Relatórios sobre o estado da biodiversidade no mundo, como o da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), demonstram que o ritmo de perda da biodiversidade teve uma aceleração vertiginosa nos últimos séculos. Baseados nesses números, pesquisadores dos EUA e do México publicaram recentemente um estudo que afirma que as espécies extintas nos últimos 100 anos levariam 10 mil anos para desaparecer sem a intervenção humana. Por causa disso, dentro e fora dos círculos científicos, já se fala que estaríamos atravessando uma “sexta extinção em massa” – com as regiões tropicais no epicentro da discussão, já que são as mais propensas à perda de biodiversidade resultante das mudanças climáticas.
Para estudar esse cenário, a sub-rede Biodiversidade e Ecossistemas, da Rede Clima, pesquisa as respostas de diferentes espécies às mudanças climáticas, sobretudo no que diz respeito à sua distribuição geográfica. Conforme os climas “migrarem” em decorrência do aquecimento global, espera-se que as espécies migrem com eles. “Como as espécies têm um clima específico no qual elas ocorrem, esperamos que aconteça o que chamamos de climate tracking, ou seja, as espécies devem seguir a distribuição dos climas que são favoráveis a elas”, conta Mariana Vale, professora do Departamento de Ecologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e coordenadora da sub-rede.
Entretanto, a bióloga lembra que há uma dificuldade para que aconteça esse climate tracking pois as espécies precisam “atravessar vastas áreas muito antropizadas, o que dificulta a dispersão para os locais onde ainda se mantém o clima propício a elas – e este é um grupo grande de estudos para nós”.
Para observar isso, os pesquisadores – coordenados por Mariana Vale e por Rafael Loyola, professor da Universidade Federal de Goiás (UFG) – utilizam-se de modelagens computacionais de distribuição de espécies, trabalhando com os cenários climáticos fornecidos pelos relatórios do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC). Assim, cruzam-se dados fornecidos pelo IPCC, modelos de circulação climática global brasileiro e internacionais com registros históricos de ocorrência das espécies.
Existem também, no âmbito da sub-rede, estudos sobre ecossistemas aquáticos. Os experimentos são feitos por Vinícius Farjalla, da UFRJ, em copos de bromélias, já que as bromélias-tanque acumulam água e abrigam, assim, dentro de seus copos, ecossistemas inteiros. “Naquele pequeno universo, há desde produtores primários até predadores de topo de cadeia”, conta Vale. Por meio de experimentos como este, em que são manipuladas a frequência e a quantidade de chuvas, tal qual se espera que aconteça em cenários de mudanças climáticas, “observa-se as respostas do ecossistema em termos de processos de produtividade primária dessas plantas e de desestruturação de cadeias tróficas, bem como respostas como a resistência e resiliência do ecossistema diante dos diferentes cenários de mudanças climáticas”, explica Vale.
[Esta matéria integra a série dedicada às pesquisas desenvolvidas pelas sub-redes da Rede Clima]