Metamorfoses do Antropoceno

Título | Metamorfoses do Antropoceno

Metamorfoses do Antropoceno é um projeto que busca pensar possíveis devires de uma Terra danificada, que operem na desconstrução de formas fixas de estar no mundo e instaurem florestas em espaços urbanos. O chamado é a estabelecer conexões invisíveis capazes de deslocar as relações com os seres mais que humanos para lugares em que a sustentação dessas existências sejam prioritárias. Os seres mais que humanos emergem como seres políticos, agentes de uma transformação que vai ao encontro de movimentos anticapitalistas, e que emerge de uma vontade de estabelecer relações que sejam capazes de combater o pensamento do crescimento a qualquer custo enquanto valor predominante. Sentimos que, para isso, é preciso levar em conta todos os seres, todos os modos de existir e todas as imaginações que possam perceber e fazer floresta. Ativar um estado de viver em coexistências heterogêneas, não hierárquicas e não binárias. Consideramos essas buscas fundamentais diante das mudanças climáticas, que se revelam como um sintoma das nefastas atividades humanas capitalizadas que consideram os viventes como meros recursos e propriedades e não como existências significativas. O convite é para olharmos o mundo a partir do encantamento, de uma vida que brota da cocriação com plantas, rios, montanhas, florestas, animais e gentes, a partir de perguntas que se sustentam porque são feitas para os seres que sabem o que é fazer mundo, estar no mundo em formas mais amigáveis e que respeitam a diversidade e todas as existências. Os artistas convidados enviaram imagens que serão apresentadas em dois formatos, com impressões das imagens em tamanho 100×100 cm, em PVC, para serem utilizados em praças e outros formatos em papel para serem utilizados em lambes que serão colados em espaços públicos. As ações serão realizadas em algumas cidades do estado de São Paulo e outras localidades, juntamente com ações de experimentações e conversas.

Curadoria | Susana Dias e Valéria Scornaienchi.

Produção | Larissa Bellini, Emanuely Miranda e Natan Rafael Neves da Silva.

Projeto | A exposição “Metamorfoses do Antropoceno” é uma ação do projeto “Perceber-fazer floresta – alianças entre artes, ciências e comunicações diante do Antropoceno” (Fapesp 2022/05981-9).

 

Obras | Títulos e autores

Capoeira para Todes, fotografias de Caio Oviedo e Nic Filmes e Jonas Morais.

Rasgos, de Fabíola Fonseca.

Tronco, de Fabíola Fonseca.

Fogo-fato, 2024, fotografia digital manipulada, 1x1m, de Hugo Fortes.

Demarcação, 2024, fotografia digital manipulada, 1x1m, de Hugo Fortes.

Seyro MorotĨ – a sabedoria de uma árvore, concepção e performance de Kellen Vilharva, fotografia de Zay M Pereira e grafismo em jaleco de Sol Terena.

Eflorescência, de Licida Vidal.

Estranhas brotações, de Licida Vidal

N120, série Área de Cultivo, 2022, pintura acrílica e óleo sobre tela de Lilian Maus.

N124B, série Área de Cultivo, 2022, pintura acrílica e vinílica sobre tela de Lilian Maus.

Canteiro de obra viva, 2024, Livro da coleção “Os pensadores, Descartes” e plantas cultivadas. Mariana Vilela, feijão vermelho, alpiste, painço e cosmos.

Vitaloceno, para uma cabeça vegetal, 2022, fotoperformance de Mariana Vilela.

Mistura#2, de Marina Guzzo, fotografias de Patrícia Araújo.

Metamorfoseando, de Patrícia Rebello.

Espécime mutante, de Patrícia Rebello.

Sem Título, 2024, desenho com lápis de cor aquarelável, têmpera aquarela sobre papel preto colour plus 240g, 24 cm x 21 cm, de Sylvia Sóglia.

Sem Título, 2024, desenho com lápis de cor aquarelável, têmpera aquarela sobre black water colour  papel- Van Gogh 360g, 40 cm x 29,5 cm, de Sylvia Sóglia

A vida sensível, de Valéria Scornaienchi.

 

Artistas | minibios

O Coletivo Capoeira para Todes (CTP) é um grito de liberdade de existências atemporais que hoje com voz ativa que encontram, se identificam e se movem em coletividade. Inspirando pessoas dissidentes que não se viam capazes de viver realidades com acessibilidades e poder em sociedade a se conectarem com a força de suas histórias e criar a partir dessa consciência e pessoas que possuem acessos (privilégios) sociais, informações que as permitem criar estratégias de práticas e movimentos de reparação histórico-social. Com objetivo de promover visibilidade, afeto e respeito para existências dissidentes através das sabedorias vindas da pesquisa de interseção Capoeira e Ballroom. A Capoeira ensina a retornar a Ancestralidade, honrá-la e aprender com os mais velhos a viver, criar e se relacionar em/com a sociedade. A Comunidade Ballroom narra a possibilidade futurista de Transcender o padrão binário de mundo, com o corpo de Pessoas Trans/Travestis sendo as maiores referências de subversão do Sistema colonial que sustenta processos das mais variadas formas de violências, sobretudo as minorias. O Capoeira para Todes é a manifestação desses entendimentos, através de Perfomance/Intervenções com Múltiplas Artes (CapoeiraVogue, Música ao vivo Canto, Instrumental , Acrobacias, Danças Africanas, Danças Afro-brasileiras e Atuação), comunica em Alta Qualidade de Perfomance o que não é esperado para esses corpes e existências, criando uma fenda nas mentes colonizadas, sendo o testemunho vivo e pulsante de novas possibilidades para pessoas dissidentes, somando no processo de Reorganização das Imagens presentes no Inconsciente Coletivo.

Fabíola Fonseca é bióloga com mestrado em ensino pela UFG, doutorado em Educação (UFU/ Harvard), pós-doutorado em artes pela UFC e em educação para sustentabilidade pela Unicamp; movimenta o perfil de instagram @liquenprojeto, no qual propõe cursos e conteúdos para pensarmos em novos modos de habitar o mundo e de prestar atenção, e ocupa o cargo de especialista em desenvolvimento científico no Museu do Amanhã. Tem se dedicado às pesquisas na interface entre biologia, arte e filosofia, tendo como cenário as mudanças climáticas. Gosta de ver a poesia da chuva, os desenhos que a lua faz no mar e acredita que todos os seres carregam consigo algo mágico que jamais poderá ser desvendado.

Hugo Fortes é Artista Visual, Curador, Designer e Professor Associado da Universidade de São Paulo. Como artista, já apresentou seu trabalho em mais de 15 países, em locais como George-Kolbe Museum Berlin, Ludwig Museum Koblenz Alemanha, Galerie Artcore Paris, Columbus University USA, Academia Real de Artes de Kopenhagen, Paço das Artes São Paulo, Brasil, Videobrasil, Centro Cultural Recoleta, Argentina, Assam State Museum India. De 2004 a 2006 viveu em Berlim, como bolsista do Serviço de Intercâmbio Acadêmico Alemão (DAAD), para realização de estágio doutoral. Em 2006 defendeu a tese “Poéticas Líquidas: a água na arte contemporânea”, que recebeu o Prêmio Nacional CAPES de Tese em Artes no Brasil. Em 2016 tornou-se livre-docente com a tese “Sobrevoos entre Homens, Animais, Tempos e Espaços: Pensamentos sobre Arte e Natureza”, na Universidade de São Paulo, onde atua como professor desde 2008. Já apresentou palestras no Max Planck Institut Firenze, Sprengel Museum Hannover, Universitá La Sapienza di Roma, University of Brighon UK, British Columbia University Canada, entre outras. Líder do grupo de pesquisa Imaginatur: Imagens da Natureza. Sua pesquisa como artista e como docente é voltada pelas relações entre arte e natureza, com destaque para questões relativas à paisagem, aos animais e à água.

Kellen Natalice Vilharva é indígena Guarani Kaiowa, bióloga com graduação pela Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (2017) e mestre em Biologia Geral/Bioprospecção pela Universidade Federal da Grande Dourados. Atualmente, é doutoranda em Clínica Médica na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), com foco em etnofarmacologia e medicina tradicional indígena. É membro do conselho Aty Guasu (assembléia do povo Guarani Kaiowa) e da Retomada Aty Jovem Guarani Kaiowa.

Lícida Vidal, 1984, é artista visual, vive e trabalha em Ubatuba-SP. Cursou Ciências Sociais (USP). Através de ações performáticas, fotografia, vídeo e instalações, sua pesquisa atravessa questões sobre gênero e natureza no cenário das emergências climáticas. Esse círculo por saberes subalternizados, experiências íntimas e pesquisas acadêmicas se traduzem nos seus trabalhos em uma procura de criar estratégias para devolver autonomia a corpos e territórios. A argila e a água, são as suas principais matérias que possuem uma carga simbólica dentro deste debate sobre interdependência, escala, territórios, diversidade e coexistência no processo de colapso da era do combustível fóssil. Integra o Coletivo Vozes Agudas, junto ao Ateliê397. Em 2020 realizou residência na Usina de Arte, (PE), em 2021 participou da exposição Dizer Não realizada pelo Ateliê 397, em 2022 da exposição Estamos Aqui no Sesc Pinheiros, em 2023, realizou a Residência na Usina Luis Maluf (2023), participou da exposição Zonas de Sombras da Pinacoteca de São Bernardo do Campo, e da Residência Respiro Rural em 2024.

Lilian Maus nasceu em Salvador, Bahia em 1983 e, atualmente, reside em Porto Alegre e Osório/RS. É artista visual e professora doutora do Departamento de Artes Visuais e do PPGAV, Instituto de Artes da UFRGS. Trabalha com o tema da Paisagem Cultural em uma produção arejada e multimídia que se materializa em pinturas, vídeos e instalações ancoradas em experiências de travessia pela memória do espaço. Há vinte anos vem exibindo seus trabalhos em território nacional e internacional, tendo participado de mostras e residências em vários países: Estados Unidos, Canadá, México, Chile, Uruguai, Japão, Portugal, Alemanha, Inglaterra, Noruega, Rússia, Espanha, Colômbia e Argentina. Suas obras fazem parte de acervos públicos do MARGS, MACRS, Pinacoteca Barão de Santo Ângelo (UFRGS), Pinacoteca Aldo Locatelli (Porto Alegre/RS), Fundação Vera Chaves Barcellos (Viamão/RS), Instituto Figueiredo Ferraz (Ribeirão Preto/SP). Ganhou prêmios da Secretaria de Cultura do Estado do RS, da Prefeitura de Porto Alegre, do MinC, da UFPE, da Funarte. Atuou como gestora do espaço artístico independente Atelier Subterrânea (Porto Alegre, 2006-2015).

Mariana Vilela é natural de Belo Horizonte, Minas Gerais. Vive e trabalha em Ubatuba/SP. Artista multimídia e pesquisadora é mestra em Divulgação científica e cultural pelo Labjor/Unicamp, com a dissertação: Corpo-linha-selvagem, um modo de fiar com uma terra viva. Tem desenvolvido sua pesquisa acadêmica e artística na interface entre artes e tecnologias ancestrais diante do Antropoceno. Interessa-se pelo que há entre-corpos e as relações multiespécies. Tem a linha como objeto simbólico e conceitual e nesta perspectiva tece conexões entre arte têxtil e arte contemporânea. Expressa-se através de performances, foto e vídeoperformances, instalações, objetos e escrita. Atualmente participa da Gomagrupa, uma coletiva de artistas mulheres, do grupo de pesquisa multiTÃO: prolifer-artes sub-vertendo ciências educações e comunicações (CNPq-Labjor-Unicamp) e faz parte da Rede Latino-americana de Divulgação Científica e Mudanças Climáticas. 

Artista e pesquisadora, Marina Guzzo concentra suas criações na interface do corpo e da paisagem, misturando dança, performance e circo ao tensionar os limites da subjetividade nas cidades e na natureza. Desde 2011 tem como centro de sua pesquisa a crise climática e o papel do artista na produção de imaginários para travessias de um mundo em ruínas no Antropoceno. Trabalha em parcerias com equipamentos de saúde, cultura e assistência social pensando a arte como ação política que tece uma rede interespecífica complexa de pessoas, instituições, objetos, plantas, animais, fungos e paisagem. Pós-doutora pelo Departamento de Artes Cênicas da ECA-USP e mestra e doutora em Psicologia Social pela PUC-SP. É professora associada da Unifesp no Campus Baixada Santista, pesquisadora do Laboratório Corpo e Arte no Instituto Saúde e Sociedade: https://cargocollective.com/marinaguzzo/Bio

Patricia Rebello é paulistana, artista visual, vive e trabalha em Piracicaba – SP. Formou-se em Publicidade e Propaganda na FAAP e em Comunicação Visual / Ilustração na Escola Panamericana de Arte, ambas em São Paulo. Por 15 anos trabalhou como designer gráfica, mas desde 2007 alguns anos após mudar-se de São Paulo, dedica-se às artes visuais. O universo poético da artista borra os limites entre arte e ciência, realidade e fantasia e entre sedução e estranhamento. Cria espécimes híbridas, originárias de um futuro distópico que ecoam seu interesse pela biologia, ficção e colecionismo. Em 2017 recebe o Prêmio Aquisição do 49ª Salão de Arte Contemporânea da Prefeitura de Piracicaba (SP) e, no mesmo ano, ganha o Concurso Garimpo (categoria Júri) da revista DASartes. Realiza individual no SESC Piracicaba – Intervenção Caminho da Águas (Projeto Entre Paredes) e na Universidade Metodista de Piracicaba-UNIMEP (Através da Lente). Expõe em São Paulo no Paço das Artes, no Espaço das Artes da Universidade de São Paulo-USP e na Casa da Luz. Em Piracicaba na Pinacoteca Municipal Miguel Dutra e Sesc. Em Campinas expõe no Museu da Cidade e na Galeria Fernandes Naday. Participa da Exposição Remetimentos_Outros selecionada na Convocatória de Ocupação da CAL – Casa da Cultura América Latina – UNB – Brasília, da II Mostra Latino-Americana de Arte e Educação Ambiental – Universidade Federal do Rio Grande, da Exposição Espaços Íntimos do edital Arte Londrina 8 (Casa de Cultura da UEL) e da Exposição All are Guests, Galerie Exit Art Contemporain – Boulogne Billancourt – França, da Exposição ” NATUR” na Galeria Holon, Wels, na Áustria, da Temporada de Projetos do MARP, da Arco Lisboa 2018, da 18º, 19º e 20º edição da SP-Arte, da Individual “Herbário do Amanhã” (2022), da coletiva “Um Terceiro Olhar” (2024), ambas na
Galeria Eduardo Fernandes e da coletiva “Quem conta a história”, curadoria Allan Yzumizawa, na Pinacoteca Municipal de Piracicaba.

Sol Terena é ativista, empreendedora e guardiã dos grafismos de seu povo, trabalha com pigmentação naturais. Urucum e jenipapo,compartilha suas experiências e visões de mundo. Sol é PCD, mulher indígena do povo Terena. Técnica em biblioteconomia, palestrante, empreendedora, idealizadora da marca Grafismo indígena e Vencedora do Prêmio Sim à igualdade racial 2023, do Instituto Identidades do Brasil.

Sylvia Sóglia mora e trabalha em São Paulo e em Santo Antônio do Pinhal. A investigação da linha sempre foi o material de seu interesse. A linha que traça caminhos, percorre espaços, expande fronteiras e que faz a artista perceber e sentir que seu corpo se funde com as paisagens que habitam diversos lugares visitados e criados por ela. São acontecimentos e entrelaçamentos de uma intimidade com o que é humano e não humano, sentindo-se como seria ser montanha, árvore, fungo, líquen, uma aranha, formiga, água, céu, etc. Nesses encontros  novos agenciamentos surgem em suas formas de sentir o mundo. Essas relações íntimas e implicadas mútuamente criam dinâmicas e tensões que vão compondo o corpo de suas obras, criando assim um repositório de memórias afetivas pessoais e ancestrais.

Valéria Scornaienchi é artista visual de Campinas-SP e se dedica à pesquisa e criação de modos de dar expressão à vida em movimento junto com outros seres, tais como galhos, folhas, pedras, rios, ventos e pássaros. Seu ateliê, o Serafina, é o espaço onde tece demoradamente suas experimentações, bem como estabelece várias possibilidades de trocas e parcerias. Valéria já participou de várias exposições individuais e coletivas. No início do próximo ano realizará a exposição “A vida sensível” no MuNa, Museu de Arte de Uberlândia.

Zay Marcondes Pereira  é um artista contemporâneo em Multimeios. Transita habilmente do design cenográfico à fotografia de natureza. Frequentou a escola Griffe SP de fotografia e cinema. Foi artista do atelier Aster SP em gravura e agentes gravadores. Foi artista do Atelier 1 da Unicamp. Graduado em Comunicação Social pela PUC Campinas e realizou cursos de extensão em Artes Cênicas pela Unicamp e de design de objetos e mobiliários na Itália. Foi designer da San Jacopo show em Florença, na Itália, em 1988 e da Primamateria Arquitetura e design ecológico até 2010. Desenvolveu projetos de efeitos especiais e cenografia para vários espetáculos de dança e teatro. É, essencialmente, um autodidata apaixonado pela arte em multimeios. Coringa por necessidade e apaixonado pelo desenvolvimento da arte, tornou-se um artista de livres conceitos e experiências constantes na fusão de várias linguagens e técnicas de arte.

 

 

 

 

 


 

SEÇÃO ARTE | DESVIOS DO “AMBIENTAL” | Ano 11, n. 27, 2024

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