°C e as metas do Acordo. Para considerar o limite como definitivamente violado, é necessário que os termômetros permaneçam acima desse patamar por uma década, o que ainda não ocorreu. Ainda assim, é importante lembrar que os últimos dez anos, de 2015 a 2024, perfazem a década mais quente já registrada.
As altas temperaturas globais, juntamente com os níveis recordes globais de vapor de água na atmosfera em 2024, geraram ondas de calor sem precedentes, secas, incêndios, e chuvas intensas, causando significativos impactos materiais e levando miséria a milhões de pessoas. As mudanças climáticas contribuíram para a morte de pelo menos 3.700 pessoas no último ano e o deslocamento de milhões ao redor do mundo.
Segundo o World Weather Attribution[4], muitos eventos extremos que ocorreram no início de 2024 foram influenciados pelo El Niño; no entanto, a mudança climática teve um papel significativo em alimentar esses eventos. A queima de petróleo, gás e carvão é a causa primária do aquecimento e a principal razão pela qual o clima extremo está se tornando mais severo.
Temperatura
Na América Latina e no Caribe, 2024 foi o ano mais quente já registrado, com +0,95 oC acima do normal 1991-2020. O evento El Niño de 2024 foi associado a temperaturas mais altas do ar e déficits de precipitação nas regiões peruanas do Altiplano boliviano, do Pantanal e da Amazônia, bem como ao aumento das chuvas em partes do sudeste da América do Sul. Também prolongou uma seca pré-existente em grande parte da região central da América do Sul que, juntamente com temperaturas mais elevadas e ondas de calor, levou a níveis extremamente baixos dos rios na maior parte da região durante a primavera no hemisfério sul.
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[1] José Antonio Marengo Orsini é coordenador geral de pesquisa e desenvolvimento do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemadem), São Paulo, Brasil.